07/11/2025 - 16:32
Após reunião com Lula, premiê Friedrich Merz anunciou aporte “significativo” ao Fundo Florestas para Sempre, lançado pelo Brasil. Promessa vaga frustrou governo brasileiro e ambientalistas.Pouco tempo após participar de uma reunião bilateral com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o chanceler federal alemão Friedrich Merz prometeu nesta sexta-feira (07/11) que a Alemanha contribuirá com um “valor significativo” para o Fundo Florestas para Sempre (TFFF), lançado como a principal aposta do governo brasileiro para a COP30.
Merz porém, não especificou um valor para a contribuição, o que frustrou as expectativas do Palácio do Planalto, que chegou a mandar uma delegação à Alemanha para discutir a proposta. A ausência de um anúncio mais concreto foi tomada por organizações como uma forma de não se comprometer de fato com a proposta, que pretende remunerar países que preservam suas florestas tropicais (leia mais abaixo).
“Contribuiremos de forma significativa para o sucesso desta iniciativa”, disse o chanceler federal alemão aos participantes da Cúpula de Líderes, que acontece em Belém, às vésperas das negociações da COP30.
“Nosso anfitrião Brasil aposta no princípio do ‘mutirão’, fazer juntos, e lá estamos nós, estou eu, está a Alemanha envolvida”, assegurou Merz em seu discurso. “Todos os países com capacidade econômica e altas emissões, e nós somos um deles, podem ser chamados a fazer sua parte.”
Merz ainda reafirmou o compromisso de seu governo para alcançar metas climáticas, mas defendeu que nações ricas do Sul e do Norte Global devem compartilhar a responsabilidade.
O fundo lançado por Lula na quinta-feira pretende reunir 25 bilhões de dólares (R$ 133 bilhões) em recursos públicos e outros 100 bilhões de dólares (R$ 533 bilhões) em aportes privados. O objetivo é distribuir o rendimento entre investidores e 70 países em desenvolvimento que abrigam florestas tropicais.
“Para alcançar nossas metas climáticas, a floresta tropical deve ser preservada enquanto mais financiamento do setor privado é mobilizado”, disse Merz.
Apesar de defender o modelo do TFFF, ele não quis dizer concretamente quanto a Alemanha aportará no fundo. Segundo o chanceler federal, o assunto ainda será discutido dentro da coalizão governo e com seu ministro de Finanças.
“Estamos em uma encruzilhada”, disse ele. “Nossa economia não é o problema; nossa economia é a chave para proteger ainda melhor o nosso clima. […] Estamos desenvolvendo novos setores econômicos e modelos de negócios”, continuou, defendendo que proteção climática e economia devem andar juntas.
Segundo ele, Berlim aposta “na inovação e na tecnologia” para combater o aquecimento global e apoiou outros países com cerca de 6 bilhões de euros (R$ 37 bilhões) em financiamento climático público em 2024. “A Alemanha é um país no qual se pode confiar”, concluiu.
O chanceler ainda defendeu a meta climática adotada pela União Europeia para 2040, menos rigorosa do que a originalmente proposta.
Fundo exige aportes maiores para ser viabilizado
O discurso de Merz frustrou a expectativa brasileira de alcançar com mais facilidade a meta de 10 bilhões de dólares aportados ao TFFF em seu primeiro ano. Até o momento, Brasil, Indonésia, Noruega, França e Portugal anunciaram aportes que ultrapassam metade deste objetivo.
De acordo com o plano, países que preservarem suas florestas receberiam 4 dólares (R$ 21) por hectare anualmente, enquanto aqueles que destruírem áreas florestadas pagariam 140 dólares (R$ 747) por hectare em penalidades, verificadas por monitoramento via satélite.
O fundo é considerado inovador por funcionar dentro da estrutura do Banco Mundial e não depender de doações, mas de investimentos com retornos prometidos.
Ambientalistas criticaram o fato de Merz não ter mencionado um valor concreto de financiamento. “Com sua promessa vaga ao fundo do clima para a Amazônia, Friedrich Merz deixa o anfitrião Brasil na mão”, declarou Martin Kaiser, diretor-executivo do Greenpeace na Alemanha.
Sabine Minninger, da organização alemã Brot für die Welt, criticou o fato de o chanceler ter deixado deliberadamente em aberto “se a Alemanha realmente cumprirá sua promessa de contribuir, neste ano e no futuro, com pelo menos seis bilhões de euros por ano” em ajuda climática para países em desenvolvimento.
Já a organização humanitária Oxfam declaoru que o corte do governo alemão na ajuda ao desenvolvimento também impacta negativamente o auxílio climático aos países mais pobres.
A chefe de clima da organização ambientalWWF na Alemanha, Viviane Raddatz, afirmou que em Belém não houve “um início bem-sucedido do novo governo alemão no cenário climático internacional”.
Lula pede transição verde
A cúpula de dois dias em Belém, com cerca de 50 chefes de Estado e de governo, se encerra nesta sexta-feira e antecede a COP30, que começa na segunda-feira (10/11) em Belém.
O presidente brasileiro abriu a cúpula na quinta-feira com o alerta de que a “janela de tempo para agir” contra o aquecimento global “está se fechando rapidamente”.
Nesta sexta-feira, Lula disse que o mundo não pode mais sustentar um modelo baseado no uso de combustíveis fósseis prejudiciais ao meio ambiente.
Lula, que defendeu a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, pediu que parte dos lucros da exploração de petróleo seja investida na transição para energia verde. As decisões tomadas agora sobre o tema energia determinarão o “êxito ou fracasso” da humanidade na luta contra a mudança climática, ressaltou.
gq/ra (ots)
