Políticos alemães apoiam proibir a entrada de Martin Sellner, figura-chave da extrema direita na Europa. Ele estaria por trás do plano de deportação de estrangeiros da Alemanha discutido em reunião secreta da AfD.As autoridades de segurança da Alemanha estão considerando proibir a entrada no país do austríaco Martin Sellner, figura-chave do extremismo de direita na Europa e um conhecido teórico da conspiração.

Ele estaria por trás de um plano para a deportação de milhões de estrangeiros da Alemanha, discutido durante uma reunião secreta realizada com políticos ultradireitistas e neonazistas alemães. O caso chocou o país e levou centenas de milhares às ruas em protesto.

Sellner, fundador do chamado “Movimento Identitário”, que prega a superioridade dos grupos étnicos europeus, pode ser banido da Alemanha se for considerado uma ameaça à estabilidade democrática alemã, segundo membros da Comissão de Assuntos Internos do Parlamento alemão.

A deputada Martina Renner, porta-voz do partido A Esquerda para o tema antifascismo e membro da comissão, afirmou que levantou nesta semana a questão sobre se o governo pretendia tomar medidas para banir a entrada de Sellner.

Segundo ela, representantes do Ministério do Interior alemão confirmaram diante da comissão que analisam as opções e estão em consulta com as agências de segurança alemãs, que podem por fim tomar tal decisão.

Apoio entre partidos

A proposta parece ter amplo apoio entre os partidos alemães. Outro membro da comissão, o deputado Philip Amthor, da União Democrata Cristã (CDU), o maior partido da oposição, endossou a moção.

“Em nossa democracia robusta, geralmente não deveríamos tolerar qualquer agitação contra a nossa ordem constitucional – especialmente por parte de extremistas estrangeiros como Martin Sellner”, afirmou Amthor em entrevista à agência de notícias DPA.

“A esse respeito, acredito que é correto e necessário que as autoridades de segurança examinem seriamente uma proibição de entrada contra Martin Sellner.”

O deputado conservador, contudo, pediu cautela para evitar que o austríaco acabe se apresentando como uma vítima. Os obstáculos legais para proibir a entrada na Alemanha são elevados, especialmente para os cidadãos da União Europeia, e Amthor pediu que estes sejam cuidadosamente examinados.

Comissário do governo faz pressão

Um comissário antirracismo do governo federal, Mehmet Daimaüler, se juntou aos apelos por um banimento, instando Berlim a reforçar as medidas como um todo a fim de permitir que proibições de entrada e de residência sejam aplicadas mais facilmente contra extremistas de direita como Sellner.

“Tendo em vista os ultrajantes planos de deportação de Sellner e de seu pessoal com ideias semelhantes, o Estado constitucional deve implementar todas as contramedidas legais”, disse Daimaüler ao jornal Tageszeitung nesta quarta-feira (24/01).

O comissário ainda enviou uma carta à ministra do Interior, Nancy Faeser, em que mencionou o aumento de uma “rede transnacional de extremistas de direita” e a “ameaça que representam para a segurança interna na Alemanha”.

O plano de deportação

Uma reunião secreta realizada por membros do partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) gerou indignação em todo o país quando veio à tona em 10 de janeiro. O encontro ocorreu em Potsdam em novembro e teria incluído ainda políticos da CDU e figuras de extrema direita.

O caso foi revelado primeiramente pelo site de jornalismo investigativo Correctiv, e a reunião foi depois confirmada pela AfD. A legenda, contudo, nega quaisquer planos de adotar tal proposta e afirma que não se tratava de um evento partidário.

A reportagem informou que, durante o encontro, o líder extremista Martin Sellner apresentou um plano para expulsar da Alemanha milhões de requerentes de refúgio e imigrantes, incluindo aqueles com cidadania alemã que não se integraram no país.

No encontro, discutiu-se a chamada “remigração”, um termo frequentemente usado nos círculos de extrema direita como um eufemismo para a expulsão de imigrantes e minorias, incluindo alemães naturalizados.

O caso chocou muitos na Alemanha, num momento em que a AfD está em alta nas pesquisas eleitorais antes de três grandes eleições regionais no Leste do país. Nos últimos dias, uma multidão saiu às ruas em várias cidades do país contra o extremismo de direita e sua retória anti-imigração.

Quem é Martin Sellner?

Considerado um dos principais influenciadores da extrema direita europeia, Martin Sellner é um visitante assíduo da Alemanha. Mais recentemente, ele se juntou aos protestos de agricultores alemães contra cortes em subsídios ao diesel agrícola, anunciados pelo governo federal.

Sellner chamou a atenção das autoridades pela primeira vez ainda adolescente, quando foi flagrado colando adesivos com suásticas em uma sinagoga. Ele se descreveu como um neonazista até 2011.

No ano seguinte, fundou o Movimento Identitário na Áustria. Embora tenha deixado oficialmente a liderança do grupo, ele continua sendo ativo nos bastidores, inclusive mobilizando apoio para o movimento e tentando influenciar a política na Alemanha, Áustria e outros lugares da região.

O grupo extremista acredita na superioridade dos grupos étnicos europeus. Entre as ideologias que promove estão o nacionalismo pan-europeu e a chamada “remigração”.

O Movimento Identitário chegou às manchetes em 2019, quando revelou-se que Sellner tinha contato com o autor dos ataques terroristas de Christchurch na Nova Zelândia, Brenton Tarrant. Este chegou a fazer uma doação de 1.500 euros à organização de Sellner. Desde então, as autoridades austríacas têm examinado a possibilidade de proibir o movimento.

Desde 2015, Sellner atua no Institute for State Policy, um think tank de extrema direita dirigido pelo editor alemão Götz Kubitschek que foi classificado como extremista de direita pelas autoridades do estado da Saxônia Anhalt, onde Kubitschek vive.

Em 2017, Sellner fretou um barco e tentou impedir que requerentes de refúgio atravessassem o Mediterrâneo.

O austríaco confirmou à imprensa alemã que participou da reunião secreta em Potsdam. Ele também confirmou sua intenção de usar o encontro para angariar apoio público às ideologias identitárias.

ek (AFP, DPA, ots)