21/11/2025 - 12:32
Duas possíveis cavidades de ar na pirâmide de Miquerinos – a mais preservada entre as pirâmides de Gizé, no Egito – escondidas durante milênios reacendem hipótese que circula há anos entre estudiosos.A pirâmide de Miquerinos – a menor e provavelmente a menos alterada desde o Antigo Império das três grandes estruturas de Gizé – está novamente no centro das atenções arqueológicas.
Desta vez, o interesse parte de uma equipe conjunta da Universidade do Cairo e da Universidade Técnica de Munique (TUM), no âmbito do projeto ScanPyramids, que identificou duas cavidades preenchidas com ar logo atrás de uma área de blocos na face leste da construção.
A descoberta fornece novas evidências que corroboram uma suspeita antiga e reacendem uma hipótese que circula na egiptologia há anos: a possível existência de uma segunda entrada para este monumento faraônico de mais de 4,5 mil anos.
Revestimento peculiar que despertou suspeitas
O que intrigou os arqueólogos durante anos foi a presença de uma área de blocos de granito meticulosamente polidos no lado leste da pirâmide, com aproximadamente quatro metros de altura e seis metros de largura. Essa chamou a atenção porque esse tipo de acabamento só aparece nos blocos que circundam a entrada principal no lado norte.
Foi precisamente essa semelhança que, em 2019, levou o pesquisador independente Stijn van den Hoven a propor a existência de uma segunda entrada, escondida atrás desse misterioso revestimento liso da pirâmide, construída durante o reinado do faraó Menkaure (aproximadamente entre 2490 e 2472 a.C.).
Para investigar a antiga estrutura sem danificá-la, os cientistas empregaram três métodos complementares: radar de penetração no solo (GPR), ultrassom (UST) e tomografia de resistividade elétrica (ERT). A combinação dessas técnicas e um sofisticado método de fusão de imagens permitiu identificar duas anomalias estruturais com alto grau de probabilidade.
Antecâmara para entrada secreta?
Segundo os dados obtidos pela equipe de pesquisa, as cavidades estão localizadas a 1,4 e 1,13 metros, respectivamente, atrás da fachada externa. A primeira anomalia, designada A1, mede aproximadamente 1 metro de altura por 1,5 metros de largura, enquanto a segunda (A2) tem dimensões de 0,9 por 0,7 metros, segundo as medições publicadas na revista de engenharia NDT & E International.
“A metodologia de teste que desenvolvemos nos permite chegar a conclusões muito precisas sobre a natureza do interior da pirâmide sem danificar a valiosa estrutura”, explicou Christian Grosse, professor de testes não destrutivos da TUM.
“A hipótese de haver outra entrada é muito plausível; nossos resultados nos aproximam muito mais da confirmação disso”, acrescentou.
Esta não é a primeira vez que o projeto ScanPyramids revela segredos ocultos nas pirâmides egípcias. Em 2023, a equipe confirmou a existência de uma passagem até então desconhecida na Grande Pirâmide de Quéops , a maior de Quéops.
Pirâmides ainda guardam muitos mistérios
Embora seja a menor das grandes pirâmides de Gizé, com aproximadamente 60 metros de altura atualmente (cerca de 65 metros em seu projeto original), a de Miquerinos se destaca por ter sobrevivido até os dias de hoje com pouquíssimas alterações desde o Antigo Império.
Para os pesquisadores, essa preservação a torna uma peça fundamental para a compreensão da arquitetura daquela época.
Peter Der Manuelian, professor de Egiptologia da Universidade de Harvard, que não participou da pesquisa, disse à revista científica Live Science que a descoberta é “muito interessante” e “mostra que ainda temos muito a aprender sobre as pirâmides de Gizé”.
O especialista ressaltou que, com algumas exceções, as entradas das pirâmides do Antigo Império (entre aproximadamente 2649 e 2150 a.C.) estão localizadas na face norte, tornando a possível entrada oriental na pirâmide de Miquerinos ainda mais enigmática.
A pesquisa foi conduzida sob a supervisão do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito e do Ministério do Turismo e Antiguidades, e contou com o apoio de diversas instituições, incluindo a Autoridade de Financiamento de Ciência, Tecnologia e Inovação, a Dassault Systèmes, a NHK e várias universidades e empresas de tecnologia.
Os cientistas alertam que, embora os resultados sejam promissores, análises adicionais são necessárias para compreender completamente a natureza e a função dessas cavidades recém-descobertas.