05/05/2020 - 11:26
No Ártico em aquecimento, as aranhas-lobos estão ficando maiores, reproduzindo-se mais e comendo alimentos diferentes. Incluindo outras aranhas.
Um estudo realizado no Alasca sugere que, à medida que as aranhas-lobos (uma espécie da família Lycosidae) se tornam maiores e produzem mais descendentes, a competição entre elas aumenta – provocando taxas mais altas de canibalismo e reduzindo o número de aranhas jovens que sobrevivem até a idade adulta. A nova pesquisa, da Universidade de Washington em St. Louis (EUA), foi publicada na revista “Journal of Animal Ecology”.
“Embora o canibalismo provavelmente não seja a melhor opção alimentar para essas aranhas, nossos dados experimentais e de campo sugerem que, quando há muitas aranhas por perto, elas se voltam para o canibalismo com mais frequência”, disse Amanda Koltz, pesquisadora de pós-doutorado em biologia e primeira autora do estudo. “É provavelmente um reflexo do aumento da competição entre as aranhas por recursos.”
Esse cenário mórbido já pode estar ocorrendo em algumas partes do mundo – e pode ter consequências para as populações de invertebrados de maneira mais ampla.
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Fecundidade maior
Animais como aranhas, que regulam externamente a temperatura corporal, são particularmente propensos a sofrer alterações como resultado do aquecimento. Em algumas áreas do Ártico, os biólogos descobriram que as aranhas-lobos são maiores após anos com verões mais longos. Isso sugere que, conforme as mudanças climáticas vão aquecendo o Ártico, os tamanhos dos corpos das aranhas-lobos geralmente vão aumentando.
Ao mesmo tempo, a fecundidade – ou o número de filhos que as fêmeas produzem – tende a aumentar à medida que as fêmeas se tornam maiores, de modo que aranhas maiores podem se traduzir em mais aranhas no futuro. Mas se essa mudança realmente resulta em mais aranhas na natureza continua sendo uma questão importante.
“O espaço e os recursos na tundra são finitos”, disse Koltz.
Mudança na dieta
Para essa pesquisa, Koltz fez observações em dois locais no Ártico do Alasca, onde o tamanho do corpo das espécies localmente dominantes de aranha-lobo varia naturalmente.
Ela combinou esse estudo comparativo de campo com um experimento de mesocosmo (sistema experimental ao ar livre que examina o ambiente natural sob condições controladas), no qual manipulou o número de aranhas-lobos em um espaço fechado para ver como a exposição a densidades mais altas de aranhas afeta as dietas das aranhas-lobos.
Dentro das populações de campo, Koltz descobriu que a presença de aranhas maiores estava associada a menos aranhas jovens. Isso foi inesperado, pois as fêmeas maiores produzem mais descendentes. Usando análise isotópica estável, ela descobriu que as aranhas no local com fêmeas maiores tinham dietas diferentes do que no local com fêmeas menores.
A mudança na dieta foi consistente com a aparência de uma mudança para o canibalismo, sugerindo que onde as aranhas eram maiores – e as taxas de reprodução mais altas –, as aranhas se canibalizavam com mais frequência. Essa ideia foi apoiada pelos resultados experimentais.
“As aranhas-lobos que foram experimentalmente expostas a densidades mais altas passaram por uma mudança na dieta semelhante à da população de campo onde as fêmeas eram maiores – e onde esperaríamos que a competição e o canibalismo entre as aranhas-lobos fossem mais altos”, disse Koltz.
Maior não significa sempre mais
Já se demonstrou que aranhas-lobos de latitudes mais baixas canibalizam-se quando expostas experimentalmente a densidades mais altas. No entanto, a extensão em que esse comportamento afetou populações naturais de aranhas-lobos não foi clara. Os resultados desse estudo sugerem que o canibalismo regula as populações de aranhas-lobos na natureza, reduzindo a sobrevivência juvenil.
No entanto, em longo prazo, a canibalização frequente pode não ser vantajosa para indivíduos ou populações de aranhas.
“A canibalização de outras aranhas da mesma espécie reduz a competição, diminuindo o número de outras aranhas ao redor”, disse Koltz. “Mas evidências de outros estudos mostraram que as aranhas-lobos que são alimentadas apenas com outras aranhas-lobos não vivem tanto quanto aquelas que comem uma dieta mais variada.”
Portanto, mesmo que elas se reproduzam mais, aranhas maiores nem sempre levam a mais aranhas na paisagem.
“Este projeto foi baseado no Ártico, mas a mensagem principal não se limita ao Ártico ou potencialmente a aranhas-lobos”, disse Koltz. “Os resultados de nosso estudo são um lembrete de que alterações no tamanho do corpo de invertebrados, impulsionadas pelas mudanças climáticas, podem ter consequências ecológicas generalizadas, incluindo mudanças na competição intraespecífica, dieta e estrutura populacional.”