Enquanto as nações se reuniram recentemente em Montreal, no Canadá, para lidar com uma perda sem precedentes de biodiversidade – mais de um milhão de espécies estão ameaçadas de extinção –, um novo estudo publicado na revista The Royal Society Philosophical Transactions  of the Royal Society B aponta para o papel único e vital os animais desempenham no reflorestamento.

Os esforços para restaurar as florestas geralmente se concentram nas árvores, mas o estudo descobriu que os animais desempenham um papel fundamental na recuperação de espécies de árvores, carregando uma grande variedade de sementes para áreas previamente desmatadas.

A informação ganha ainda mais relevância porque as populações de vida selvagem do mundo diminuíram quase 70% nos últimos 50 anos, em virtude de seus habitats terem sido poluídos e desmatados por seres humanos.

Abordagem mais simples

O estudo foi conduzido por uma equipe internacional liderada por Sergio Estrada-Villegas, pesquisador de pós-doutorado na Escola do Meio Ambiente da Universidade Yale (EUA), que trabalha com Liza Comita, professora de ecologia de florestas tropicais de Yale. O projeto, que examinou uma série de florestas em regeneração no centro do Panamá, abrangendo 20 a 100 anos após o abandono, foi concluído por Estrada-Villegas durante seu tempo como pesquisador no programa conjunto entre a Escola do Meio Ambiente da Universidade Yale e o Jardim Botânico de Nova York. O estudo foi publicado em uma edição temática especial da revista que se concentrou na restauração da paisagem florestal como parte da Década da Restauração de Ecossistemas das Nações Unidas.

“Quando falamos em restauração florestal, normalmente as pessoas pensam em sair para cavar buracos e plantar mudas”, disse Comita. “Na verdade, essa não é uma maneira muito econômica ou eficiente de restaurar florestas naturais. Se você tem uma floresta intacta preservada próxima, além de ter seus dispersores de sementes animais por perto, pode obter regeneração natural, que é uma abordagem menos dispendiosa e trabalhosa.”

A equipe de pesquisa analisou um conjunto de dados único e de longo prazo da floresta no Barro Colorado Nature Monument, no Panamá, supervisionado pelo Smithsonian Tropical Research Institute, para comparar a proporção de espécies de árvores nas florestas que foram dispersadas por animais ou outros métodos, como o vento ou a gravidade, e como isso muda ao longo do tempo à medida que a floresta envelhece. A equipe se concentrou na proporção de plantas dispersas por quatro grupos de animais: mamíferos que não voam, grandes aves, pequenos pássaros e morcegos.

Dados detalhados

Como a área foi intensamente estudada por biólogos do Smithsonian por cerca de um século, a equipe de pesquisa foi capaz de mergulhar em dados de décadas anteriores, incluindo fotografias aéreas tiradas nas décadas de 1940 e 1950. A área também apresenta uma visão única das florestas onde há muito pouca caça ou extração de madeira. Os resultados oferecem os dados mais detalhados da dispersão de sementes por animais durante o período mais longo de restauração natural, de acordo com o estudo.

O papel dos animais que não voam na dispersão de sementes em todas as idades da floresta, dos 20 anos até o crescimento, e a variedade de espécies animais envolvidas estão entre as descobertas mais importantes do estudo e apontam para a importância da regeneração natural das florestas, afirmam Comita e Estrada-Villegas. Nas florestas tropicais, mais de 80% das espécies de árvores podem ser dispersas por animais.

Os pesquisadores dizem que as descobertas podem servir como um roteiro para a regeneração natural de florestas que preservam a biodiversidade e capturam e armazenam carbono em um momento em que a Década da Restauração da ONU destaca a necessidade de conservação da terra e os líderes mundiais estão trabalhando para mitigar as mudanças climáticas decorrentes das emissões de combustíveis fósseis. As florestas absorvem o dióxido de carbono da atmosfera e o armazenam na biomassa e nos solos. As florestas tropicais, em particular, desempenham um papel importante na regulação do clima global e no apoio à alta diversidade de plantas e animais, observam os pesquisadores.

Para Estrada-Villegas, um ecologista que estuda morcegos e plantas, o estudo destaca como os animais são cruciais para florestas saudáveis. “Nesses ambientes tropicais, os animais são fundamentais para uma rápida recuperação das florestas”, disse ele.