Diante da retração da economia alemã, Partido Liberal Democrático (FDP), que controla Ministério das Finanças, quer abolir órgão para cooperação internacional e diminuir gastos em países em desenvolvimento.A Alemanha é o quarto país que proporcionalmente mais investe em projetos de ajuda humanitária em países em desenvolvimento, como parte de uma estratégia de influência global e prevenção de crises. Fica atrás nesse quesito apenas de Noruega, Luxemburgo e Suécia.

No ano passado, destinou quase 34 bilhões de euros (aproximadamente R$ 210 bilhões) a programas voltadados à promoção do desenvolvimento em lugares como Quênia, Etiópia, Peru e Brasil.

O Partido Liberal Democrático (FPD) e seu líder, o ministro das Finanças, Christian Lindner, estão de olho nessa cifra para resolver o rombo previsto no Orçamento de 2025, estimado entre 25 e 50 bilhões de euros.

Diante de uma economia em marcha lenta e uma arrecadação frustrante, Lindner quer manter o equilíbrio fiscal cortando, de preferência, gastos sociais. Para tanto, seu partido tem defendido o fim do Ministério da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento e a incorporação das suas funções pelo Ministério do Exterior.

O ministério sob fogo amigo foi criado em 1961 para coordenar os investimentos alemães em outros países. Atuou, por exemplo, na cooperação da Alemanha com o Fundo Amazônia, criado em 2008 para captar doações para investimentos em prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento na região brasileira.

Discussão sobre cortes de gastos

De acordo com a minuta do Orçamento de 2025, o governo do social-democrata Olaf Scholz planeja cortar a verba para cooperação com outros países em 940 milhões de euros (R$ 5,8 bilhões) no próximo ano.

Membros do Partido Social Democrata (SPD), de centro-esquerda, e do Partido Verde, as duas outras siglas da coalizão que governa o país, defendem a manutenção de investimentos por meio do aumento da dívida.

Svenja Schulze, ministra alemã de Cooperação e Desenvolvimento, diz não estar preocupada com um possível prejuízo à política de desenvolvimento alemã.

Schulze era, inclusive, ministra do Meio Ambiente quando anunciou, em 2019, a suspensão de repasses de cerca de 35 milhões de euros para o Fundo Amazônia, durante o governo de Jair Bolsonaro. Os recursos foram desbloqueados em 2022.

Em viagem oficial a Islamabad, capital do Paquistão, ela afirmou nesta quinta-feira (22/08) a jornalistas que, enquanto nação exportadora, a Alemanha depende de parcerias fortes e relacionamentos de longo prazo, “e conseguimos isso por meio da cooperação para o desenvolvimento”.

Segundo ela, as diretrizes da cooperação alemã para o desenvolvimento passam pelo combate à pobreza e o fortalecimento da democracia e dos direitos humanos.

“Que as crianças possam frequentar a escola em vez de trabalhar, que a economia progrida, o meio ambiente seja protegido e a proteção climática avance: todas essas coisas não são importantes apenas para os respectivos países, mas também para nós, na Alemanha.”

Críticas à atuação do ministério

No entanto, surgiram críticas reiteradas dentro da Alemanha em relação à política externa do governo e seus custos.

Membros da oposição afirmaram que a Alemanha estava contribuindo com 315 milhões de euros para um projeto de ciclovias em Lima, capital peruana, enquanto a Alemanha enfrenta problemas estruturais e orçamentários.

O Ministério da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento rebateu a denúncia e informou que o valor do projeto era de 44 milhões de euros, e que estava promovendo a proteção climática e a sustentabilidade.

É dentro desse contexto que políticos estão pedindo que a pasta seja abolida.

“Está em nosso programa de governo. Não é segredo – sempre foi uma exigência”, disse Knut Gerschau, do FDP. Ele faz parte da delegação que acompanha a ministra Schulze em sua viagem a fábricas têxteis paquistanesas.

Falando à DW, Gerschau ressaltou que nenhum outro país europeu tem um ministério para cooperação internacional, nem outras grandes nações industrializadas, como o Japão e os EUA. Ele argumenta que o fechamento do ministério aumentaria a eficiência do governo, eliminando trabalhos duplicados.

Titular da pasta, Schulze insiste que a representação dos interesses e valores alemães no contexto global requer pessoas com competência e um ministério à parte: “Vimos isso no Reino Unido. Quando eles aboliram seu próprio ministério, não estavam mais presentes no cenário internacional.”

A cooperação para o desenvolvimento e a ajuda humanitária são especialmente importantes em tempos de tensão, enfatiza Jürgen Kretz, membro dos Verdes no Parlamento. Ele também faz parte da comitiva de Schulze no Paquistão.

“Em uma situação global tensa, em que atores como a China e a Rússia estão nos enfrentando no jogo de poder internacional, é importante continuar as discussões com os países parceiros, permanecer em cooperação e não deixar o campo aberto para outros”, disse Kretz à DW.

Para ele, um ministério do desenvolvimento forte e independente é do interesse da Alemanha, “porque nos permite apoiar uma ordem mundial estável, que funcione bem e seja segura”.

Com informações de Katharina Kroll e Peter Hille.