11/03/2021 - 5:14
Em 2011, um terremoto gerou ondas de vários metros de altura na costa do Japão. O tsunami causou estrago imensurável e destruiu a usina nuclear de Fukushima. Dez anos depois, a região ainda está longe da normalidade.Primeiro, o terremoto de 11 de março de 2011 destruiu a principal fonte de energia da central nuclear de Fukushima Daiichi. O tsunami que se seguiu inundou os geradores de emergência. Logo, o combustível em três dos seis reatores da instalação nuclear superaqueceu, causando derretimento de seu núcleo. Como resultado, houve várias explosões, causadas pelo acúmulo de hidrogênio. As imagens da televisão das nuvens de fumaça radioativa sobre as usinas estão presentes na memória coletiva mundo afora. Partículas radioativas contaminaram mais de mil quilômetros quadrados, e mais de 160 mil moradores tiveram que deixar a região.
Dez anos depois, os sinais visíveis da catástrofe vão desaparecendo. Em toda a área de 20 quilômetros em volta da instalação nuclear, escavadeiras e guindastes estão demolindo muitos prédios e casas que se tornaram inabitáveis devido a terremotos e contaminação. As montanhas de sacos com os restos da descontaminação que arruinaram a paisagem por anos foram em grande parte removidas. Nos campos e prados da região, há hoje placas solares.
No entanto, o governador de Fukushima, Masao Uchibori, fala de “luzes e sombras” em sua avaliação do décimo aniversário da catástrofe. “Parte da luz é que o nível de radiação diminuiu. Nós descontaminamos, hoje apenas 2,4% da área da cidade estão fechados”, diz Uchibori. “No lado negativo, 37 mil ex-residentes continuam deslocados.”
Área inabitável atinge 340 quilômetros quadrados
Embora todas as ordens de evacuação para a zona de 20 quilômetros em volta da instalação nuclear já tenham sido retiradas, grandes partes das cidades diretamente adjacentes às usinas e as povoações a noroeste ainda estão altamente contaminadas, totalizando uma área de quase 340 quilômetros quadrados. Ali, a radioatividade está pelo menos 50 vezes acima do limite padrão de um milisievert. Até agora, nessas cidades foram criadas apenas pequenas zonas econômicas especiais descontaminadas, visando o posterior repovoamento.
Entre 30% e 60% dos antigos moradores retornaram às cidades e vilas mais afastadas da usina nuclear. Entre elas, no entanto, estão apenas algumas famílias com crianças. Temendo a radiação, muitas já criaram raízes em novas cidades. Entre os retornados, estão predominantemente idosos. Como Tomoko Kobayashi, de 68 anos, que dirige uma pensão com seu marido a 14 quilômetros da central nuclear.
Após o desastre, ela se mudou para Nagoia, onde o filho vive com a família. Mas logo ela ficou com saudades da terra natal. “A comida não era tão saborosa em Nagoia quanto em Fukushima”, diz ela. “Então voltamos a Fukushima na esperança de que os alimentos locais pudessem ser consumidos.”
O casal se juntou a um grupo de cidadãos que faz as próprias medições de radiação no solo, ar e alimentos. Segundo seus dados, o consumo de arroz e verduras, por exemplo, é seguro.
Lenta reconstrução
O apego à terra natal também motivou Seimei Sasaki a retornar. Sua família viveu por vários séculos na região, aluga campos para produtores de arroz e vive dos recursos de uma pequena floresta. O robusto homem de 95 anos mandou reformar sua casa com o típico telhado curvo. Ele não tem ilusões quanto ao futuro.
“Espero que a reconstrução seja rápida. Mas ainda vai demorar 30 anos, talvez até 50, até que tudo esteja bem de novo”, afirma. “Eu também gostaria de ver mais pessoas na agricultura. Mas ninguém vem.” Um dos motivos, segundo ele, são as elevadas indenizações pagas. “Muitos compraram uma nova casa em outro lugar e agora já não querem mais voltar.”
Na usina nuclear de Fukushima Daiichi, o combustível derretido está sendo resfriado e as ruínas resistiram a novos tremores. Mas a limpeza está sendo muito mais lenta do que o planejado por causa da radiação. Mais de mil tanques com 1,3 milhão de metros cúbicos de água foram acumulados no local.
A operadora Tepco quer desviar a água para o Oceano Pacífico, mas o governo hesita porque o líquido contém trítio radioativo. Além disso, ainda não se sabe a localização exata do combustível derretido, muito menos como recuperá-lo. Mas o gerente da Tepco, Akira Ono, não quer discutir o assunto: “Se você pergunta a dez pessoas, recebe dez opiniões.”
Nenhuma mudança na política energética
O desastre nuclear no Japão não provocou um abalo político. Há mais de oito anos, uma coalizão conservadora de direita está no poder, mantendo-se fiel à energia nuclear. Entretanto, devido à necessidade de atualizar a tecnologia de segurança, apenas um em cada seis dos 54 reatores originais pôde ser reiniciado.
Pesquisas mostram que a maioria dos japoneses se opõe ao seu uso continuado, mas isto não tem impacto nas eleições, explica a japonesa Kristina Iwata-Weickgenannt, da Universidade de Nagoia.
“Com exceção dos anos 60 e início dos anos 70, o Japão nunca teve uma cultura de protesto muito pronunciada. Pelo contrário, o ativismo político tem sido fortemente estigmatizado desde aquela época”, diz a especialista alemã. Como resultado, diz ela, o desencanto com a política é enormemente alto, e há pouca esperança de que os protestos de rua tragam mudanças. “Por isso, não me surpreende que os protestos iniciais contra a energia nuclear em grande parte tenham parado.”
Ao menos Fukushima aposta completamente em energia limpa, produzida a partir de fontes renováveis. Sua cota deve aumentar dos atuais 40% para 100% até 2041. Ali, nunca mais se quer produzir energia nuclear.