17/04/2025 - 16:26
Belarus também não está na lista de convidados de evento no Parlamento por ocasião dos 80 anos do fim do conflito. Governo quer evitar que ocasião seja usada para fazer propaganda anti-Ucrânia.O Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, excluiu os embaixadores da Rússia e de Belarus da lista de convidados a uma solenidade no dia 8 de maio, quando se completam 80 anos do fim da Segunda Guerra na Europa.
A informação foi confirmada por uma porta-voz do Bundestag nesta quinta-feira (17/04), citando uma avaliação do governo federal alemão. Na véspera, o Ministério do Exterior já havia orientado estados, municípios e memoriais a não permitir a participação de representantes dos dois países em eventos comemorativos do fim do conflito.
A pasta alegou que o papel histórico de Moscou na derrota do nazismo deve ser “honrado”, mas que há um risco de que solenidades sejam “exploradas ou instrumentalizadas” para justificar a invasão da Ucrânia.
O episódio simboliza o desconforto na Alemanha sobre como abordar, dado o atual contexto, o papel da Rússia na libertação da Europa. O presidente russo Vladimir Putin tem usado o legado do país na Segunda Guerra para legitimar sua agressão contra a Ucrânia, sob o pretexto de “desnazificá-la”.
A porta-voz do ministério russo do Exterior, Maria Zakharova, disse que o gesto era um insulto por parte dos “herdeiros ideológicos e descendentes diretos” daqueles que assassinaram em nome de Adolf Hitler.
Já o embaixador russo Sergey Nechayev lamentou a decisão alemã. “As considerações da conjuntura política imediata não devem ter prioridade sobre as questões da memória e da reconciliação histórica entre os povos de nossos países”, declarou ao jornal russo pró-Kremlin Izvestia.
Representantes de outras embaixadas participarão da solenidade no plenário do Bundestag em comemoração do fim da guerra e da campanha da Alemanha nazista de violência e genocídio na Europa.
Um porta-voz da embaixada ucraniana em Berlim saudou a decisão do Bundestag de não convidar o embaixador russo. “Era a única decisão correta”, disse à Reuters.
Estão previstos para a solenidade um discurso do presidente alemão Frank-Walter Steinmeier e a leitura por jovens de relatos testemunhais sobre o fim da guerra.
Embaixador russo participou de evento em lembrança da Batalha das Colinas de Seelow
Nesta quarta-feira (16/04), o embaixador Nechayev compareceu a uma solenidade nas Colinas de Seelow, no estado de Brandemburgo.
O local, a poucos quilômetros do que hoje é a fronteira com a Polônia, foi palco em abril de 1945 de uma das maiores batalhas da Segunda Guerra em solo alemão. Ao menos 30 mil soldados do Exército Vermelho – formado por russos, ucranianos e bielorrussos, entre outras nacionalidades – pereceram nos combates, que deixou ainda outros 16 mil alemães e 2 mil poloneses mortos.
Políticos no estado do Leste alemão haviam criticado a orientação do Ministério Exterior de excluir representantes russos de eventos comemorativos da Segunda Guerra, argumentando que a postura desonra soldados soviéticos mortos no conflito.
Autoridades de Seelow afirmam que não convidaram autoridades russas, mas que também não barraram Nechayev, recebendo-o de forma educada, assim como o enviado bielorusso à Alemanha, Andrei Shuplyak.
O embaixador ucraniano Oleksii Makeiev reclamou da presença de Nechayev, referindo-se a ele como “representante de um regime criminoso que ataca meu país todos os dias com mísseis, bombas e drones”.
Segundo Makeiev, o dia 8 de maio é uma data para confrontar o passado e evitar a guerra, e não para justificar uma guerra negando a história.
O estado Brandemburgo é governado por uma coalizão entre os social-democratas do SPD, mesmo partido do atual chanceler Olaf Scholz, e membros da Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), sigla anti-imigração e pró-Rússia.
“É um ato diplomático – para dizer com cautela – não muito amigável em relação aos descendentes das pessoas enterradas aqui”, disse o líder da bancada da BSW, Niels-Olaf Lüders. “Querer proibir que eles visitem os túmulos de seus antepassados é absolutamente inaceitável.”
Sina Schönbrunn, do SPD, classificou a recomendação do governo alemão de “absurda”. “É claro que tudo pode ser explorado, mas para nós hoje deve ser, acima de tudo, sobre a lembrança dos mortos”, disse à rádio alemã rbb Inforadio.
ra/bl (Reuters, AFP, dpa)