02/12/2022 - 6:57
A exposição à poluição do ar relacionada ao tráfego está associada a uma maior probabilidade de ter várias condições de saúde física e mental de longo prazo, de acordo com um novo estudo com mais de 364 mil pessoas na Inglaterra.
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Liderado por pesquisadores do Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência (IoPPN) do King’s College London (Reino Unido), esse é o maior estudo do mundo dedicado a examinar se a exposição à poluição do ar está ligada à ocorrência de múltiplas condições de saúde de longo prazo.
A multimorbidade é definida como a presença de duas ou mais condições de saúde física ou mental e afeta 27% dos adultos na atenção primária do Reino Unido. Aumenta o uso de serviços de saúde e os custos dos cuidados primários e secundários, mas sua associação com a poluição do ar não havia sido estudada no Reino Unido até agora.
O estudo, publicado na revista Frontiers in Public Health, mostrou que altos níveis de poluição do ar relacionada ao tráfego – material particulado fino 2.5 (PM2.5) e dióxido de nitrogênio (NO2) – foram associados a um risco aumentado de ter pelo menos duas condições de saúde de longo prazo. As associações mais fortes foram observadas para condições neurológicas, respiratórias, cardiovasculares e de saúde mental co-ocorrentes, como depressão e ansiedade.
Qualidade de vida menor
“Pessoas com mais de uma condição de saúde de longo prazo têm menor qualidade de vida e maior dependência do sistema de saúde”, disse a drª Amy Ronaldson, pesquisadora associada do IoPPN e primeira autora do estudo. “Nossa (…) pesquisa indicou que as pessoas que vivem em áreas de maior poluição do ar relacionada ao tráfego correm maior risco de ter múltiplas condições de saúde. O estudo não prova que a poluição do ar cause multimorbidade, mas justifica mais pesquisas nesta área. Pode ser que medidas simples para reduzir os níveis de tráfego possam potencialmente melhorar vidas e diminuir a pressão sobre nossos sistemas de saúde.”
Os pesquisadores analisaram dados do UK Biobank – um banco de dados biomédico em larga escala e recursos de pesquisa contendo informações genéticas, de estilo de vida e saúde anônimas de meio milhão de participantes do Reino Unido com idade entre 40 e 69 anos. Os participantes foram avaliados para 36 condições crônicas de saúde física e cinco mentais. A multimorbidade foi definida como a presença de duas ou mais dessas condições.
Os dados de saúde física e mental do UK Biobank em 2010 foram relacionados com a concentração estimada de poluição do ar no endereço residencial dos participantes.
Riscos aumentados
O estudo constatou que os participantes expostos a concentrações mais altas (acima de 10µg/m3) de material particulado fino tiveram um risco 21% maior de duas ou mais condições concomitantes em comparação com aqueles expostos a concentrações abaixo de 10µg/m3.
Para os participantes expostos acima de 30µg/m3de NO2, a pesquisa mostrou um aumento de 20% no risco de ter duas ou mais condições concomitantes em comparação com os participantes que foram expostos a concentrações de NO2 abaixo de 20µg/m3.
Entre aqueles com múltiplas condições, o aumento da exposição tanto ao PM2.5 quanto ao NO2 foi associado a uma maior gravidade das condições concomitantes.
Necessidade de novas pesquisas
O dr. Ioannis Bakolis, lente do IoPPN e autor sênior do estudo, disse: “Ainda não se compreende totalmente como a poluição do ar afeta vários órgãos e sistemas ao mesmo tempo, mas há algumas evidências de que mecanismos como a inflamação, o estresse oxidativo e a ativação imunológica podem ser desencadeados por partículas de ar, que podem causar danos ao cérebro, coração, sangue, pulmões e intestino”.
Bakolis prosseguiu: “Nosso estudo sugere que pode ser por meio de mecanismos compartilhados que a poluição do ar afeta negativamente vários sistemas corporais e aumenta a probabilidade de as pessoas desenvolverem várias condições de saúde de longo prazo. Mais pesquisas são necessárias para entender como a poluição do ar afeta os diferentes sistemas corporais, mas pode ser que o combate à poluição do ar possa ajudar a prevenir e aliviar o impacto debilitante de múltiplas condições de saúde em longo prazo”.
Os pesquisadores identificaram vários padrões nas associações: as ligações mais fortes foram principalmente entre condições relacionadas ao sistema respiratório (asma, doença pulmonar obstrutiva crônica ), bem como ao sistema cardiovascular (fibrilação atrial, doença cardíaca coronária, insuficiência cardíaca), mas também a doenças neurológicas e condições mentais comuns (derrame, abuso de substâncias, depressão, ansiedade).