25/08/2025 - 14:41
Repórteres de Reuters, Associated Press, Al Jazeera e outros veículos morreram após dois mísseis atingirem um hospital no sul da Faixa de Gaza durante transmissão ao vivo. Israel nega ter mirado jornalistas.Um ataque israelense a um hospital na Faixa de Gaza deixou ao menos 20 pessoas mortas nesta segunda-feira (25/08), incluindo cinco jornalistas que trabalhavam para as agências de notícia Reuters e Associated Press, além da emissora Al Jazeera.
O cinegrafista Hussam al-Masri, contratado pela Reuters, foi atingido por um primeiro míssil enquanto monitorava uma transmissão ao vivo para a agência, em um andar logo abaixo do telhado do hospital Nasser, em Khan Yunis, sul do território palestino.
Funcionários do hospital e testemunhas disseram que Israel então atingiu o local uma segunda vez, matando outros quatro jornalistas, além de equipes de resgate e profissionais de saúde que haviam corrido para socorrer as vítimas do primeiro impacto.
Entre os jornalistas mortos estavam Mariam Abu Dagga, freelancer da Associated Press e de outros veículos, Mohammed Salama, que trabalhava para a emissora Al Jazeera, Moaz Abu Taha, jornalista independente que colaborava com várias organizações de mídia, incluindo a Reuters, e Ahmed Abu Aziz, que atuava como freelancer para o site Middle East Eye.
O fotógrafo Hatem Khaled, também contratado pela Reuters, ficou ferido.
Israel anuncia abertura de investigação
As Forças de Defesa de Israel (FDI) reconheceram ter atingido a área do hospital e disseram que o chefe do Estado-Maior ordenou uma investigação.
“Lamentamos qualquer dano a indivíduos não envolvidos e não temos como alvo jornalistas. As FDI atuam para mitigar danos a civis na medida do possível, mantendo a segurança das tropas”, afirmaram, em nota.
Já o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que Israel lamenta profundamente o que descreveu como um “trágico acidente”.
“Nossa guerra é contra os terroristas do Hamas. Nossos objetivos justos são derrotar o Hamas e trazer nossos reféns de volta para casa”, disse ele.
A tragédia acontece duas semanas após Israel matar o também correspondente da Al Jazeera, Anas Al-Sharif, e outros quatro jornalistas em um ataque. Na ocasião, o país reconheceu que mirou Sharif, alegando que ele trabalhava para o grupo fundamentalista palestino Hamas, o que a emissora negou.
Associações acusam “guerra aberta contra a mídia”
Um porta-voz da Reuters disse que a agência está “devastada” pelo ocorrido. “Estamos buscando urgentemente mais informações e pedimos às autoridades em Gaza e Israel que nos ajudem a obter assistência médica imediata para Hatem”, acrescentou.
A AP afirmou estar “chocada e entristecida” com as mortes de Abu Dagga e outros jornalistas, acrescentando que ela frequentemente se baseava no hospital para suas coberturas, incluindo reportagens recentes sobre crianças famintas e desnutridas.
O Sindicato dos Jornalistas Palestinos acusou Israel de promover “uma guerra aberta contra a mídia livre, com o objetivo de aterrorizar jornalistas e impedir que cumpram seu dever profissional de expor seus crimes ao mundo”.
Dados da associação indicam que mais de 240 jornalistas palestinos foram mortos por fogo israelense desde 7 de outubro de 2023, data em que um atentado terrorista liderado por militantes do Hamas deixou 1,2 mil mortos em Israel.
O Comitê para a Proteção dos Jornalistas, que contabiliza 197 profissionais de imprensa mortos desde o início do conflito, pediu à comunidade internacional que “responsabilize Israel por seus contínuos ataques ilegais contra a imprensa”.
A Associação da Imprensa Estrangeira, que tem sede em Israel, também classificou o episódio como “um dos ataques israelenses mais letais contra jornalistas que trabalham para a mídia internacional desde o início da guerra em Gaza”.
Segundo a entidade, o bombardeio atingiu uma escadaria externa do hospital onde jornalistas frequentemente se posicionavam para coberturas, e ocorreu sem qualquer aviso prévio
Países repudiam ataque
Questionado sobre a ofensiva, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que não foi avisado previamente que um hospital em Gaza seria atingido e alegou que “não está satisfeito” com o ocorrido.
“Não estou feliz com isso. Não quero ver isso. Ao mesmo tempo, precisamos acabar com esse […] pesadelo”, disse Trump a repórteres na Casa Branca.
No Reino Unido, o ministro das Relações Exteriores, David Lammy, declarou estar “horrorizado” com os bombardeios ao hospital Nasser, em Khan Yunis. “Civis, profissionais de saúde e jornalistas precisam ser protegidos. Precisamos de um cessar-fogo imediato”, escreveu na rede X.
Já o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha afirmou em comunicado que o país está “chocado” com a morte de jornalistas e socorristas civis e pediu que a ação militar seja investigada.
Gaza mortal para jornalistas
A transmissão ao vivo da Reuters a partir do hospital Nasser, que estava sendo operada por Masri, foi abruptamente interrompida no momento do primeiro ataque.
A agência de notícias e outros veículos frequentemente transmitem imagens ao vivo para emissoras do mundo todo durante grandes eventos noticiosos, para mostrar a situação em tempo real. A agência vinha divulgando imagens regularmente do local e, nas últimas semanas, mantinha transmissões diárias.
Israel proibiu a entrada de jornalistas estrangeiros na Faixa de Gaza desde o início da guerra, em 2023. Toda a cobertura a partir do território tem sido realizada por jornalistas palestinos, muitos deles com anos de experiência trabalhando para veículos internacionais.
Israel também afirmou estar investigando a morte de Issam Abdallah, jornalista da Reuters morto no sul do Líbano por disparos de tanque israelense em outubro de 2023. Até agora, nenhuma conclusão foi divulgada.
gq/ra (Reuters, AP, AFP, DPA)