A colisão de um asteroide com a Terra é um fenômeno infelizmente­ menos raro do que se poderia pensar. Segundo o Departamento de Estado dos Estados Unidos, apenas entre 1994 e 2013, nada menos do que 556 pequenos corpos celestes, com diâmetro entre 1 metro e 50 metros, foram registrados cruzando a atmosfera terrestre. Um deles, com cerca de 20 metros de diâmetro, caiu em fevereiro de 2013 perto da cidade siberiana de Chelyabinsk, o que causou uma liberação de energia de quase 500 quilotons de TNT, entre 20 e 30 vezes maior do que as primeiras bombas atômicas.

Diante do risco de um desastre do gênero de grandes proporções, a Nasa, agência espacial americana, criou uma missão especial: a Dart (sigla em inglês para “Teste de Redirecionamento do Asteroide Duplo”), que em junho passou da fase de desenvolvimento conceitual para a de testes preliminares. A ideia envolve o envio de uma cápsula espacial do tamanho de uma geladeira ao asteroide Didymos para desviá-lo do curso.

Como o nome da missão diz, Didymos (“gêmeo”, em grego) é um asteroide duplo, composto por uma rocha maior e outra menor. O objetivo da missão é alterar a trajetória da pedra menor, o Didymos B, quando o asteroide estiver passando mais próximo da Terra, a 11 milhões de quilômetros de distância, em outubro de 2022. Dois anos depois, ele voltará a se aproximar do nosso planeta.

“O Dart seria a primeira missão da Nasa a demonstrar na prática o que é conhecido como a teo­ria do pêndulo cinético – atingir o asteroide para mudar sua órbita – a fim de se defender contra um possível impacto futuro”, afirma Lindley Johnson, especialista em defesa planetária da Nasa em Washington. “Essa etapa de aprovação leva o projeto rumo a um teste histórico com um pequeno asteroide não ameaçador.”

Alvo perfeito

Tom Statler, cientista da missão Dart, também gosta da escolha do alvo. “Um asteroide binário é o laboratório natural perfeito para esse teste”, observa. “O fato de que Didymos B está em órbita ao redor de Didymos A torna mais fácil ver os resultados do impacto e garante que o experimento não alterará a órbita do parceiro ao redor do Sol.” Uma vez lançada, a nave Dart porá em ação seus instrumentos de direção automática rumo a Didymus B.

O plano é atingi-lo a uma velocidade de 6 quilômetros por segundo, nove vezes mais rápido do que uma bala. Esse pequeno empurrão levaria o asteroide a mudar seu trajeto ao longo do tempo. Telescópios terrestres e uma sonda enviada pela Agência Espacial Europeia permitirão aos cientistas colher inúmeros dados sobre o impacto. Essas informações lhes permitirão calcular como a estratégia funcionaria no caso de um corpo celeste maior.

“O Dart é um passo crítico na demonstração de que podemos proteger nosso planeta de um futuro impacto de asteroides”, diz Andy Cheng, do Laboratório de Física Aplicada Johns Hopkins, em Laurel, Maryland, que também participa do Dart. “Como não sabemos muito a respeito de sua estrutura interna ou composição, precisamos realizar essa experiência em um asteroide real.

Com o Dart, podemos mostrar como proteger a Terra de um ataque de asteroides com um pêndulo cinético, batendo no objeto perigoso em uma rota de voo diferente que não ameaçaria o planeta.” O Dart se encaixa nas preocupações de um gabinete específico criado pela Nasa para lidar com a ameaça de asteroides, o Escritório de Coordenação de Defesa Planetária (PDCO, na sigla em inglês). A agência americana acredita já ter identificado 93% dos asteroides cujo tamanho representa uma ameaça para a Terra.