11/06/2025 - 20:35
Thiago Ávila foi transferido para cela isolada após iniciar greve de fome, segundo advogados; mais sete ativistas detidos ao tentar furar bloqueio a Gaza continuam presos.Os advogados que acompanham o caso do ativista brasileiro Thiago Ávila, detido pelo governo de Israel no último dia 8 por tentar furar o bloqueio à Faixa Gaza de barco com mais 11 pessoas, informaram nesta quarta-feira (11/06) que ele foi colocado em confinamento solitário.
Segundo a organização de direitos humanos israelense Adalah, responsável pela defesa dos detidos, Ávila foi transferido para outra prisão, separado dos demais ativistas, e isolado numa cela sem luz e ventilação, por ter iniciado uma greve de fome por sua libertação.
Ávila faz parte da Flotilha da Liberdade, iniciativa internacional formada por ativistas de direitos humanos que organizam expedições marítimas. Na última missão, seus integrantes, incluindo a ambientalista sueca Greta Thunberg, tentaram levar uma quantidade simbólica de mantimentos ao enclave devastado pela guerra, onde cerca de dois milhões de palestinos estão à beira da fome total devido ao bloqueio imposto por Israel há mais de três meses à entrada de ajuda humanitária.
Ávila não foi deportado imediatamente, como Thunberg, por ter se negado a assinar documento em que reconheceria que cometeu um crime de tentar entrar em Israel sem autorização. Segundo a Flotilha, o grupo concordou que a ambientalista e outros presos assinassem o documento para que, voltando a seus países, pudessem denunciar a situação.
Oito ativistas da expedição seguem detidos no país até a próxima audiência, marcada para 8 de julho. A organização afirma, contudo, que eles podem ser deportados ainda esta semana, pois a lei israelense estabelece um período de detenção mínimo de 72 horas antes de fazer deportações forçadas.
“[A defesa] informa que Israel ameaçou deixá-lo na solitária por 7 dias em uma cela escura, pequena, sem ar e sem acesso a ninguém”, diz comunicado da Flotilha da Liberdade Brasil, entidade que organizou a missão humanitária para a Faixa de Gaza. O caso é considerado crime de guerra pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos.
A defesa sustenta que eles não cometeram crime e que foram sequestrados por Israel, já que a interceptação do barco que levava alimentos e remédios a Gaza ocorreu em águas internacionais. Os advogados da Adalah pedem a libertação imediata de todos os ativistas que seguem presos e o fim das ações de retaliação.
“Thiago Ávila foi colocado em isolamento na prisão de Ayalon por causa de sua greve de fome e sede, que começou há dois dias. Ele também tem sido tratado agressivamente pelas autoridades prisionais, apesar de que não tenha escalado para uma agressão física”, informou a coalizão que tentou furar o bloqueio de Israel contra Gaza.
Informações conflitantes
A esposa de Thiago, Laura Souza, disse que, poucas horas após ser informada da decisão sobre a deportação, recebeu ligação da advogada avisando sobre a transferência para a cela solitária.
“Há informações conflitantes. Eles estão dizendo que ele partirá no próximo voo e depois marcando uma audiência para julho. Então, estou muito nervosa e não sei bem o que está acontecendo”, afirmou em suas redes sociais.
Outra ativista, a euro-deputada franco-palestina Rima Hassan, também teria sido colocada em solitária após escrever “Palestina Livre” na parede da cela. Porém, posteriormente, a Flotilha informou que ela retornou para prisão de Givon, onde estão os demais ativistas presos.
Em nota, a Embaixada de Israel em Brasília afirmou à Agência Brasil que o brasileiro está sob custódia das autoridades israelenses. “Diante do fato de que ele se recusou a assinar uma deportação voluntária, ele precisa passar por um processo legal que permitirá isso”, diz o texto.
Na noite de quarta, o Itamaraty publicou nota condenando a prisão do brasileiro, informando que acompanha o caso e exigindo a libertação dos presos, sem dar mais informações sobre as condições em que Ávila se encontra. Segundo o MRE, a prisão em águas internacionais é uma “flagrante transgressão ao direito internacional”.
“O Brasil clama pela libertação de seu nacional e insta Israel a zelar pelo seu bem-estar e saúde”, diz o comunicado.
“Em contexto de gravíssima situação humanitária na Faixa de Gaza, onde há fome e desnutrição generalizadas, o Brasil deplora a continuidade de severas restrições, em violação ao direito internacional humanitário, à entrada de itens básicos de subsistência no Estado da Palestina”, prossegue.
Bloqueio e protestos
Após limitar a entrada de ajuda humanitária nos 20 meses de guerra, o governo de Israel bloqueou completamente a entrada de medicamentos ou alimentos no dia 2 de março de 2025. Após forte pressão internacional, a entrega de ajuda foi retomada por meio de uma organização americana apoiada por Israel, a GHF.
A ONU afirma que a forma de distribuição de alimentos é desumana e a quantidade, insuficiente.
Seguindo o exemplo da Flotilha da Liberdade, milhares de ativistas de 51 países se articulam para uma marcha no Egito até a fronteira com Rafah, cidade ao sul de Gaza. Caravanas de países do Norte da África, da Turquia, e de todos os continentes esperam fazer uma marcha de três dias até Gaza para denunciar o cerco imposto por Israel à entrada de ajuda humanitária no território.
sf (Agência Brasil, ots)