Oito itens usados por rainhas e imperatrizes francesas foram roubados em ação de sete minutos. Especialistas discutem destino das joias, que podem ser desmembradas e vendidas.O rápido assalto ao Museu do Louvre, na França, neste domingo (19/10) privou o país de oito joias históricas de valor considerado “inestimável” pelo governo francês.

Em plena luz do dia e em questão de sete minutos, um grupo de quatro criminosos invadiu o local e subtraiu itens como tiaras, broches e colares usados principalmente ao longo do século 19 por rainhas e imperatrizes ligadas a Napoleão Bonaparte.

A ação ocorreu enquanto o museu estava aberto ao público. Os assaltantes, com rostos cobertos, utilizaram pequenas motosserras para quebrar as vitrines da Galeria de Apolo, onde é exibida parte da coleção de joias da coroa francesa, e fugiram em motocicletas.

O museu permaneceu fechado nesta segunda-feira, pelo segundo dia consecutivo, enquanto uma equipe de sessenta investigadores trabalha para esclarecer o caso.

Quais joias foram roubadas?

Segundo o Ministério da Cultura da França, oito peças foram roubadas:

Colar e par de brincos de esmeraldas da imperatriz Maria Luísa (1791-1847), segunda esposa de Napoleão Bonaparte, que usava o título de Napoleão 1º. Somente o colar possui 32 esmeraldas e mais de 1,1 mil diamantes.

Tiara usada pela imperatriz Eugênia (1826-1920), esposa de Napoleão 3º, imperador da França e sobrinho de Napoleão Bonaparte, com 212 pérolas, 1.998 diamantes e 992 diamantes de lapidação rosa. Também foi subtraído um broche em formato de laço decorativo, com mais de 2,4 mil diamantes.

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Tiara, colar e par de brincos de safira usados pela rainha Maria Amélia (1782-1866), rainha da França entre 1830 e 1848, e pela rainha Hortense, rainha consorte da Holanda entre 1806 e 1810, mãe de Napoleão 3º. Apenas o colar contém oito safiras e 631 diamantes incrustados em montagens de ouro.

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Os ladrões chegaram a roubar também um segundo broche relicário, além de uma coroa usada por Eugênia. Mas a coroa, coberta por mais de 1,3 mil diamantes e 56 esmeraldas, foi encontrada na rua, perto do museu, e aparentemente derrubada durante a fuga.

Como o roubo aconteceu?

Às 9h30 da manhã no horário local (4h30 de Brasília), quatro ladrões pararam um veículo do lado de fora do Louvre, em uma rua ao longo do rio Sena, meia hora após a abertura dos portões do museu.

No local, eles posicionaram um caminhão com uma escada extensível e a usaram para alcançar uma varanda no segundo andar.

Dois criminosos entraram pela janela usando ferramentas elétricas e conseguiram acessar a Galeria de Apolo, um espaço ornamentado com folhas de ouro e pinturas, que serviu de modelo para o famoso Salão dos Espelhos do Palácio de Versalhes.

Eles não estavam armados, mas ameaçaram guardas do museu com as ferramentas usadas no roubo. Elas também foram usadas para quebrar o vidro de duas vitrines localizadas no centro da Galeria.

Os criminosos fugiram em motocicletas, segundo informou à imprensa a promotora de Justiça de Paris, Laure Beccuau. A quadrilha ainda tentou incendiar o veículo estacionado ao lado de fora, mas foi impedida pela intervenção de um funcionário do museu, acrescentou o Ministério da Cultura.

O ministro do Interior, Laurent Nuñez, disse que os ladrões eram “experientes” e não descartou que se trate de uma quadrilha internacional conhecida por delitos semelhantes. Segundo ele, as joias têm valor “inestimável” e são um “patrimônio incomensurável”. A procuradoria de Paris abriu uma investigação por roubo organizado e conspiração criminosa, com o apoio de uma unidade especializada em tráfico ilegal de bens culturais.

“É certo que falhamos”, diz ministro francês

Algumas peças superaram os 30 milhões de dólares em leilões passados, como a coroa de Eugênia, abandonada durante a fuga. O item foi vendido em 1988 e posteriormente doado ao Louvre.

Para autoridades, o roubo representa um golpe simbólico para a imagem da França. “O que é certo é que falhamos”, afirmou o ministro da Justiça Gérald Darmanin à imprensa, ao admitir que o crime projeta “uma imagem muito negativa” do país.

O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que “os autores serão levados à Justiça” e que as obras serão recuperadas.

Este é o primeiro roubo ao Louvre desde 1998. E embora não supere o célebre furto da Mona Lisa em 1911, reacende um desafio ao governo francês de proteger suas peças históricas. No mês passado, ladrões já haviam roubado ouro do Museu Nacional de História Natural de Paris e três peças de porcelana do Museu Nacional da Porcelana de Limoges, com perdas estimadas em milhões de dólares.

Para onde as peças irão?

O rastro dos ladrões permanece frio. Investigadores estão examinando possíveis ligações com redes de bens roubados do Leste Europeu, que adquirem objetos de arte em nome de colecionadores ou os utilizam como moeda em negociações ilegais.

Especialistas agora discutem sobre o destino que as peças históricas podem tomar. Para Alexandre Giquello, presidente da casa de leilões francesa Drouot, os criminosos costumam se interessar por joias porque são mais fáceis de desmontar e revender, ao contrário das obras de arte que são mais reconhecíveis.

Esta também é a tese do detetive de arte holandês Arthur Brand. Para ele, os criminosos provavelmente devem retirar os milhares de diamantes e outras gemas dos artefatos históricos antes de derreterem o ouro e a prata.

“Se você der dois ou três meses, eles podem ter vendido os diamantes. Então agora é realmente uma corrida contra o tempo. Quanto mais cedo pegarem os ladrões, mais provável é que encontrem o butim”, afirmou.

Brand também descarta a tese de um roubo por encomenda. “Ninguém tocaria nesses itens. Não há um colecionador secreto tentando pegar essas coisas, porque se você for pego, acaba na cadeia. Isso é só coisa de filme de Hollywood. Esses caras tentam derreter, desmontar esses itens, para tentar vendê-los.”

Tim Carpenter, chefe da organização de proteção à arte Argus Cultural Property Consultancy, que liderou a divisão de crimes artísticos do FBI, discorda. Ele admite que metais e pedras preciosas têm sido cada vez mais alvo de ladrões, particularmente na Europa, mas o especialista acredita que as peças roubadas do Louvre não serão destruídas.

“São peças muito importantes, e meu palpite é que esses criminosos vão querer mantê-las juntas. Elas são altamente identificáveis.”

gq/ra (DW, AP, Reuters, ots)