Jamshid Sharmahd, um cidadão alemão-iraniano, havia sido condenado em 2023 por crime de “corrupção na Terra” pelo regime fundamentalista. Berlim condenou o assassinato e chamou de volta embaixador alemão em Teerã.O Irã executou na segunda-feira (28/10) o dissidente alemão-iraniano Jamshid Sharmahd, segundo informou a mídia estatal do país.

O engenheiro de software foi condenado à morte pelo Judiciário do regime fundamentalista do país em fevereiro de 2023 pela acusação de que teria envolvimento em um ataque a uma mesquita na cidade de Shiraz que matou 14 pessoas, em 2008. Países como Alemanha, Estados Unidos e grupos internacionais de direitos humanos consideraram o julgamento uma farsa.

A condenação formal de Sharmahd foi pelo crime iraniano de espalhar “corrupção na Terra”, uma tipificação vaga e genérica que o regime islâmico usa para uma série de supostos crimes, geralmente relacionados a valores religiosos.

O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, chamou de “escândalo” a execução de Sharmahd e afirmou que a resposta de Berlim será “nos termos mais fortes”.

“Jamshid Sharmahd nem sequer teve a oportunidade de se defender no tribunal contra as acusações feitas contra ele”, escreveu Scholz na rede social X. “O governo alemão tem apoiado reiteradamente e intensamente o Sr. Sharmahd. Minhas mais profundas condolências para sua família.”

O Ministério das Relações Exteriores alemão afirmou, em mensagem publicada no X, que o encarregado de negócios do Irã em Berlim foi convocado para ouvir “nosso forte protesto” contra a ação de Teerã e acrescentou que haverá “medidas adicionais”, sem entrar em detalhes.

Em Teerã, o embaixador alemão Markus Potzel “protestou nos termos mais fortes” contra o “assassinato” para o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi. A ministra das Relações Exteriores alemã, Annalena Baerbock, chamou Potzel de volta a Berlim.

Raptado e sentenciado por terrorismo

Sharmahd, 69 anos, nasceu no Irã, se mudou quando criança para a Alemanha e residia na Califórnia. Ele foi um dos muitos dissidentes iranianos vivendo no exterior que foram enganados ou sequestrados de volta ao Irã nos últimos anos.

Ele trabalhava como engenheiro de software e também atuava como militante de um grupo de oposição de iranianos no exterior. Ele foi sequestrado pelo regime iraniano quando estava em Dubai, em conexão para uma viagem a trabalho para Índia, segundo sua família. O Irã não deu detalhes de como foi a captura.

O anúncio da detenção de Sharmahd aconteceu na esteira do aumento das tensões entre Irã e os Estados Unidos com o colapso do acordo nuclear de Teerã com as potências mundiais, firmado em 2015.

Teerã acusou Sharmahd de ser o “líder do grupo terrorista Tondar, que dirigiu atos armados e terroristas no Irã a partir dos Estados Unidos”. O pouco conhecido grupo Tondar, o braço armado da “Assembleia do Reino do Irã”, tem sede na Califórnia e diz que busca restaurar a monarquia iraniana que foi derrubada pela revolução islâmica de 1979.

As autoridades iranianas disseram que ele havia “planejado 23 ataques terroristas”, dos quais “cinco foram bem-sucedidos”, incluindo o atentado a bomba de 2008 contra uma mesquita em Shiraz, que matou 14 pessoas e mais de 200 feridas.

Sua família defende que Sharmahd serviu apenas como porta-voz do grupo e não teve nada a ver com nenhum ataque no Irã.

O Irã também o acusou de estar em contato com “oficiais do FBI e da CIA” e de ter “tentado entrar em contato com agentes do Mossad israelense”.

A Anistia Internacional afirmou que Sharmahd foi forçado a confessar participação e que ele havia dito à sua família que havia sido torturado na detenção.

A Alemanha, a UE e outros países também pediram que a sentença de morte fosse revogada.

A filha de Sharmahd, Gazelle Sharmahd, liderou a luta para que ele fosse poupado da execução.

“Não acho que palavras possam mudar um regime terrorista”, disse Gazelle à DW logo após a condenação de seu pai em 2023. “Este é um regime que sequestra pessoas como meu pai de fora do Irã e as leva para lá. … Esse regime terrorista não responderá a nenhum tipo de conversa ou diplomacia. Já vimos isso, infelizmente.”

sf (AFP, AP, dpa, ots)