Líder da Igreja Católica, a quem o presidente argentino antes se referiu como “comunista” e “imbecil que defende a justiça social”, desta vez foi cortejado como “o homem mais importante da Argentina”.Em uma mudança radical de retórica que passou da hostilidade à reverência, o presidente argentino, Javier Milei , se encontrou pela primeira vez com o papa Francisco durante visita ao Vaticano nesta segunda-feira (12/02).

De olho no eleitorado católico, Milei compareceu à reunião munido de biscoitos e presentes para cortejar o compatriota e líder da Igreja Católica a quem ele, durante a campanha eleitoral, chegou a se referir como “comunista” e “imbecil que defende a justiça social”.

Os dois falaram por 70 minutos. Antes disso, Milei também esteve com auxiliares do pontífice. A crise econômica na Argentina, a pior em décadas na história do país, foi citada pela Santa Sé como um dos temas das conversas.

Populista de direita que assumiu o cargo em dezembro do ano passado, Milei enfrenta uma inflação de mais de 200% e tem sido brecado em suas pretensões pelo Parlamento, que vetou partes de um polêmico projeto de lei que lhe daria superpoderes.

Abraços e beijos

No domingo, durante a missa de canonização de Maria Antonia de Paz y Figueroa, primeira santa argentina, os dois chegaram a se encontrar brevemente na Basílica de São Pedro, e Milei dirigiu-se ao papa perguntando se podia abraçá-lo e beijá-lo. “Sim, meu filho, sim”, respondeu um sorridente Francisco.

Questionado sobre a mudança de retórica em relação ao papa, Milei afirmou em entrevista à emissora de TV italiana Rete 4 que começou “a construir uma relação positiva” com o pontífice após perceber que ele era “o mais importante argentino dentre toda a Argentina”. “Tive que reconsiderar algumas posições”, explicou.

Na mesma entrevista, Milei disse ser um católico que pratica “um pouco” de judaísmo – ele visitou Israel na semana passada, e sua agenda incluiu um encontro com um rabino que o aconselha espiritualmente e que foi indicado para assumir a embaixada argentina.

Já um porta-voz do Vaticano, quando questionado sobre os insultos de Milei, afirmou que o pontífice “é uma pessoa que tem muita afeição por todos”, e que não há “animosidades” entre os dois.

Para o cardeal Victor Manuel Fernandez, o papa vê os comentários que Milei fez no passado como “estratégia de campanha”. Mesmo que não tenha apreço por “algumas tendências políticas e ideológicas” na Argentina, “ele sempre se preocupará com os que sofrem”.

Visita de Francisco à Argentina ainda é incerta

Em novembro, o papa ligou para Milei para parabenizá-lo por ter ganhado a eleição. Dele, ouviu um pedido para que faça uma visita à Argentina, país no qual o pontífice não esteve desde que ascendeu ao cargo, em 2013.

Francisco já anunciou que pode viajar à sua terra natal no segundo semestre, mas o cardeal Fernandez afirmou nesta segunda-feira que a visita é incerta “porque depende de várias coisas”.

No passado, o papa já disse que não queria ser explorado politicamente por argentinos.

ra/le (AFP, Reuters)