15/12/2025 - 15:56
Um dos autores do ataque antissemita que deixou 15 mortos em Sydney possuía 6 armas compradas legalmente e era membro de clube de caça. País, que já tinha leis rígidas, quer agora endurecer ainda mais o acesso a armas.O governo da Austrália anunciou, nesta segunda-feira (15/12), a intenção de endurecer a legislação sobre armas de fogo no país, um dia após o ataque terrorista a uma festa judaica que deixou ao menos 15 mortos e mais de 40 feridos em uma praia de Sydney. O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, convocou uma reunião com os governadores para discutir as mudanças, informou o gabinete do premiê.
Estão sendo avaliadas formas de aprimorar as checagens de antecedentes de proprietários de armas e uma restrição de acesso a certos modelos. A proposta ocorre após a revelação de que as armas usadas no ataque terrorista haviam sido compradas legalmente por um dos agressores, que também era membro de um clube de caça.
Além disso, quem não tiver cidadania australiana não poderá adquirir uma licença para o porte de armamentos – um dos atiradores de Sydney era estrangeiro e vivia no país como residente legal.
A Austrália já possui uma rígida legislação de acesso a armas, que entrou em vigor há três décadas, após um homem matar 35 pessoas a tiros em 1996, em Port Arthur, no estado da Tasmânia.
Nas décadas seguintes, como resultado da legislação, o país passou a contar com uma das taxas de homicídios por arma de fogo mais baixas do mundo.
Entre julho de 2023 e junho de 2024, por exemplo, a Austrália registrou apenas 31 assassinatos relacionados a armas de fogo, uma taxa de homicídios de 0,09 por 100.000 pessoas, de acordo com dados do Instituto Australiano de Criminologia.
No entanto, alguns especialistas apontam que a legislação ainda deixou lacunas.
“As características das pessoas podem mudar, elas podem se radicalizar ao longo do tempo. As licenças não devem ser eternas”, disse o premiê Albanese nesta segunda-feira.
Ataque terrorista
No domingo, um homem de 50 anos e seu filho, de 24 anos, abriram fogo em uma multidão de mais de mil pessoas que celebravam o feriado judaico de Chanucá na praia de Bondi. Entre os mortos estão uma criança de dez anos e um sobrevivente do Holocausto.
O agressor mais velho foi morto pela polícia. O segundo, o filho, foi detido e levado ao hospital, gravemente ferido.
Foram revistadas duas casas em Sydney onde teriam residido os dois atiradores. De acordo com a polícia, o pai possuía seis armas de fogo de cano longo legalmente registradas, entre fuzis de caça e pelo menos uma escopeta. Todas teriam sido utilizadas no ataque.
Além disso, comissário de polícia de Nova Gales do Sul, Mal Lanyon, afirmou que o pai era membro de um clube de caça.
Os serviços secretos australianos investigaram, há seis anos, possíveis ligações de um dos autores do atentado com a milícia jihadista Estado Islâmico. Investigadores antiterrorismo acreditam que pai e filho juraram lealdade ao grupo extremista. A imprensa local divulgou que duas bandeiras do Estado Islâmico teriam sido encontradas no carro dos agressores, mas a polícia não confirmou essa informação.
Investigações preliminares apontam que os agressores atiraram durante pelo menos dez minutos na multidão. As autoridades australianas classificaram o ato como um “ataque terrorista” antissemita.
A imprensa local informou que o pai imigrou para a Austrália em 1998 com um visto de estudante e que o filho nasceu posteriormente no país. Os dois disseram aos familiares que iriam pescar no fim de semana. Não há informações sobre qual era a nacionalidade do pai.
Sobrevivente do Holocausto entre as vítimas
O ataque ocorreu no primeiro dia da celebração judaica de Chanucá, que dura oito dias. Entre os mortos está o sobrevivente do Holocausto Alex Kleytman, de 87 anos. Sua esposa, também descrita como sobrevivente do Holocausto, disse ao jornal “The Australian” que o casal estava em Bondi Beach para celebrar o Chanuká. Eles haviam emigrado da Ucrânia para a Austrália e estavam casados havia quase 60 anos.
Entre os mortos também estavam uma menina de 10 anos e dois rabinos. Muitas pessoas participaram de uma cerimônia memorial na segunda-feira, e Albanese deixou flores perto do local do ataque.
A Associação Judaica Australiana acusou o governo de não adotar uma linha mais dura contra o antissemitismo e de ter “sangue nas mãos”.
Em meio à guerra em Gaza, Israel tem enfrentado crescentes críticas internacionais, juntamente com um aumento global do antissemitismo que gera a ataques contra indivíduos e instituições judaicas.
Na Austrália, uma sinagoga em Melbourne foi incendiada em dezembro de 2024. Albanese descreveu, à época, o ataque incendiário como antissemita e uma ameaça à vida.
As autoridades culparam o Irã e expulsaram o embaixador iraniano, mas os políticos israelenses acusaram o governo Albanese de ser muito leniente com o antissemitismo e de não proteger adequadamente a comunidade judaica da Austrália, composta de cerca de 120 mil pessoas.
Em sinal de luto pelas vítimas, as bandeiras foram hasteadas a meio mastro em toda a Austrália nesta segunda-feira. Durante uma visita ao local do ataque, o primeiro-ministro Albanese classificou o atentado como “ato de pura maldade, um ato de antissemitismo, ato de terrorismo”.
fcl (AFP, DPA, ots)
