Tecnologia VitiVoltaic pode ajudar a enfrentar mudanças climáticas, protegendo as vinhas e produzindo energia elétrica.Você já ouviu falar em VitiVoltaic? É uma nova tecnologia que quer tornar a viticultura , ou seja, o cultivo de uvas para a fabricação de vinhos , mais preparada para as mudanças climáticas .

O termo vem do latim para videira, vitis vinífera, e do conceito de geração de energia solar , fotovoltaica. A nova tecnologia permite, ao mesmo tempo, produzir eletricidade e uvas para a fabricação de vinhos .

Os painéis fotovoltaicos são instalados em estruturas elevadas para que haja espaço para as videiras e para as máquinas agrícolas. A construção oferece às sensíveis videiras suporte e proteção contra granizo, chuvas fortes e queimaduras solares. Quando o sol brilha, os painéis solares semitransparentes projetam um padrão de xadrez no solo. Um sistema de rastreamento os orienta automaticamente para capturar cada raio de luz.

Projetos-piloto testam diferentes formas de aplicar essa tecnologia e seus custos. No estado alemão de Hesse, a Escola Superior do Vinho, Enologia e Economia do Vinho de Geisenheim (HGU), a Universidade Alemã do Vinho, pesquisa em uma instalação experimental como o Riesling branco (tipo de vinho mais popular da Alemanha) se desenvolve sob esses painéis fotovoltaicos.

“Na uva, até agora não conhecíamos o conceito de cultivo protegido”, enfatiza o professor Manfred Stoll, diretor do Instituto de Viticultura Geral e Ecológica da HGU.

As uvas não amadurecem em estufas nem sob plástico. A ideia de usar painéis fotovoltaicos também como proteção passiva contra granizo e chuvas fortes é bastante incomum.

O Riesling sofre com as mudanças climáticas. As videiras brotam mais cedo e ficam muito vulneráveis às geadas tardias. As uvas ficam mais tempo expostas ao sol, acumulando mais açúcar e menos acidez: isso altera o teor alcoólico e o sabor.

Atualmente, já existem duas safras do vinho Watt-Wein de Geisenheim. Este Riesling é mais leve e frutado — como antigamente.

Aquecimento contra a geada tardia

Também no que diz respeito ao microclima, a Universidade do Vinho já acumula muita experiência. A instalação experimental, que custou 350 mil euros — financiada por fundos da União Europeia (UE) e do governo estadual de Hesse — mede, com inúmeros sensores, a umidade do solo, a temperatura e a incidência de luz. Sob os painéis não houve danos por queimaduras solares nem por chuvas fortes, enquanto a área de referência ao lado foi fortemente afetada.

Ao longo das fileiras de videiras, serpenteiam fios de aquecimento e tubos para irrigação por gotejamento. Os fios de aquecimento se mostraram eficazes durante o período de geada em 2024. No final de abril, a temperatura caiu por três noites ligeiramente abaixo de zero. Os brotos já tinham 10 cm de comprimento, estavam em risco e foram aquecidos com eletricidade renovável armazenada. Normalmente, os viticultores queimam velas contra a geada tardia, explica Stoll. Isso exige muito trabalho e gera uma forte emissão de fumaça, prejudicando o meio ambiente.

A eletricidade produzida pela própria HGU também é usada para controlar a instalação e carregar veículos agrícolas, carros ou bicicletas elétricas, além de alimentar bombas e um robô autônomo. Esse robô corta a vegetação, cuida do solo, trabalha sob as videiras e aplica defensivos agrícolas. “Uma vinícola precisa de energia o ano todo para produção, armazenamento e logística”, detalha o professor.

O interesse pela tecnologia VitiVoltaic é grande. No entanto, o setor enfrenta mudanças nos hábitos de consumo , tarifas e um excesso de oferta no mercado global. Além disso, as colheitas em algumas regiões importantes têm sido ruins. Falta dinheiro para investimentos, embora a geração de energia possa se tornar uma segunda fonte de receita para as vinícolas.

