01/04/2019 - 10:23
Próspero no passado, o Iêmen, no canto sul da Península Arábica, já há um bom tempo está na lista das nações mais pobres do mundo. E a situação piorou: devastado há três anos por uma guerra civil com protagonistas estrangeiros – o governo local, apoiado pela Arábia Saudita, combate rebeldes houthis, auxiliados pelo Irã –, o país ostenta a mais grave crise humanitária atual. O conflito já fez pelo menos 10 mil vítimas, e 22 milhões dos cerca de 28 milhões de iemenitas sobrevivem graças à assistência de organizações não governamentais.
A crise de fome enfrentada pela população local está prestes a se tornar a maior do planeta nos últimos cem anos, alertou a ONU já em outubro do ano passado. Cerca de 13 milhões de habitantes estão ameaçados de carência alimentar, quadro vai continuar se agravando se os constantes bombardeios e ataques da coalizão liderada pelos sauditas (com apoio de Estados Unidos, Reino Unido e França) não forem interrompidos. Mas tão cedo isso não ocorrerá: os houthis dominam grande parte do país, incluindo a capital, Sana. As ações bélicas dos dois lados impedem que a assistência humanitária chegue aos necessitados.
A severidade e magnitude da fome e desnutrição são classificadas em uma escala mundial de cinco níveis. A mais severa é a chamada de “catástrofe”. Em2017, nenhum iemenita estava nesta situação, já 2018 fechou o ano com 250 mil pessoas sob risco de morte por falta de comida.
Segundo dados da ONU, pelo menos 50% das crianças iemenitas são raquíticas e o número das que apresentam desnutrição aguda grave cresceu 90% de 2015 para cá. A organização humanitária internacional Save the Children declarou em novembro que, desde o início da guerra civil, cerca de 85 mil crianças com menos de 5 anos morreram no país por fome ou moléstias. Em entrevista à rede BBC por ocasião do alerta da ONU, Lisa Grande, diretora de ajuda humanitária da organização, previu uma piora do problema nos três meses seguintes. E lamentou: “Muitos acreditavam ser inimaginável que em pleno século 21 veríamos uma crise de fome como na Etiópia e em partes da União Soviética – isso foi simplesmente inaceitável”.