Presidente foi declarado “persona non grata” pelo governo israelense após comparar mortes de palestinos na Faixa de Gaza ao Holocausto.O assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, criticou nesta segunda-feira (19/02) o governo de Israel por ter classificado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de persona non grata após o petista equiparar as mortes de palestinos em Gaza ao Holocausto, afirmando que o gesto só aumenta o isolamento de Tel Aviv perante a comunidade internacional.

“Isso é coisa absurda. Só aumenta o isolamento de Israel. Lula é procurado no mundo inteiro, e no momento quem é [persona] non grata é Israel”, disse Amorim ao portal de notícias G1.

À emissora CNN, Amorim declarou ainda que Lula não vai se desculpar pela comparação. “Sempre tratamos [Israel] de maneira muito respeitosa e defendemos a solução de dois Estados, mas não tem nada do que se desculpar.”

Referência ao Holocausto

Durante uma visita de Estado a Etiópia, neste fim de semana, Lula, indagado sobre a decisão de alguns países de suspender repasses financeiros à Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) após alguns funcionários terem sido acusados de envolvimento nos atos terroristas de 7 de outubro, disse que “o que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando [Adolf] Hitler resolveu matar os judeus”.

Ele classificou de “genocídio” e “chacina” a reação de Israel aos ataques terroristas do grupo extremista Hamas de 7 de outubro de 2023, e comparou a operação israelense ao extermínio sistemático de 6 milhões de judeus pelos nazistas chefiados por Hitler, entre 1933 e 1945.

Lula deu as declarações durante entrevista em Adis Abeba, na Etiópia, onde participou nos últimos dias da 37ª Cúpula da União Africana e de reuniões bilaterais com chefes de Estado do continente. Antes, ele havia estado com o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh.

A reação israelense

O governo israelense reagiu classificando Lula de persona non grata – o que, na diplomacia, sinaliza que Lula não é bem vindo em Israel –, com o ministro das Relações Exteriores Israel Katz fazendo uma reprimenda ao embaixador brasileiro, Frederico Meyer.

Chefe do Itamaraty, Mauro Vieira, por sua vez, convocou o embaixador israelense no Brasil, Daniel Zonshine, para dar explicações.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que as palavras de Lula eram “vergonhosas e graves” e uma banalização do Holocausto, acusando-o de “tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender”.

“Netanyahu devia se preocupar com a rejeição que desperta no mundo e em seu próprio país, antes de tentar repreender quem denuncia sua política de extermínio do povo palestino. Ele não tem autoridade moral nem política para apontar o dedo para ninguém”, disse ao jornal Folha de S.Paulo a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.

Em nota, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) repudiou o que chamou de declarações “infundadas” de Lula, explicitando: “Os nazistas exterminaram 6 milhões de judeus indefesos na Europa somente por serem judeus. Já Israel está se defendendo de um grupo terrorista que invadiu o país, matou mais de mil pessoas, promoveu estupros em massa, queimou pessoas vivas e defende em sua carta de fundação a eliminação do Estado judeu.”

Segundo o G1, fontes próximas de Lula afirmaram, em caráter reservado, que o presidente agiu corretamente ao condenar a ação das forças israelenses em Gaza, mas que a comparação foi um erro e é descabida.

ra/as (AP, ots)