O problema dos painéis em encostas

No ano passado, foi instalada em Geisenheim uma outra estrutura, bem menor e móvel, feita de filmes fotovoltaicos. Ela é encaixada nos postes já existentes do vinhedo, como uma espécie de toldo. Em caso de tempestade ou risco de granizo, a película se dobra rapidamente com a ajuda de um pequeno motor. A montagem é muito mais barata, mas a proteção e a geração de energia são menores.

A HGU está testando o que pode funcionar. “Definitivamente não podemos esperar mais tempo”, enfatiza Stoll.

O engenheiro e viticultor amador Christoph Vollmer usa painéis fotovoltaicos em suas videiras. Seu pequeno vinhedo em Oberkirch, no estado de Baden-Württemberg, tem uma inclinação extrema, com mais de 30% de declive, parcialmente em terraços. O manejo com máquinas agrícolas é difícil.

Vollmer é diretor-geral da Intech Clean Energy GmbH, uma empresa familiar especializada em Agri-PV (Agricultural Photovoltaics, em português: Agrovoltaica ou Fotovoltaica Agrícola). A Intech desenvolveu uma estrutura específica para terrenos inclinados: parte dos módulos de vidro é suspensa por cabos de aço. Vollmer está instalando essa solução primeiro em seu próprio vinhedo.

O jovem viticultor quer plantar dois hectares sob módulos solares com novas variedades robustas e resistentes a fungos e gerar cerca de 1,5 megawatt-hora por ano. Para a venda da energia, ele está negociando um contrato com a companhia municipal de energia de Oberkirch. Ele também pretende carregar uma máquina autônoma que lhe pouparia muito trabalho árduo na encosta.

Vinhedos abandonados

Instalar painéis fotovoltaicos em terrenos inclinados é muito mais difícil do que em áreas planas, mas, na visão de Vollmer, também muito mais interessante. E necessário, segundo ele. Antigamente, as colinas ensolaradas eram locais cobiçados, mas, com o aquecimento global, passou a ser possível também cultivar vinho nas planícies alemãs.

“Muitos vinhedos já foram abandonados porque ninguém quer mais cultivá-los”, afirma o engenheiro.

E Vollmer teme que esse número possa crescer, caso o salário mínimo para trabalhadores sazonais reduza a rentabilidade dos viticultores. No entanto, as encostas cobertas de vinhas fazem parte da paisagem cultural, são atração turística e importantes para a preservação da biodiversidade.

Os desafios: falta de conexões e burocracia lenta

“Com a VitiVoltaic, oferecemos ao agricultor a possibilidade de reduzir o trabalho manual, colher uvas mais saudáveis e alcançar rentabilidade. A eletricidade sempre tem valor, especialmente quando os painéis estão acoplados a um sistema de armazenamento”, enfatiza Vollmer. “Os viticultores sabem que precisam agir. Temos muitas consultas. Mas, muitas vezes, é a falta de conexão à rede que reduz o entusiasmo.”

O comprimento da linha elétrica que precisa ser instalada e as possibilidades de usar a energia no próprio local ou vendê-la diretamente a consumidores próximos são fatores decisivos para a viabilidade econômica. Os processos de licenciamento também podem demorar, pois a produção de energia altera o uso do solo. Apenas instalações fotovoltaicas próximas à sede da propriedade não precisam de autorização de construção: “Isso limita muito o mercado.”

A VitiVoltaic em Oberkirch é cofinanciada pelo programa de pesquisa estadual Viticultura 4.0 de Baden-Württemberg. Se uma instalação que custa várias centenas de milhares de euros vale a pena sem subsídios, depende da conexão à rede e da comercialização do vinho, explica Vollmer. Na visão dele, a solução mais sensata seria a união de vários produtores, já que as propriedades que cultivam uvas para vinho são pequenas.