WASHINGTON (Reuters) – Os anéis de Saturno estão entre as maravilhas do nosso sistema solar, com um diâmetro de cerca de 280.000 quilômetros ao redor do planeta gigante. Mas os corpos celestes menores do sistema solar também possuem sistemas de anéis que são impressionantes por si só, mesmo que sua escala não seja tão grande.

Cientistas disseram que observaram pela primeira vez um sistema de anéis em processo de formação e evolução, composto por quatro anéis e material difuso, em torno de um pequeno corpo gelado chamado Chiron, que orbita o Sol na extensão entre Saturno e Urano.

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Chiron faz parte de uma classe de objetos chamados centauros que povoam o sistema solar externo entre Júpiter e Netuno, apresentando características tanto de asteroides quanto de cometas. Formalmente chamado de “(2060) Chiron”, ele tem um diâmetro de cerca de 200 quilômetros e leva cerca de 50 anos para completar uma órbita ao redor do Sol. Os centauros são compostos principalmente de rocha, gelo de água e compostos orgânicos complexos.

Desde a sua descoberta em 1977, os astrônomos têm observado Chiron de vez em quando, e há anos sabiam que ele estava cercado por algum tipo de material. Na nova pesquisa, os cientistas obtiveram seus melhores dados sobre Chiron em 2023, usando um telescópio no Observatório do Pico dos Dias, no Brasil, além de dados de 2011, 2018 e 2022.

Os pesquisadores disseram que essas observações mostraram claramente que ele é cercado por anéis bem definidos — três densos a cerca de 273 km, 325 km e 438 km do centro de Chiron, e um quarto a aproximadamente 1.400 km do centro. Essa característica externa, detectada pela primeira vez, encontra-se excepcionalmente longe de Chiron e, segundo eles, requer mais observações para confirmar sua estabilidade como um anel. Os três anéis internos estão incrustados em poeira que gira em torno deles, formando um disco.

Comparando os dados das várias observações de Chiron, os pesquisadores detectaram mudanças significativas no sistema de anéis, evidência clara de que seus anéis estão evoluindo em tempo real, de acordo com Chrystian Luciano Pereira, pesquisador de pós-doutorado do Observatório Nacional no Brasil e principal autor do estudo publicado no Astrophysical Journal Letters.

“Isso proporciona um raro vislumbre de como essas estruturas se originam e mudam”, disse Pereira.

Os anéis de Chiron, acrescentou Pereira, provavelmente são compostos principalmente de gelo de água misturado com pequenas quantidades de material rochoso, como os de Saturno. O gelo de água pode desempenhar um papel fundamental na estabilidade dos sistemas de anéis porque suas propriedades físicas permitem que as partículas permaneçam separadas em vez de se fundirem em uma Lua.

Chiron apresenta atividade ocasional semelhante à de um cometa, ejetando gás e poeira no espaço. Em 1993, Chiron chegou a exibir uma pequena cauda de material, como acontece com os cometas.

Os pesquisadores disseram que seus anéis podem ser feitos de material remanescente de uma possível colisão que destruiu uma pequena Lua de Chiron ou de alguma outra colisão de detritos espaciais, ou podem ser do material ejetado do próprio Chiron — ou talvez de alguma combinação desses fatores.

“É um sistema em evolução que nos ajudará a entender os mecanismos dinâmicos que regem a criação de anéis e satélites em torno de pequenos corpos, com possíveis implicações para vários tipos de dinâmica de disco no universo”, disse o astrônomo e coautor do estudo, Braga Ribas, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná e do Laboratório Interinstitucional de e-Astronomia no Brasil.

Todos os quatro grandes planetas externos do sistema solar — Júpiter, Saturno, Urano e Netuno — têm anéis, sendo o de Saturno o maior. Mas, desde 2014, os astrônomos descobriram que alguns de seus corpos menores também os têm. Chiron eleva esse número para quatro, juntando-se ao centauro Chariklo e a dois mundos gelados além de Netuno — Haumea e Quaoar.

“Essa diversidade nos lembra que a formação de anéis não é exclusiva de planetas grandes. É um processo universal que pode ocorrer onde quer que existam as condições físicas adequadas”, afirmou Pereira.