Virada do ano na Alemanha é marcada por prontos-socorros lotados, atos de violência envolvendo rojões e foguetes e danos ambientais. Mesmo assim, empresas do setor relevam aumento na procura por esses produtos.A poucos dias das festas de Ano Novo, ressurge a polêmica em torno do uso de fogos de artifício na Alemanha, com críticas à indústria e apelos por restrições mais rigorosas. Ao mesmo tempo, as empresas do setor registram uma alta na procura por esses produtos.

Os críticos da prática apontam, além dos riscos à vida humana e à propriedade privada, também o impacto ambiental que ela gera, perturbando ecossistemas, lançando poluentes na atmosfera e produzindo toneladas de lixo. A concentração de micropartículas no ar das capitais alemãs chega a subir 70 vezes após a queima de fogos, segundo o Ministério alemão do Meio Ambiente.

Animais selvagens, incluindo pássaros, ficam sob forte estresse durante as queimas de fogos e gastam as reservas de energia necessárias para sobreviver ao inverno.

Cenas de guerra nas ruas

Além disso, há também problemas relacionados à violência. Em cidades como Berlim, as comemorações de Ano Novo são frequentemente comparadas a cenas de guerra, com grupos rivais utilizando os fogos como armas uns contra os outros.

O sindicato da polícia alemã GDP alertou que policiais e outros socorristas são cada vez mais alvejados por fogos de artifício durante as comemorações do Ano Novo.

A venda de fogos de artifício é legal na Alemanha somente entre os dias 29 e 31 de dezembro.

Pelas leis atuais, o uso de fogos ilegais na Alemanha pode ser punido com até três anos de prisão ou multa de até 50 mil euros. Se o uso provocar ferimentos em uma outra pessoa, ou se o dispositivo for atirado propositalmente em direção a outras pessoas – algo que ocorre com frequência, mas que é difícil de provar em juízo –, a pena pode chegar a até cinco anos.

Associação Médica defende proibição

O presidente da Associação Médica Alemã, Klaus Reinhardt, pediu urgentemente a proibição dos fogos de artifício privados. Ele lembra que, todos os anos, as comemorações da virada de ano são marcadas por ferimentos graves causados pelo manuseio descuidado desses artefatos.

“Ninguém tem nada contra espetáculos organizados de fogos de artifício em locais centrais, mas os fogos ilegais devem ser proibidos”, afirmou Reinhardt em entrevista divulgada neste sábado (27/12) pelo grupo alemão RND Media.

Ele instou as autoridades federais e estaduais a tomarem medidas urgentes para proteger o público dos perigos associados aos fogos de artifício.

Reinhardt afirmou que a proibição de fogos de artifício privados “não tem nada a ver com uma cultura de proibição”, mas sim reflete “a maturidade de uma sociedade que entende quando se abster de algo perigoso”.

O presidente da Associação Médica lembrou que fogos de artifício não regulamentados causam repetidamente ferimentos graves, incluindo lesões oculares e queimaduras, com crianças e jovens frequentemente afetados por traumas causados por explosões.

“Isso lota os prontos-socorros dos hospitais e custa milhões ao sistema nacional de saúde”, argumentou.

Fogos desencadeiam traumas de guerra

Reinhardt descreveu a celebração do Ano Novo com fogos de artifício como algo “completamente inadequado” em um país que abriga um grande número de refugiados de guerra, por exemplo, da Ucrânia ou da Síria .

“Muitos deles vivenciaram bombardeios em seus países de origem. Os fogos de artifício da véspera de Ano Novo frequentemente desencadeiam o medo da morte”, destacou.

O diretor-geral da Associação Federal de Pirotecnia e Fogos de Artifício Artísticos, Christoph Kröpl, criticou as declarações de Reinhardt, dizendo que os prontos-socorros não lotam na véspera de Ano Novo por causa dos fogos, mas sim devido ao consumo excessivo de álcool. Diante disso, faria mais sentido pedir a proibição do álcool na virada do ano, ironizou.

Vendas em alta

Apesar dos apelos por restrições mais rigorosas, as empresas do setor relatam um aumento na procura por fogos para as festas do Ano Novo.

A Weco, a maior fabricante de fogos de artifício da Alemanha, afirmou que o volume de foguetes, bombinhas, baterias de fogos de artifício e outros produtos pirotécnicos disponíveis nas lojas este ano é cerca de 10% superior ao do ano passado.

Outra empresa do setor, a Comet, também relatou um aumento moderado na oferta.

Os artigos não vendidos são devolvidos aos fabricantes, embora a Weco tenha afirmado que a taxa de devoluções no ano passado foi inferior ao esperado.

A Weco possui cerca de 260 funcionários, mas produz apenas 15% do que vende, sendo o restante proveniente da China. Seu faturamento ultrapassou 136 milhões de euros (R$ 887 milhões) no ano fiscal de 2023-2024. Outras empresas do setor importam todos os seus produtos, principalmente da China.

rc (DPA)