07/11/2025 - 6:35
Governo quer dianteira em corrida tecnológica global. Mas investimento não pode atender metas climáticas atuais, que incluem zerar emissões de efeito estufa em 20 anos.O governo da Alemanha aposta na construção de um reator de fusão nuclear como parte do seu plano de transição energética, com a eliminação gradual dos combustíveis fósseis. O gabinete do chanceler federal alemão, Friedrich Merz, destina 1,7 bilhão de euros (R$ 10 bilhões) para financiar o projeto.
Cientistas especializados na fusão nuclear consideram esta uma aposta estratégica e inteligente no longo prazo. O investimento nela “mantém a Alemanha na vanguarda da corrida tecnológica global e, junto com as fontes renováveis, é crucial para assegurar a soberania energética”, afirma Sarah Klein, pesquisadora do Instituto Fraunhofer de Tecnologia a Laser, em Aachen.
Enquanto os conservadores do partido de Merz, a União Democrata Cristã (CDU), são simpáticos à nova tecnologia, parte dos especialistas argumenta que mesmo um desenvolvimento bem-sucedido não seria veloz o bastante para que a Europa alcance suas metas para proteger o clima.
A Alemanha se comprometeu a zerar suas emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2045 e a eliminar o carvão até 2038. Críticos do plano de Merz, portanto, argumentam que os recursos públicos seriam mais bem empregados se destinados a ampliar projetos de energia renovável.
Como funciona a fusão nuclear?
Cientistas buscam há décadas dominar a fusão nuclear para gerar energia. O processo consiste em unir dois núcleos atômicos leves sob temperaturas e pressões extremamente altas para que se fundam e liberem energia.
É o mesmo processo básico que faz com que o hidrogênio do Sol se transforme em hélio, gerando luz solar e tornando a vida na Terra possível.
A fusão é o inverso do que ocorre nas usinas nucleares atuais – a fissão nuclear –, em que grandes átomos são divididos em uma reação em cadeia para liberar energia.
A Alemanha encerrou completamente o uso da energia obtida pela fissão nuclear em 2023, uma decisão impulsionada doze anos antes pelo acidente nuclear de Fukushima, no Japão.
“A fusão nuclear é uma tecnologia que pode nos ajudar a garantir nosso fornecimento de energia sem emissões de CO₂ a longo prazo e a permanecer competitivos como uma nação industrial”, afirma Sibylle Günter, diretora científica do Instituto Max Planck de Física de Plasma.
Ao contrário da fissão nuclear, a fusão não deixa resíduos radioativos. Outro benefício da fusão seria a sua capacidade de fornecer energia de forma contínua, ao contrário das energias eólica e solar, e de produzir combustíveis sintéticos, como o hidrogênio.
Corrida não é rápida o bastante
Em 2022, cientistas conseguiram pela primeira vez obter um ganho líquido de energia – ou seja, a energia liberada pela reação de fusão foi maior do que a usada para fazer os núcleos atômicos se fundirem. O experimento utilizou lasers de alta potência para alcançar o feito e levantou as esperanças dos seus entusiastas.
Estados Unidos, China, Japão e Reino Unido têm investido bilhões para acelerar o desenvolvimento da mesma tecnologia. Dezenas de startups também já entraram na disputa. Mas o prazo da corrida tecnológica permanece incerto.
“Prevejo que protótipos de fusão estarão na fase piloto conectados à rede dentro de uma década – e possivelmente antes disso”, disse Daniel Kammen, professor de energia da Universidade da Califórnia em Berkeley. Já Günter espera que as primeiras usinas de fusão sejam conectadas à rede em cerca de duas décadas.
Outros especialistas argumentam que levará mais tempo para que a fusão comercialmente viável se torne realidade.
“É verdade que a fusão comercial continua sendo uma perspectiva de longo prazo, com incertezas técnicas e econômicas significativas. Portanto, ela não pode substituir o rápido avanço das energias renováveis e do armazenamento de energia hoje,” pondera Klein.
O percentual do consumo energético da Alemanha coberto por fontes renováveis caiu de 57% no primeiro semestre de 2024 para 54% no primeiro semestre deste ano.
