A meta de proteger 30% dos oceanos até 2030, estabelecida pela comunidade internacional, enfrenta dificuldades para se concretizar e especialistas estimam que menos de 10% das áreas marinhas protegidas (AMPs) estejam realmente protegidas.

“Será difícil atingir a meta de 30%” até 2030, admite o biólogo marinho Lance Morgan, diretor do Marine Conservation Institute (MCI) em Seattle, que registra AMPs em um atlas online.

“Vemos países como os Estados Unidos recuando e abandonando décadas de esforços bipartidários” para proteger o oceano, acrescenta, referindo-se a um decreto do presidente Donald Trump que autorizou em abril a pesca comercial em uma AMP do Pacífico.

A meta conhecida como 30×30 foi adotada em 2022 por 196 países como parte do Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal.

Na última contagem, as 16.516 AMPs declaradas por vários governos representavam apenas 8,36% dos oceanos.

As situações são diversas entre elas, de áreas que proíbem todas as formas de pesca às que não regulam a atividade.

Em nível mundial, “apenas um terço possui níveis de proteção que realmente nos permitem esperar benefícios” para a pesca, destaca Joachim Claudet, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS, na sigla em francês).

“As áreas marinhas protegidas não foram realmente propostas para proteger a biodiversidade”, mas sim “para aumentar a pesca”, explica Daniel Pauly, professor da Universidade de Columbia em Vancouver.

“Uma área marinha protegida, que está bem protegida, exporta peixes para áreas desprotegidas. Essa deveria ser a principal razão pela qual as áreas marinhas protegidas foram criadas: são necessárias para a existência de peixes”, acrescenta.

Efeito ‘spillover’

Quando não são pescados, os peixes crescem, reproduzem-se em maior número e repovoam os arredores da área protegida.

Esse efeito, chamado de ‘spillover’, foi comprovado por diversas publicações científicas, especialmente no Havaí, local de uma das maiores AMPs do mundo, onde toda pesca é proibida.

Um estudo publicado pela Science em 2022 mostrou um aumento de 54% da pesca de atum-amarelo nos limites dessa AMP.

Agora ameaçada pela política de Donald Trump, “essa área marinha protegida permitiu a regeneração das populações de atum e a exportação de atum”, ressalta Pauly.

Para produzir tais efeitos, uma área marinha deve, no entanto, ser rigorosamente protegida e proibir a pesca em pelo menos parte de seu território, segundo Claudet.

Mas essas áreas de proteção total ou alta representam apenas 2,7% do oceano mundial e quase sempre estão localizadas em territórios ultramarinos, distantes das áreas mais impactadas pelas atividades humanas.

“Na Europa, 90% das áreas marinhas protegidas ainda estão expostas à pesca de arrasto”, afirma Alexandra Cousteau, porta-voz da ONG Oceana.

“A pesca de arrasto em áreas marinhas protegidas é como colher flores com uma escavadeira em um jardim botânico. Não é exagero, pois as redes de arrasto raspam o fundo do mar”, acrescenta Daniel Pauly.

A pesca de arrasto foi praticada por 17.000 horas em áreas marinhas protegidas francesas em 2024 e por 20.600 horas nas do Reino Unido, segundo a Oceana, que defende sua proibição.

Um relatório do WWF divulgado nesta terça-feira revela que “apenas 2,04% dos mares da União Europeia estão atualmente cobertos por AMPs com planos de gestão”, observando que esses planos às vezes não definem medidas de proteção.

“Está longe de ser suficiente para proteger a saúde dos oceanos”, disse Jacob Armstrong, responsável pelo setor de oceanos no escritório do WWF para políticas europeias.

“Os governos devem basear suas palavras com ações de proteção marinha, ou esses locais permanecerão meros pontos no mapa”, alertou.