29/10/2025 - 13:20
Megaoperação desta semana supera de longe números anteriores de vítimas, entre 2007 e 2022. Quatro das cinco operações mais letais ocorreram sob governador Cláudio Castro (PL).A megaoperação policial que deixou dezenas de mortos no Rio de Janeiro nesta terça-feira (28/10) supera por larga medida recordes anteriores registrados na capital fluminense nas últimas décadas.
Até a manhã desta quarta-feira, as autoridades locais contabilizavam oficialmente entre 58 e 64 mortos – sendo quatro policiais – na operação que ocorreu no dia anterior nos complexos da Penha e do Alemão.
No entanto, o aparecimento de dezenas de corpos recolhidos e expostos por moradores indica que o número deve crescer ainda mais.
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro já fala em 130 mortos – número superior a outros massacres infames da história brasileira, como o do Carandiru, em 1992, que deixou 111 vítimas.
Se confirmado, o número será superior à soma de vítimas das quatro operações mais letais da última década. Entre as cinco ações policiais mais mortíferas, quatro ocorreram sob o atual governador do Rio Janeiro, Cláudio Castro (PL).
Nesta quarta-feira, o governador, que está no poder desde maio de 2021, classificou a ação desta semana como um “sucesso”. “De vítima, ontem, lá, só tivemos os policiais”, disse Castro em entrevista coletiva.
Veja os cinco recordes anteriores, que foram superados pela ação desta semana:
06/05/2021 – Jacarezinho: 28 mortos
Antes da ação nos complexos da Penha e do Alemão, o recorde de operação mais letal da história da cidade era ocupado pelo “massacre do Jacarezinho”, ocorrido em 6 de maio de 2021 na favela homônima. Na ocasião, 28 pessoas, incluindo um policial, morreram.
A operação havia sido comandada pela Polícia Civil, que alegou ter agido após receber denúncias de que traficantes estariam aliciando crianças e adolescentes no Jacarezinho. À época, a chacina do Jacarezinho teve intensa repercussão, inclusive no plano internacional.
A operação ocorreu durante a pandemia de covid-19, violando a determinação da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635 do Supremo Tribunal Federal (STF), que havia restringido operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro no período.
Organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, apontaram indícios de execuções extrajudiciais e alterações em cenas de crime durante a operação.
24/05/2022 – Complexo da Penha: 23 mortos
Um ano depois do Massacre do Jacarezinho, foi a vez de o Complexo da Penha ser palco do que à época se tornou a segunda operação policial mais letal da história da cidade, no que também ficou conhecido como Chacina da Vila Cruzeiro, em referência à comunidade em que se concentraram as mortes.
A operação contou com participação do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) do Rio de Janeiro e – de maneira controversa – daPolícia Rodoviária Federal (PRF). Entre os 23 mortos, 16 não tinham passagem pela polícia.
Uma das vítimas foi a cabeleireira Gabrielle Cunha, de 41 anos, morta dentro de casa por um disparo feito a longa distância. A participação da PRF na operação provocou questionamentos à época, levantando o temor que o governo do então presidente Jair Bolsonaro (2019-2022) estava instrumentalizando e desvirtuando as competências da corporação, já que o local da operação não tinha relação com áreas de rodovias federais.
27/06/2007 – Complexo do Alemão: 19 mortos
Em junho de 2007, no então governo de Sérgio Cabral, o Complexo do Alemão já havia sido palco de uma operação policial letal, que resultou em 19 mortes, um recorde que seria mantido por mais de uma década. À época, a operação reuniu Polícia Militar, Polícia Civil e Polícia Federal, além de homens do Exército, da Marinha, da Aeronáutica e da Força Nacional de Segurança Pública.
Cerca de 2.600 agentes participaram da ação, que também ficou conhecida como “Chacina do Pan”, em referência aos Jogos Pan-Americanos que aconteceriam na cidade no mesmo ano. Segundo a ONG de direitos humanos Anistia Internacional, perícias independentes realizadas posteriormente revelaram que várias dessas mortes tinham indícios de execuções extrajudiciais.
21/07/2022 – Complexo do Alemão: 16 mortos
Pouco mais de três anos antes da operação desta segunda-feira (28/10), o Complexo do Alemão havia sido palco de outra ação policial, que deixou 16 mortos.
A ação foi iniciada por homens do Bope e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) após um PM ser baleado e morto durante um ataque a uma base da Unidade de Polícia Pacificadora do Alemão. Entre os 16 mortos estava Leticia Marinho, de 50 anos, que estava dentro de um carro com o namorado quando foi baleada.
À época, grupos de ativistas e ONGs disseram que boa parte das mortes parecia ter ocorrido como vingança das tropas policiais pela morte do cabo da PM poucas horas antes.
08/02/2019 – Fallet/Fogueteiro: 15 mortos
À época a operação policial mais letal em mais de uma década, a ação no Morro do Fallet-Fogueteiro, na região de Santa Teresa, deixou 15 mortos – nove foram mortos na mesma casa. Na ocasião, a PM afirmou que bandidos armados começaram um confronto com forças policiais, em meio a uma guerra entre facções criminosas na região.
Parentes afirmaram que várias das vítimas já haviam sido rendidas quando foram mortas pelos policiais. No entanto, um inquérito instaurado pela Polícia Militar do Rio para investigar a operação concluiu “ausência de crime ou transgressão por parte dos policiais militares envolvidos no caso”. A Defensoria apontou uma série de irregularidades nas investigações e indícios de torturas nas vítimas.
O então governador, Wilson Witzel, minimizou as suspeitas e declarou que a operação foi legítima antes mesmo da conclusão das investigações.
jps/as (ots)