06/05/2025 - 16:15
Uma descoberta feita por arqueólogos marinhos foi capaz de esclarecer a verdadeira origem de dois naufrágios encontrados na Costa Rica: enquanto antes reconheciam os destroços como sendo de barcos piratas, agora os estudiosos confirmam que tratam-se de restos de navios negreiros dinamarqueses.
Apesar dos escombros da costa caribenha já serem conhecidos há muito tempo, foi apenas agora que eles ganharam relevância, preenchendo lacunas históricas da trajetória dos países envolvidos.
A crença de que os destroços seriam oriundos de navios piratas iniciou ainda no século XIX, quando pescadores povoaram o local e identificaram os restos das navegações. Ao avistarem pedaços quebrados e dispersos, acreditaram que as duas embarcações poderiam ter se envolvido em uma briga.
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A versão foi repensada só em 2015, ano em que arqueólogos americanos acharam tijolos amarelos no meio dos restos dos barcos. A descoberta foi um divisor de águas, já que tais elementos específicos eram utilizados apenas na Dinamarca e suas colônias durante os séculos XVIII e XIX. Segundo o próprio Museu Nacional da Dinamarca, esse tipo de material era produzido em uma cidade da Alemanha e não era comum no resto do mundo.
Paralelamente, na história da Dinamarca, há registros de duas embarcações de negros escravizados que naufragaram na costa da América Central. Um dos navios foi incendiado e outro teve a âncora cortada, de modo que foi levado pela correnteza. O local exato dos destroços não era conhecido.
Foi então que, em 2023, expedições subaquáticas feitas pelo Museu Nacional e do Museu dos Navios Vikings da Dinamarca coletaram mais elementos que comprovariam as “coincidências” históricas: amostras de tijolos, madeira e cachimbos de argila. Pesquisas posteriores confirmaram que a madeira era originária do Mar Báltico, que engloba a Dinamarca, e tinha idade compatível aos registros dos naufrágios desaparecidos.
Além disso, o tamanho dos tijolos e o modelo dos cachimbos – tal como os componentes da argila – indicavam origem dinamarquesa.
O que aconteceu com os navios?
Nos séculos passados, a Dinamarca abastecia suas colônias na África Ocidental, trazendo escravizados em embarcações violentas, caóticas e perigosas.
Foi no navio Fridericus Quartus, que viajava de Gana para a colônia holandesa de St. Thomas, que os prisioneiros organizaram uma rebelião. Devido às circunstâncias conflituosas, uma embarcação extra foi enviada – porém, durante a navegação, os dois barcos se perderam e chegaram, acidentalmente, na região da Costa Rica.
Por medo dos piratas e dos nativos, os capitães passaram um tempo decidindo se iriam até a costa do país. Nisso, os escravizados revoltos efetuaram um motim contra os marinheiros, restando 650 dos 800 tripulantes.
Isso significa que uma linhagem inteira de pessoas, originárias dos sobreviventes, recebeu uma nova perspectiva histórica após a descoberta.
A “parte mais dramática são as vidas que mudaram devido a esse evento. Mais de 600 africanos ficaram na praia, onde hoje é o Parque Nacional Cahuita”, disse o arqueólogo marinho Andreas Kallmeyer Bloch em comunicado à imprensa.