Numa escavação realizada em junho de 2020 na província de Shanxi (norte da China), trabalhadores encontraram os restos mortais de um casal abraçado em um “enlace de amor eterno”. Os esqueletos foram datados de 1.500 anos atrás. O estudo sobre a descoberta foi publicado na revista International Journal of Osteoarchaeology.

Segundo arqueólogos de instituições da China e dos Estados Unidos, autores do artigo, o homem teria entre 29 e 35 anos no momento da morte. Ele media cerca de 1,63 metro de altura e apresentava “vários sinais de trauma”, entre eles um braço quebrado, ausência de um dedo anular na mão direita e problemas nos pés. A mulher, com idade entre 35 e 40 anos, tinha cerca de 1,5 metro de altura e aparentava ser bastante saudável, embora apresentasse problemas dentários. Ela portava um anel na mão esquerda.

Ainda não se sabe ao certo como o casal foi enterrado na mesma tumba. A hipótese mais provável é que a mulher tenha se suicidado para poder ser enterrada com seu amado.

Concepção artística da posição em que o casal foi sepultado. Crédito: Anqi Wang/Wiley Library Online
Concepção diferente do amor

O arranjo de sepultamento, denominado M831, é o primeiro desse tipo descoberto na China. Ele pode indicar que a concepção de amor mudou no país durante a Dinastia Wei do Norte (86 d.C.-535 d.C.). “A liberdade de expressão e a busca ativa do amor na cultura chinesa se tornaram proeminentes durante o primeiro milênio”, escreveram os pesquisadores no artigo. “Essa prática funerária pode ter sido influenciada pelos costumes de regiões ocidentais e além.”

Os cientistas prosseguiram: “Esta descoberta é uma demonstração única da emoção humana de amor em um enterro, oferecendo um raro vislumbre das visões das pessoas sobre o amor, a vida, a morte e a vida após a morte no norte da China, durante um período de intenso intercâmbio cultural e étnico. (…) A mensagem era clara: marido e mulher jaziam juntos, abraçados um ao outro por amor eterno durante a vida após a morte.”

Enterros conjuntos tornaram-se populares durante a era Wei em meados do primeiro século depois de Cristo. Estudos sobre esse período sugerem que “cometer suicídio por amor” não era apenas aceito na sociedade, mas também promovido. Os que optavam por esse fim recorriam a meios como envenenamento, afogamento, enforcamento, pular de lugares altos, recusa de comida e recusa de tratamento médico durante doenças.

O anel encontrado na mão da mulher: Crédito: Qian Wang/Wiley Library Online
Posições intencionais

Os restos mortais da mulher foram virados “para a direita em uma posição para ser abraçada”. Já o homem estava voltado para a esquerda “e curvado para a direita, com dois braços estendidos para a esquerda em uma postura de abraço”.

Dois outros casais encontrados enterrados no mesmo cemitério “mostravam sinais de dois corpos posicionados intencionalmente um de frente para o outro”. Eles, porém, não estavam tão bem preservados quanto o casal do sepultamento M831.

A descoberta lembra outra feita três anos atrás, de restos de um casal desenterrado no Cazaquistão. Seus ossos foram encontrados lado a lado em uma antiga sepultura ao lado de pontas de lanças de metal, pedras preciosas e cerâmica na região de Karaganda.