04/06/2025 - 8:57
A arqueóloga premiada Niède Guidon morreu na madrugada desta quarta-feira, 4, aos 92 anos. Ela é considerada uma das mais importantes pesquisadoras da história brasileira e acabou sendo reconhecida internacionalmente por seu estudo na região do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí.
Niède foi a primeira mulher brasileira a ser homenageada com o prêmio internacional Hypatia Award — concedido pela Confederação dos Centros Internacionais para a Conservação do Patrimônio Arquitetônico –, em 2020, por seu trabalho na criação e conservação do Parque Nacional da Serra da Capivara, sítio arqueológico reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em 1991.
Em 1973, Guidon trabalhava como assistente da arqueóloga francesa Annete Emperaire no Centre National de La Recherche Scientifique, em Paris. Emperaire procurava vestígios do homem mais antigo das Américas e se interessou pela região de Lagoa Santa, nos arredores de Belo Horizonte, Minas Gerais.
A brasileira, no entanto, decidiu ir para o Piauí, pois tinha interesses em pinturas rupestres. Para sua surpresa, no local, Niède acabou encontrando indícios de presença humana no Nordeste muito mais antigos do que jamais alguém esperaria achar.
Segundo Guidon, o material arqueológico resgatado no Piauí indica que o homem chegou à região há cerca de 100 mil anos. Ela acreditava que o Homo sapiens deve ter vindo da África por via oceânica, atravessando o Atlântico, visto que o nível do mar era 140 metros abaixo do que atualmente e, por causa disso, a distância entre a África e a América era menor e havia muito mais ilhas.
De acordo com o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Niède identificou mais de 700 sítios pré-históricos ao longo de sua carreira, entre os quais 426 paredes de pinturas antigas e evidências de habitações humanas antigas na Serra da Capivara.
“Simplesmente fiz o meu trabalho como pesquisadora, arqueóloga. Vinha da França para o Brasil fazer pesquisas aqui na Serra da Capivara, que é realmente um local fantástico, tanto pela natureza como por toda a memória que o homem pré-histórico deixou aqui”, disse Niède, por meio de vídeo na cerimônia do Prêmio Almirante Álvaro Alberto 2024. “Espero que tudo isso [trabalho arqueológico no parque], porque tudo isso continue porque ainda há muito a descobrir na Serra da Capivara”, concluiu.