01/12/2009 - 0:00
Características do hinduísmo, religião que abriga um vasto panteão de deuses, como Ganesha (acima) e Shiva (abaixo), estão cada vez mais presentes no dia a dia dos norte-americanos. Indícios disso são os números crescentes de pessoas que se dizem reencarnacionistas ou que pretendem ser cremadas.
A América não é um país cristão”, afirma a jornalista Lisa Miller em artigo na revista Newsweek de 24 de agosto. Ela explica que, claro, os Estados Unidos são um país fundado por cristãos e que, de acordo com pesquisa feita em 2008, 76% dos norte-americanos continuam a se identificar como cristãos (embora essa seja a menor porcentagem de cristãos em toda a história dos EUA). Explica também que seu país, por outro lado, não é hinduísta nem muçulmano, judeu ou animista, embora haja pouco mais de um milhão de hindus residindo nos EUA, uma pequena fração do um bilhão de hinduístas que existem sobre a Terra. “Apesar disso, as pesquisas mais recentes indicam que, pelo menos conceitualmente, nós, norte-americanos, estamos cada vez mais nos parecendo aos hindus, e cada vez menos aos cristãos tradicionais, no sentido de como pensamos a respeito de Deus, de nós mesmos, do nosso próximo, da eternidade.”
Lisa vai fundo em sua assertiva. O Rig Veda, a mais antiga escritura hindu, diz: “A verdade é una, mas os sábios a explicam de muitas formas.” Um hindu acredita que existem muitos caminhos que levam a Deus. Jesus é um deles, o Alcorão é outro, a prática da ioga, um terceiro. Nenhum é melhor do que o outro, todos são equivalentes. Mas o cristão tradicional conservador não aprendeu a pensar desse modo. Ele aprende na escola dominical que sua religião é a verdadeira e as outras são falsas. Jesus disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém pode chegar ao Pai a não ser por mim.” A Igreja Católica faz o refrão e afirma: “Fora da Igreja não há salvação.”
“Os norte-americanos já não aceitam isso”, opina Lisa Miller. “De acordo com uma pesquisa feita em 2008, 65% de nós acreditam que ‘várias religiões são capazes de conduzir à vida eterna’ – inclusive aquela praticada pelos 37% de brancos evangélicos, o grupo mais inclinado a achar que a salvação pertence só a eles.”
O número de pessoas que buscam a verdade espiritual fora da Igreja é crescente. Um total de 30% dos norteamericanos hoje se autodenominam “espirituais, não religiosos”; esse número era de 24% em 2005. Stephen Prothero, professor de religião na Universidade de Boston, é um dos que há tempos apontam a propensão do norte-americano para assumir uma “postura religiosa de cafeteria”. Para ele, os norte-americanos não estão na verdade escolhendo entre as diferentes religiões em oferta, porque “elas são todas iguais”. Prothero observa: “Não se trata de nenhuma ortodoxia, trata-se apenas de verificar aquilo que funciona para você. Se praticar ioga funciona, ótimo. Se ir à missa católica funciona, ótimo. Se ir à missa, praticar ioga e acrescentar uma pitada de meditação budista funciona, melhor ainda.”
Na tentativa de entender o significado dessa tendência, pesquisas ainda mais recentes tratam do que acontece quando a pessoa morre. Tradicionalmente, cristãos acreditam que seus corpos e almas são sagrados, que juntos eles compõem o “eu” e que, no final dos tempos, serão definitivamente reunidos na “ressurreição”. Em outras palavras, você necessita de ambos, e necessita de ambos para sempre. Hindus não pensam assim. Na morte, o corpo queima numa pira, enquanto o espírito – onde reside a identidade – escapa. Na reencarnação, ideia central do hinduísmo, os “eus” voltam à Terra muitas e muitas vezes em diferentes corpos. Esse é um modo de pensar que cada vez mais faz os norte-americanos se parecerem hindus: 24% deles afirmam acreditar na reencarnação, de acordo com uma pesquisa de 2008 da empresa Harris. “Tão agnósticos nos tornamos a respeito do destino último de nossos corpos que os estamos queimando – como os hindus – após a morte”, comenta Lisa, ao informar que, hoje, mais de um terço dos norte-americanos escolhem a cremação, de acordo com a Associação de Cremação da América do Norte, enquanto essa porcentagem era de apenas 6% em 1975.
Equipe Planeta