28/11/2025 - 18:59
Quase 90 anos após a tragédia, presidente alemão reconhece responsabilidade histórica de seu país no bombardeio à cidade espanhola, considerado “precursor” dos ataques aéreos contra civis na 2ª Guerra Mundial.O presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier , se tornou o primeiro chefe de Estado alemão a visitar a cidade de Guernica , na Espanha, nesta sexta-feira (28/11), e reconhecer a “responsabilidade histórica” de seu país pela destruição causada durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939).
“Reconhecemos, e sentimos a obrigação de defender a paz, a democracia e nos opor à violência hoje”, disse Steinmeier durante uma visita à cidade no País Basco. Ele afirmou que o bombardeio de Guernica por aviões de caça alemães em 1937 foi um “crime brutal” que serviu de “alerta sobre como devemos nos opor a qualquer nacionalismo, ódio e violência, mas também de alerta de que devemos defender a paz, a liberdade e a democracia”.
Em 26 de abril de 1937, bombardeiros alemães da Legião Condor arrasaram a cidade no norte do país como parte do apoio do regime nazista ao General Francisco Franco juntamente com a Itália fascista .
Franco impôs uma ditadura brutal na Espanha que durou de 1939 até sua morte, em 1975. O regime franquista ordenou a execução de milhares de opositores e deixou mais de 100 mil desaparecidos.
“Precursor” dos bombardeios da 2ª Guerra
Cerca de 50 aeronaves lançaram 30 toneladas de explosivos sobre Guernica em ondas sucessivas, incluindo bombas incendiárias, antes que os aviões de caça Messerschmitt metralhassem os civis enquanto tentavam fugir. As estimativas do número de vítimas variam entre 300 e 1.500.
Guernica, considerada a primeira cidade a ser destruída por bombardeio aéreo, se tornou sinônimo do horror do sofrimento civil em tempos de guerra. O ataque aéreo é visto por historiadores como um precursor dos bombardeios em massa contra alvos civis durante a Segunda Guerra Mundial.
Steinmeier e a primeira-dama alemã, Elke Büdenbender, juntaram-se ao Rei Felipe 6º em uma cerimônia realizada em um cemitério de Guernica em memória das vítimas. O presidente alemão depositou uma coroa de flores em homenagem às vítimas, enquanto um sino de uma igreja que também foi bombardeada soou seis vezes.
Em seguida, os chefes de Estado visitaram o Museu da Paz da cidade, que conta a história da tragédia. Steinmeier e o Rei Felipe conversaram longamente com dois sobreviventes que tinham 6 anos na época do bombardeio.
“Feridas ainda abertas”
“Guernica é um dos lugares onde os horrores da guerra e a vulnerabilidade de pessoas inocentes ficaram indelevelmente gravados em nossa memória europeia”, disse Steinmeier a repórteres após a cerimônia. “Presto homenagem às vítimas e expresso minha solidariedade aos sobreviventes, suas famílias e a todos aqueles para quem as feridas daquela época ainda estão abertas e não cicatrizaram.”
Durante seu discurso em um jantar de Estado na noite desta quarta-feira, no início de sua visita oficial de três dias à Espanha, Steinmeier reconheceu que “os alemães cometeram crimes terríveis em Guernica.” O Rei Felipe agradeceu ao líder alemão por sua visita à cidade, que descreveu como um “gesto de grande significado simbólico e de reconciliação”.
A visita ocorre quase 30 anos depois de o ex-presidente Roman Herzog ter se tornado, em 1997, o primeiro líder alemão a reconhecer oficialmente o “envolvimento” do país no massacre e a pedir desculpas ao povo espanhol.
“A vocês, sobreviventes deste ataque, a vocês, testemunhas do horror sofrido, envio minha mensagem de lembrança, solidariedade e luto”, escreveu Herzog em um discurso lido em Guernica pelo embaixador da Alemanha.
Obra de Picasso imortalizou a tragédia
O ataque foi imortalizado pela obra-prima antiguerra do artista espanhol Pablo Picasso Guernica, que captura o horror do sofrimento de civis inocentes . Steinmeier e sua esposa puderam ver a pintura no Museu Reina Sofia, em Madrid, nesta quarta-feira.
O presidente da Ucrânia , Volodimir Zelenski , visitou a pintura na semana passada e comparou o massacre em Guernica ao sofrimento infligido pela invasão de seu país pela Rússia .
A Espanha relembrou seu passado autoritário em 20 de novembro, data que marcou o 50º aniversário da morte de Franco e o fim de sua ditadura de 36 anos.
rc (DPA, AFP)
