09/08/2024 - 11:31
Anne Frank deixou seus rastros por toda a capital holandesa. O museu que leva seu nome desenvolveu agora um aplicativo que liga o passado ao presente, oferecendo ao usuário um novo olhar sobre diversos pontos da cidade.Desde 1960 que o Museu Anne Frank vem recontando a história do Holocausto através da narrativa pessoal da jovem judia, que, junto com sua família, se manteve escondida dos nazistas durante anos para, por fim, ser deportada assassinada num campo de concentração. Agora, o museu localizado na capital holandesa lançou um aplicativo para celulares, que guia os visitantes pela cidade, sob a ótica de Anne Frank.
A diretora de mídias digitais da instituição, Ita Amahorseija, explica que o objetivo da app é tornar a história de Anne Frank relevante para a população de Amsterdã hoje. “Queremos que as pessoas estabeleçam uma conexão entre o passado e o presente, de forma que quando estiverem na estação central ou perto de suas próprias casas e virem uma dessas imagens, no contexto da rua como ela é hoje, irão mesmo assim se conscientizar de que isso de fato aconteceu ali”, diz.
Anne Frank foi uma entre as milhões de vítimas do Holocausto. Ela escreveu o famoso diário enquanto ficou escondida em um prédio de Amsterdã, junto de sua família, durante a ocupação nazista na Holanda. Apenas seu pai Otto – e seu diário – sobreviveram ao Holocausto.
Passado e presente superpostos
O aplicativo A Amsterdã de Anne Frank tem como objetivo contar a história da capital holandesa ligando o passado ao presente, especialmente ao sobrepor fotografias contemporâneas da cidade com imagens históricas da época da Segunda Guerra. Usando o GPS, os usuários navegam por Amsterdã percorrendo 30 pontos importantes, que de alguma forma mantém uma ligação com Anne Frank: o lugar onde ela viveu, a escola que frequentou, o anexo onde sua família se escondeu dos nazistas e a livraria onde seu pai comprou o famoso diário, para citar apenas alguns dos locais.
No raio de 100 metros de distância de cada um desses lugares, os usuários podem acessar informações multimídia sobre o assunto. Bem em frente ao museu, por exemplo, o aplicativo mostra o lugar onde Jan Gies – a amiga que ajudou a família de Anne Frank – presenciou como a menina e seus parentes foram levados pelos nazistas. O usuário pode ouvir in loco uma entrevista com Gies sobre o episódio.
Navegar na história
A maioria dos pontos do aplicativo fica perto da Casa Anne Frank, embora para visitar todos os 30 lugares marcados pelo app o visitante leve de bicicleta – o meio de transporte tipicamente holandês – por volta de duas horas e meia. O ponto mais longe do centro fica na região sul da cidade, onde Anne vivia com sua família, antes de serem obrigados a se esconder.
Harald Krämer, especialista em comunicação do Museu Anne Frank e professor da Escola de Artes de Zurique, diz que o elemento de navegação app leva á interação, pois o observador é quem decide o que ver e em qual cronologia. “Não é uma mera navegação para levar alguém de um lado para o outro. Há uma personalização da narrativa, que contribui para o conteúdo”, diz ele.
Como o aplicativo pode ser baixado gratuitamente no Museu, sua acessibilidade no GPS o faz mais atraente para a população local do que para turistas estrangeiros, obrigados a pagar altas taxas de roaming. Ruben Vis, diretor-geral do órgão que representa a comunidade judaica nos Países Baixos, diz que o aplicativo é uma ferramenta eficaz na educação das crianças judias sobre sua herança cultural. “Tempos diferentes exigem abordagens distintas. Esse app é o caminho para se comunicar com os jovens sobre a história de Anne Frank”, completa.
Incitando a curiosidade
Assim como o Anne Frank, uma série de museus em todo o mundo vem oferecendo aplicativos para mídias móveis – entre eles o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), o Louvre de Paris e a Galeria Nacional de Londres. Krämer acrescenta, contudo, que o uso do aplicativo não é, em si, uma experiência completa para se informar sobre o assunto, mas apenas uma “porta de entrada” para chamar a atenção das pessoas interessadas em saber mais sobre a história.
“A aura do Diário de Anne Frank não pode ser reproduzida. A presença real do artefato é indispensável”, fala Krämer, aconselhando os visitantes a irem ver o diário real no Museu, sem se contentarem apenas com a experiência virtual.
O aplicativo A Amsterdã de Anne Frank é oferecido em inglês, holandês e alemão, mas o Museu anuncia que irá dispor em breve de versões em outras línguas. Ele foi doado ao Museu pelas organizações Lbi e Repudo – responsáveis respectivamente por seu design e desenvolvimento. Lançado no ano passado, o aplicativo foi recebido com interesse, estimulando um total de 12 mil downloads, somente na primeira semana.
Autora: Charlotta Lomas (sv)
Revisão: Augusto Valente