06/07/2025 - 8:16
Com “Partido da América”, bilionário busca cadeiras no Congresso para se firmar como fiel da balança. Iniciativa vem após Trump aprovar no Congresso megapacote fiscal que contraria interesses de Musk.Semanas após romper com o presidente americano Donald Trump e deixar de assessorá-lo na Casa Branca, o bilionário e barão da tecnologia Elon Musk anunciou neste sábado (05/07) o lançamento de um novo partido, batizado de “America Party” – ou “Partido da América”.
“Quando se trata de levar nosso país à falência com desperdício e corrupção, nós vivemos em um sistema unipartidário, e não numa democracia. Hoje, o Partido da América é formado para te devolver sua liberdade”, escreveu o magnata no X, rede social que pertence a ele.
Antes de romper com Trump, Musk havia gasto centenas de milhões de dólares para apoiar a candidatura do republicano nas eleições de 2024. Vitorioso, ele assumiu no novo governo a dianteira de uma ofensiva de cortes de gastos e demissões à frente do Departamento de Eficiência Governamental (Doge).
Racha após megapacote fiscal de Trump
O anúncio do novo partido vem na mesma semana em que o Congresso americano aprovou um megapacote fiscal de Trump que prevê cortes de gastos nas áreas sociais e de proteção climática, menos impostos e mais despesas com defesa e controle de migração.
As medidas devem aumentar em 3,3 trilhões de dólares (R$ 17,8 bilhões) a dívida pública americana ao longo da próxima década, de acordo com o Escritório de Orçamento do Congresso dos Estados Unidos (CBO, na sigla em inglês), órgão apartidário.
Musk foi um dos mais estridentes críticos do projeto de lei, e prometeu criar um novo partido para se opor aos republicanos que apoiaram a medida.
Em junho, Trump sugeriu que a reação de Musk ao projeto tinha a ver com a perda de subsídios que beneficiam a Tesla, fabricante de carros elétricos chefiada pelo bilionário.
Ainda nesta semana, o presidente americano ameaçou cortar bilhões de dólares em subsídios federais às empresas de Musk.
Na sexta-feira, o bilionário postou no X uma enquete perguntando a seus seguidores se eles queriam “independência do sistema bipartidário (alguns diriam unipartidário)” e obteve mais de 1,2 milhão de respostas, com mais de 60% a favor da proposta.
Musk vai ser candidato?
O CEO da Tesla e da SpaceX já sugeriu que não está interessado em sair candidato, nem em eleger alguém à Casa Branca.
Em vez disso, seu “Partido da América” focaria apenas em perturbar a disputa por assentos na Câmara e no Senado, aplicando uma “força extremamente concentrada em um ponto preciso do campo de batalha”, e assim alterando o equilíbrio de forças no Congresso que dá sustentação a um presidente.
“Uma forma de fazer isso seria focar em apenas dois ou três assentos do Senado e oito ou dez distritos da Câmara”, disse via X.
Ao focar em eleições específicas, Musk acredita que seu “Partido da América” poderia assegurar votos decisivos para a aprovação de projetos de lei controversos.
A abundância de dinheiro poderia ajudar o empresário a chegar lá. Partidos gastam vultosas somas para eleger candidatos – só nas eleições de 2024 à Casa Branca e ao Congresso, foram quase 16 bilhões de dólares (R$ 86,7 bilhões), segundo a ONG de monitoramento de doações de campanha OpenSecrets.
O próprio Musk foi o maior doador das campanhas de 2023 e 2024, apostando 291 milhões (R$ 1,58 bilhão) em candidatos republicanos.
Mas o dinheiro não é a única coisa que importa. Em abril, Musk distribuiu cheques milionários a eleitores em Wisconsin para tentar influenciar a eleição para uma vaga na Suprema Corte e perdeu mesmo assim: a vencedora foi Susan Crawford, apoiada por democratas.
Bipartidarismo domina EUA há mais de um século
Uma terceira via verdadeiramente competitiva poderia desafiar a dominância de mais de um século dos partidos democrata e republicano em todas as esferas de governo. Mas Musk não é o primeiro a tentar isso.
Quem chegou mais perto até hoje foi o ex-presidente Theodore Roosevelt em 1912. Ele rompeu com o Partido Republicano e lançou candidatura no Partido Progressista, obtendo 27% dos votos do eleitorado e 88 cadeiras no colégio eleitoral.
Em 1992, outro bilionário, Ross Perot, saiu como candidato independente à Casa Branca e teve 19% do voto popular, mas não conseguiu eleger um delegado sequer no colégio eleitoral. Mais tarde, ele acabou criando o irrelevante Partido da Reforma.
Mesmo o Congresso americano hoje praticamente não tem membros fora dos partidos republicano e democrata. A exceção são dois senadores independentes, de um total de 100 assentos.
ra (AFP, AP, Reuters, ots)