02/06/2016 - 16:04
Um dos precursores da fotografia de natureza no país, Araquém Alcântara acaba de emprestar seu olhar, suas lentes e sua assinatura para um livro sobre a Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais, no Nordeste, na qual a Fundação Toyota do Brasil desenvolve um projeto de conservação e sustentabilidade em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica.
Para aceitar um projeto encomendado como esse, a causa envolvida precisa passar pelo crivo do fotógrafo. E ele tem um profundo conhecimento sobre o tema em questão. Durante mais de dez anos, percorreu todos os parques nacionais brasileiros, o que lhe rendeu seu livro mais vendido, TerraBrasil (Editora TerraBrasil, 1998).
“Segundo a Constituição, os parques nacionais são joias raras de um país, uma forma de mostrar para as futuras gerações as riquezas naturais da nação. Temos 71 parques desse tipo, mas você só consegue voltar vivo de uns 10 deles. Há muitos à míngua”, critica fortemente. Na visão de Araquém, o projeto da Toyota na APA Costa dos Corais é “tipo exportação” e deveria ser replicado país afora.
A Costa dos Corais, que toma o litoral norte de Alagoas e a costa sul de Pernambuco, tem a maior concentração de recifes da América Latina (o Brasil é o único país da região com formação marinha desse tipo). A APA é uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável e a parceria público-privada entre Toyota e SOS Mata Atlântica, de dez anos (2011-2021), vem promovendo o uso econômico coerente e restaurador dos recursos locais. Essas foram as atividades retratadas pelo fotógrafo para o livro.
Descrente da atuação do Estado nessa área, Araquém aponta que ainda não se reconhece que a maior riqueza do Brasil está nos serviços ambientais das suas florestas, nas suas águas e na preservação total do seu patrimônio natural. “Os parques nacionais deviam ser gerenciados pela iniciativa privada. As empresas têm de cuidar mais do nosso país. O Estado não tem capacidade para isso.”
Fotógrafo andarilho
A peregrinação de Araquém pelo território nacional começou quando o fotógrafo era muito jovem. “Ando por todo o Brasil e estou muito próximo do povo. Minha tarefa é ouvir e cantar este país”, define-se. Seu primeiro trabalho foi um ensaio sobre urubus em Santos (SP), nos anos 1970. Nessa época, PLANETA havia desembarcado no Brasil, vinda da França. E o encontro entre a carreira do fotógrafo e a revista se deu de imediato.
O ensaio dos urubus compôs uma matéria sobre a pobreza no litoral paulista, a destruição da Mata Atlântica e os projetos de usinas nucleares na região. “Foi uma das minhas primeiras publicações, ainda com 19 anos. Minha carreira é muito idealista, e a revista tem tudo a ver com isso. Foi graças ao ambientalista Ernesto Zwarg Júnior que meu trabalho ganhou essa ideologia ambiental.”
Passados 45 anos de empenho nessa tarefa, Araquém Alcântara está preparando seu 50º livro autoral, Iauaretê (“onça”, em tupi-guarani). A obra deverá ser lançada no início de 2017. “Desde a primeira foto que fiz de uma onça, em 1979, é como se eu estivesse preparando esse livro. É um animal mágico.” Para Araquém, que tem dedicado sua vida a fotografar animais, o pai foi profético ao escolher seu nome, que significa “a grande ave”.
Apaixonado pelo que faz, e apesar dos seus 66 anos de idade, ele garante que seu pique atrás das câmeras é de 30 anos e que os alunos não conseguem acompanhá-lo na mata, lugar que demanda muito preparo físico. “É muito amor. Para mim, a fotografia é uma poderosa arma que me ajuda a encontrar o mundo. É um caminho de conhecimento.”