28/08/2019 - 9:34
As tatuagens se popularizaram a tal ponto que, em alguns países, até 24% da população tem pelo menos uma no corpo. A prática está associada a reações adversas, atribuídas normalmente às tintas. Mas um estudo europeu, publicado ontem na revista “Particle and Fiber Toxicology”, mostrou que as agulhas também merecem atenção nesse sentido.
Cientistas franceses e alemães mostraram que partículas de cromo e níquel oriundas do uso de agulhas de tatuagem se encaminham para os gânglios linfáticos. Normalmente, essas agulhas contêm níquel (6%-8%) e cromo (15%-20%), que promovem uma alta taxa de sensibilização na população em geral e podem, portanto, desempenhar um papel nas alergias a tatuagens.
Dois anos atrás, a mesma equipe havia descoberto que os pigmentos e suas impurezas metálicas são levados para os nódulos linfáticos em uma nanoforma, onde podem ser encontrados anos após a colocação das tatuagens. Mas os cientistas não conseguiram explicar a presença nos gânglios linfáticos de ferro, cromo e níquel, que não faziam parte de cerca de 50 amostras de tinta que testaram.
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“Estávamos acompanhando nosso estudo anterior, tentando encontrar a ligação entre ferro, cromo e níquel e a coloração das tintas”, disse Ines Schreiver, coautora da pesquisa e cientista do Instituto Federal de Avaliação de Risco da Alemanha. “Depois de estudarmos várias amostras de tecidos humanos e encontrarmos componentes metálicos, percebemos que deveria haver algo mais. Também testamos cerca de 50 amostras de tinta sem encontrar tais partículas metálicas e nos certificamos de não ter contaminado as amostras durante a preparação da amostra. Então pensamos em testar a agulha, e esse foi o nosso momento ‘eureca’.”
Raios X
Para tanto, os cientistas foram ao Síncrotron Europeu (ESRF, na sigla em inglês), uma das fontes de raios X mais intensas do mundo. Os testes realizados ali mostraram que, quando a tinta contém dióxido de titânio (um pigmento branco frequentemente misturado em cores vivas, como verde, azul e vermelho), essa substância desgasta a agulha. O dióxido de titânio é muito abrasivo devido à sua alta densidade e dureza.
Os pesquisadores estudaram uma agulha antes e depois do processo de tatuagem usando microscopia eletrônica de varredura, que mostrou a abrasão. “É indubitável que as partículas de metal derivam da agulha de tatuagem como resultado da moagem mecânica pura”, diz Bernhard Hesse, coautor do estudo.
O tamanho das partículas encontradas nos gânglios linfáticos após originárias das tatuagens varia de 50 nanômetros a 2 micrômetros. As nanopartículas são mais perigosas do que partículas de pequeno tamanho devido à sua relação superfície-volume aumentada, o que, consequentemente, leva a uma liberação potencialmente maior de elementos tóxicos.
As nanopartículas também podem entrar diretamente nas células e são mais facilmente distribuídas no corpo. Como atenuante, porém, elas também podem ser mais facilmente excretadas do corpo.
“O fato de que todos os pigmentos e partículas de desgaste são depositados nos gânglios linfáticos exige atenção especial ao desenvolvimento de alergia”, explicou Schreiver. “Infelizmente, hoje, não podemos determinar o impacto exato na saúde humana e o possível desenvolvimento de alergia decorrente do desgaste da agulha de tatuagem. (…) São efeitos que só podem ser avaliados em estudos epidemiológicos de longo prazo que monitoram a saúde de milhares de pessoas ao longo de décadas.”