30/04/2020 - 12:28
Nosso sistema solar tem um rei. O planeta Júpiter, cujo nome homenageia o deus mais poderoso do panteão grego, dominou os outros planetas através de sua influência gravitacional. Júpiter tem o dobro da massa de Saturno e 300 vezes a massa da Terra, e seu menor movimento é sentido por todos os outros planetas. Pensa-se que Júpiter seja responsável pelo pequeno tamanho de Marte, pela presença do Cinturão de Asteroides e por uma cascata de cometas que trouxeram água à jovem Terra.
Uma equipe de astrônomos liderada pelo Instituto de Astronomia da Universidade do Havaí (UH IfA) descobriu um equivalente de Júpiter em um sistema planetário distante: Kepler-88 d, um exoplaneta com massa três vezes maior que a do rei dos planetas do Sistema Solar. O artigo anunciando a descoberta foi publicado na edição de ontem (29 de abril) da revista “Astronomical Journal”.
Kepler-88, também conhecido como KOI-142, é uma estrela parecida com o Sol, localizada a 1.243 anos-luz de distância na constelação de Lira.
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A revelação da existência de Kepler-88 d é baseada em seis anos de dados coletados no Observatório W.M. Keck em Maunakea, no Havaí. A equipe confirmou que o planeta orbita sua estrela a cada quatro anos e sua órbita não é circular, mas elíptica. Kepler-88 d é o planeta mais massivo deste sistema.
Variações de tempo incomuns
O sistema Kepler-88 já era famoso entre os astrônomos por dois planetas que orbitam bem perto da estrela, Kepler-88 b e c (os planetas são tipicamente nomeados em ordem alfabética na ordem de sua descoberta).
Esses dois planetas têm uma dinâmica bizarra e impressionante chamada ressonância de movimento médio. O planeta b, do tamanho de um sub-Netuno, orbita a estrela em apenas 11 dias, o que é quase exatamente metade do período orbital de 22 dias do planeta c, cuja massa é comparável à de Júpiter. A natureza mecânica de suas órbitas é energeticamente eficiente, como um pai empurrando uma criança em um balanço. A cada duas voltas que o planeta b faz ao redor da estrela, ele é “bombeado”. O planeta externo, Kepler-88 c, é 20 vezes mais massivo que o planeta b, e por isso sua força resulta em mudanças dramáticas no tempo orbital do planeta interior.
Os astrônomos observaram essas mudanças, chamadas variações de tempo de trânsito (TTVs, na abreviatura em inglês), com o Telescópio Espacial Kepler, da Nasa, que detectou os momentos precisos em que o Kepler-88 b cruzou (ou transitou) entre a estrela e o telescópio. Embora TTVs tenham sido detectadas em algumas dezenas de sistemas planetários, o Kepler-88b possui algumas das maiores variações de tempo. Com os trânsitos chegando até meio dia antes ou mais tarde, o sistema é conhecido como “o rei das TTVs”.
Busca em outros sistemas
O planeta recém-descoberto acrescenta outra dimensão ao entendimento do sistema pelos astrônomos.
“Com três vezes a massa de Júpiter, o Kepler-88 d provavelmente foi ainda mais influente na história do sistema Kepler-88 do que o chamado rei Kepler-88 c, que tem apenas uma massa de Júpiter”, disse Lauren Weiss, pós-doutoranda na UH IfA e autora principal da equipe de descoberta. “Então, talvez o Kepler-88 d seja o novo monarca supremo deste império planetário – a imperatriz.”
Talvez esses soberanos extrassolares tenham tido tanta influência quanto Júpiter no Sistema Solar. Tais planetas poderiam ter promovido o desenvolvimento de planetas rochosos e direcionado cometas com água para eles. Weiss e colegas estão procurando corpos com massas semelhantes em outros sistemas com pequenos planetas.