Governo conservador diz que redirecionará recursos para os países de origem dos migrantes, “onde a necessidade é maior”. ONGs que promovem resgates dizem ter salvado 175 mil vidas em dez anos.A Alemanha decidiu cortar o apoio financeiro a instituições de caridade que promovem resgate de migrantes em risco de afogamento no Mar Mediterrâneo, afirmando que redirecionará os recursos para lidar com as condições nos países de origem que incentivam as pessoas a migrarem.

Há anos, os migrantes, impulsionados pelas guerras e pela pobreza, se arriscam nas perigosas travessias do Mediterrâneo para chegar aos países do sul da Europa na tentativa de alcançar um continente cada vez mais hostil à migração. Todos os anos, milhares de mortes ocorrem nessas jornadas, com o ano de 2024 tendo sido o mais letal para os migrantes em todo o mundo.

“A Alemanha está comprometida em ser humana e ajudará aonde as pessoas sofrem, mas não acho que seja função do Ministério do Exterior financiar esse tipo de resgate marítimo”, disse o Ministro alemão do Exteriores, Johann Wadephul, nesta quinta-feira (27/06).

“Precisamos ser ativos onde a necessidade é maior”, acrescentou, mencionando como exemplo a atual emergência humanitária no Sudão, país devastado pela guerra.

No governo anterior liderado pelos social-democratas, a Alemanha começou a pagar cerca de 2 milhões de euros (R$ 12,8 milhões) anualmente a organizações não governamentais que realizam resgates de barcos carregados de migrantes em dificuldades no mar.

Essa tem sido uma fonte fundamental de recursos para entidades como a Sea-Eye, da Alemanha, que afirmou que instituições humanitárias que realizam os resgates salvaram 175.000 vidas desde 2015, recebendo em torno de 10% de sua receita total de cerca de 3,2 milhões de euros do governo alemão.

“O apoio [do governo] possibilitou missões extras e salvou vidas de forma muito concreta”, disse Gorden Isler, presidente da Sea-Eye. “Agora, é possível que tenhamos que permanecer no porto, apesar das emergências.”

Potencial para agravar crise humanitária

O partido conservadores União Democrata Cristã (CDU) do chanceler federal, Friedrich Merz, venceu as eleições nacionais de fevereiro após uma campanha prometendo conter a migração irregular, que parte dos eleitores da maior economia da Europa consideram estar fora de controle.

Embora os números gerais estejam caindo há vários anos, muitos alemães culpam os temores relacionados à migração pela ascensão do partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), que se tornou a segunda maior força no Bundestag (Parlamento).

Muitos especialistas avaliam que os níveis de migração são impulsionados principalmente por emergências econômicas e humanitárias nos países de origem, com a indiferença oficial nos países de destino tendo pouco impacto para dissuadir os migrantes.

Mesmo assim, autoridades alemãs sugerem que os resgates marítimos apenas incentivam as pessoas a se arriscarem nas travessias.

O Partido Verde, da oposição, que controlava o Ministério do Exterior quando os subsídios foram introduzidos, criticou a medida.

“Isso agravará a crise humanitária e aprofundará o sofrimento humano”, disse a líder da bancada dos Verdes no Bundestag, Britta Hasselmann.

rc (Reuters, AFP)