A mítica Atlântida já foi situada nas ilhas gregas, no Oceano Atlântico e até no Mar do Norte. Uma hipótese diferente tem sido explorada há mais de uma década por cientistas italianos liderados pelo jornalista e escritor Sergio Frau, um dos fundadores do jornal La Repubblica: a de que a terra citada pelo filósofo grego Platão no livro Crítias seria a Sardenha, ilha a oeste da Itália.

Platão disse que a Atlântida ficava além das Colunas de Hércules, referência ligada ao Estreito de Gibraltar, no extremo oeste do Mar Mediterrâneo, desde o século 3 antes de Cristo. Frau acredita que tanto Platão quanto o historiador Heródoto e o filósofo Aristóteles se referiam, na verdade, ao estreito entre a Sicília e a Tunísia. Por essa versão, as ilhas do oeste do Mediterrâneo seriam a morada potencial da civilização atlante.

A Sardenha parece uma ótima candidata por várias razões. Em 1175 a.C., uma obscura catástrofe se abateu sobre ela e, segundo o historiador romano Plutarco, parte de seus habitantes fugiu para áreas­ mais altas, enquanto outros migraram para a Etrúria, na atual Itália. Muitos cemitérios etruscos contêm objetos ligados à Sardenha, como estatuetas de bronze e peças semelhantes a nuragos (fortes típicos com uma torre no centro; haveria até 20 mil deles na ilha). Datados entre os séculos 16 e 12 a.C., na Idade do Bronze, os nuragos do sul da Sardenha sumiram em meio a muita terra e vegetação – apenas aqueles acima de 500 metros de altitude foram poupados.

O sul da ilha, quando visto de cima, lembra “uma Pompeia marinha submersa pela lama”, diz Frau. Escavações ali revelaram um tesouro arqueológico, que inclui peças de cerâmica, taças, artefatos de metal, cinzéis, agulhas, pontas de flechas, lampiões a óleo e joias de ouro, prata e cristal. Tudo estava de tal modo misturado que, segundo o estudioso, era como se os moradores fugissem de repente, largando tudo.

Documentos antigos sugerem que uma onda gigantesca varreu a ilha, um fenômeno que, segundo alguns estudiosos, poderia ter sido causado pela queda de um cometa. Não se falava de maremotos no Mediterrâneo até os anos 1980, mas desde 2004 os cientistas já obtiveram evidências de 350 deles ao longo de 2.500 anos.

Segundo o geofísico italiano Stefano Tinti, especialista em maremotos e membro da equipe de Frau, a onda capaz de causar um estrago como o que afetou a civilização nurágica deveria ter cerca de 500 metros de altura. Para ele, apenas um cometa conseguiria esse efeito, desde que caísse perto da costa e estivesse numa direção bem específica.

A queda do cometa numa região próxima a Cagliari, no sul da ilha, se encaixaria nesse quadro. Ela geraria uma onda capaz de arrasar a planície de Campidano, que vai de Cagliari até o antigo porto de Tarros, no lado oeste da ilha. Tinti prevê que pesquisas submarinas naquela região poderão revelar evidências de sua hipótese, como fragmentos do corpo celeste.

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