Uma equipe do Field Museum, de Chicago, nos EUA, divulgou que 26 de suas múmias foram movidas em macas para o estacionamento do museu – antes elas estavam armazenadas dentro do acervo do local. Os artigos foram direcionados para um aparelho de tomografia móvel, capaz de digitalizar o interior dos restos mortais sem que seja necessário tirar suas faixas de conservação. Os especialistas ressaltaram que tirando o transporte, o qual pode ter sido brusco, o procedimento é pouco invasivo para os artigos arqueológicos.

Os pesquisadores deram início ao procedimento em setembro deste ano, mas os primeiros resultados só começaram a aparecer em outubro – com a junção das imagens captadas pela máquina que formaram uma visão 3D dos indivíduos. No sábado, 9, eles relataram à “CNN” que o projeto deve levar cerca de três anos para se completar.

Mesmo estando na fase inicial, os pesquisadores já conseguiram descobrir mais detalhes sobre o modo de vida daquelas comunidades e as práticas de mumificação e embalsamamento.

Divergências no processo de mumificação

A prática era extremamente importante para a civilização da época, já que eles acreditavam que a preservação do corpo depois da morte estava conectada à saúde do espírito daquela pessoa e podia durar cerca de 70 dias. Já foi revelado que a atividade era mais comum entre a nobreza da sociedade e eram praticadas pelos sacerdotes que realizavam o embalsamento com rezas e rituais específicos.

Os três principais passos do processo envolvem:

  • Retirada dos órgãos do defunto e realocação deles em recipientes para que fossem preservados – estudos indicam que o cérebro era retirado por último e em pedaços para que o rosto da pessoa não ficasse desfigurado;
  • Uso do natron (um composto de sais de sódio) para secar o corpo. O processo evitava o aumento dos níveis de umidade que pudessem acelerar a decomposição;
  • O uso de faixas de linho para cobrir o cadáver amuletos e objetos pequenos de valor eram colocados entre camadas, os trechos de fita também recebiam escritos mágicos.

Contudo, a equipe do museu revelou que nem sempre os órgãos eram sepultados fora do corpo falecido. Alguns sacerdotes encarregados do processo os empacotavam e devolviam ao cadáver antes do enfaixamento.

Na prática tradicional, a que deixava os órgãos separados, cada um era colocado em um jarro decorado com elementos de sua divindade protetora. As múmias analisadas pelo museu, que foram sepultadas com os órgãos, tinham cada um em um pacote adornado com uma figura de cera que representa seu deus responsável. Uma delas, nomeada Chenet-aa e datada de 3 mil anos atrás, foi enterrada sem seus olhos e sepultada com um par substituto – outra prática não identificada com precisão pelos arqueólogos.

“Do ponto de vista arqueológico, é incrivelmente raro poder investigar ou ver a história da perspectiva de um único indivíduo. Esta é uma ótima maneira de vermos quem eram essas pessoas – não apenas as coisas que fizeram e as histórias que inventamos sobre elas, mas os indivíduos reais que estavam vivos naquela época”, comentou Stacy Drake, gerente da coleção de restos mortais humanos do Field Museum, em nota à imprensa.