Às 12h42 de 20 de julho de 1944, uma bomba explodiu na barraca de reuniões do quartel-general Wolfsschanze, do Exército nazista, na Prússia Oriental. Depositada pelo conde Claus Schenk von Stauffenberg, coronel da Wehrmacht, sua finalidade era matar o ditador Adolf Hitler.

Antes nacional-socialista fervoroso, agora, após cinco anos de Segunda Guerra Mundial, com a Alemanha perdendo visivelmente, Stauffenberg não via alternativa: “Então não há mais nada a fazer além de matá-lo”, dissera Stauffenberg alguns dias antes a seus confidentes mais próximos.

Stauffenberg não foi apenas o autor do atentado, mas também o principal organizador de uma tentativa de golpe em ampla escala por parte de círculos conservadores, que incluíam militares de alta patente – vários de origem nobre –, diplomatas e funcionários administrativos.

O oficial deixou a sala pouco antes de a bomba detonar, e do lado de fora viu a explosão. Ao voar para Berlim pouco depois, acreditava que Hitler estava morto.

Na capital, se iniciava a Operação Valquíria, originalmente um plano da Wehrmacht (Forças Armadas nazistas) para suprimir uma possível revolta. Os conspiradores, espalhados por toda parte em postos decisivos do aparato estatal, pretendiam transformar a operação num golpe.

Fim sumário da tentativa de golpe

Mas Hitler escapou com uns poucos ferimentos leves. A pesada mesa de carvalho e as janelas da sala, escancaradas devido ao calor do verão, desviaram a pressão da explosão. De início, no entanto, um golpe não estava descartado, se os envolvidos tivessem executado sem desvios a Operação Valquíria.

Mas houve atrasos, contratempos e planejamento deficiente. Além disso, sob a enorme pressão de serem descobertos, alguns dos membros ficaram passivos ou até mesmo trocaram de lado. À noite, já era claro que a tentativa de golpe fracassara. Hitler se dirigiu à população pelo rádio, evocando a “providência” que o salvara.

Stauffenberg e vários outros conspiradores foram presos e fuzilados no mesmo dia. Outros foram descobertos mais tarde. No total, foram executados cerca de 200 membros da resistência.

Para o historiador Wolfgang Benz, a principal razão para o fracasso foi “nenhum dos famosos comandantes do Exército” da época, como o general Erwin Rommel, ter aderido diretamente à operação: “Pelo menos um deles deveria ter assumido a liderança, então o povo diria: ‘Ah, o Rommel também considera o Hitler um criminoso.'”

Apesar disso, o 20 de julho de 1944 se tornou um forte símbolo da resistência contra Hitler. Henning von Tresckow, co-conspirador de Stauffenberg, chegara à conclusão, alguns dias antes, de que o fator decisivo não era o êxito, “mas que o movimento de resistência alemão ousou fazer a jogada decisiva, perante o mundo e a história, pondo a própria vida em risco”.

Culto discutível

A celebração do atentado teve sua própria história: até muito depois da guerra, os autores eram considerados traidores. Inicialmente negou-se uma pensão à viúva de Stauffenberg. Mais tarde os conspiradores ganharam o status oficial de heróis: são numerosas as ruas, escolas e quartéis com seus nomes; bandeiras são hasteadas diante de prédios públicos no 20 de Julho.

No aniversário do atentado, realizam-se cerimônias de juramento dos recrutas da Bundeswehr. Para os militares da Alemanha democrática, os membros da resistência liderados pelo ex-oficial da Wehrmacht Stauffenberg são figuras de identificação.

Mas sempre houve vozes críticas a esse culto. O biógrafo de Stauffenberg, Thomas Karlauf, ressalta que o grupo só passou a agir em meados de 1944, logo após o desembarque dos aliados na Normandia. Mas por volta de 1940, após as rápidas vitórias militares sobre a Polônia e a França, Stauffenberg ainda se referia às conquistas com entusiasmo: “Que transformação, em prazo tão curto!”

Para ele e outros homens de resistência militar, houve um “caminho muito, muito longo até a catarse”, diz Benz, acrescentando: “O Holocausto não lhes interessava de forma alguma.” Diante da iminente derrota militar, pretendia-se, através de um golpe de Estado, “salvar o que podia ser salvo” para a Alemanha.

Stauffenberg não foi o único

Segundo o também historiador Johannes Hürter, Stauffenberg não era um democrata e imaginava uma forma autoritária de governo para a Alemanha, caso o atentado tivesse sido bem-sucedido.

Wolfgang Benz é menos severo: “De qualquer modo, a Alemanha teria voltado a ser um Estado de Direito, mas uma democracia nos nossos moldes, como estabelecido na Lei Fundamental [Constituição] alemã, não era a visão dos conspiradores do 20 de Julho.”

Quando se trata de resistência contra o nacional-socialismo, muitos alemães pensam, em primeira linha, nesse episódio, com o conde Claus Schenk von Stauffenberg como figura de proa do movimento.

Mas houve outras ações, como a quase bem-sucedida tentativa do artesão Georg Elser, em 1939, de matar Hitler com uma bomba caseira na cervejaria Bürgerbräukeller em Munique, onde o ditador discursava; ou a distribuição de panfletos pelo grupo de resistência antinazista Rosa Branca.

Mais tarde, tais ações ficaram injustamente na sombra da “resistência tardia, para não dizer atrasada, das elites conservadoras”, como Wolfgang Benz define o atentado de 20 de julho de 1944.

Certo é que muitos outros heróis e heroínas se ergueram contra o terror do regime: judeus, comunistas, eclesiásticos, artistas, ativistas. E certamente também gente que resistiu de forma silenciosa, quase invisível, e cujas ações hoje caíram no esquecimento.