De janeiro ao fim do último ano, precisamente até 30 de dezembro de 2022, as áreas com alertas de desmatamento na Amazônia Legal atingiram um recorde histórico. Foram 10.267 km², o pior resultado anual desde o início da série histórica, que começou em 2015, de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira (06/01) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Até então, o recorde havia sido registrado em 2019, com 9.178 km² de área sob alerta. Os números do Inpe são baseados no sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter).

Somente em dezembro, o acumulado de alertas de desmatamento foi de 218,41 km², o que caracteriza o último mês do ano como o terceiro pior da série histórica, atrás somente dos meses de dezembro de 2017 e 2015, que tiveram, respectivamente, 288 km² e 266 km² devastados.

Os números de dezembro passado indicam um aumento de 150% no índice de desmatamento em comparação com o mesmo período de 2021, quando uma área de 87 km² foi atingida.

Um dos fatores responsáveis pelo recorde anual ocorreu devido ao início de 2022. O primeiro semestre do ano passado teve a maior taxa de alerta em sete anos de levantamentos, segundo informações do portal G1.

O período entre dezembro e março costuma ser chuvoso nos estados que compõem a Amazônia Legal e, portanto, tende a gerar menos desmatamento. Mas as taxas de 2022 nesse período podem ser comparadas com as da estação seca.

Em janeiro, por exemplo, o índice de área sob alerta de desmatamento foi de 430,44 km². Entre 2016 e 2021, a média para o mês foi de 162 km², o que caracteriza um aumento de 165% em 2022.

No segundo semestre, entre agosto e dezembro, os dados do Inpe apontam um acumulado de 4.793 km², outro recorde da série histórica para esse período específico.

A Amazônia Legal é um conceito criado na década de 1950 para promover uma agenda de desenvolvimento para a região. Sua delimitação não é baseada exclusivamente na vegetação, mas inclui conceitos geopolíticos. Por isso, além da Floresta Amazônica, há uma parte do Cerrado e do Pantanal em seu mapa.

Segundo dados atualizados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Amazônia Legal tem uma área de 5,2 milhões de km², o que corresponde a 59% do território brasileiro. Ela engloba os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão, onde vivem atualmente cerca de 28 milhões de pessoas.

Desafio para o novo governo

O ano de 2022 registrou uma sequência de recordes negativos também em relação a alertas de queimadas na Amazônia – uma consequência do aumento do desmatamento. Em setembro, por exemplo, antes mesmo do fim do mês, o número de queimadas já havia superado o índice registrado durante todo o ano de 2021.

Ainda em 2022, a Amazônia teve o dia com mais queimadas desde 30 de setembro de 2007: em 22 de agosto, foram registrados 3.358 focos, contando as 24 horas anteriores.

Para o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, os números devem seguir negativos em 2023: “O governo Bolsonaro acabou, mas sua herança ambiental nefasta ainda será sentida por um bom tempo”, afirmou.

O desafio, portanto, é grande para a ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva. Durante discurso de posse, na última quarta-feira, ela anunciou a implantação de uma secretaria extraordinária focada no controle e no combate ao desmatamento.

Na sua primeira passagem pelo mesmo ministério, entre 2003 e 2008, também no governo Lula, ela contribuiu para a diminuição de mais de 80% na taxa de desmatamento da Amazônia Legal entre os anos de 2004 e 2012.

gb (ots)