19/12/2025 - 18:05
Em 2015, David Hole explorava o Parque Regional de Maryborough, na Austrália, com um detector de metais quando localizou uma rocha avermelhada e incomumente pesada. Por estar em uma região historicamente ligada à corrida do ouro do século XIX, Hole acreditou ter encontrado uma pepita gigante. No entanto, após anos tentando abrir o objeto com serras, esmerilhadeiras e até ácido, ele descobriu que a resistência da peça guardava um valor científico superior ao metal precioso: tratava-se de um meteorito raro.
Composição: o objeto de 17 quilos é um condrito ordinário H5, composto por alto teor de ferro e pequenas gotas cristalizadas de minerais conhecidas como côndrulos.
Idade: estimada em 4,6 bilhões de anos, a rocha é contemporânea à formação do Sistema Solar.
Raridade: é um dos apenas 17 meteoritos já registrados no estado de Victoria, na Austrália.
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Uma cápsula do tempo espacial
A peça foi analisada pelo geólogo Dermot Henry, do Museu de Melbourne, que confirmou a autenticidade do achado após examinar milhares de amostras falsas ao longo de décadas. O aspecto “esculpido” da rocha, repleto de covinhas, é resultado de sua entrada na atmosfera terrestre, onde o calor extremo derrete a superfície enquanto o ar a molda.
Segundo Henry, os meteoritos representam a forma mais acessível de exploração espacial. “Eles nos transportam de volta no tempo, fornecendo pistas sobre a idade, a formação e a composição química do nosso Sistema Solar”, explica o especialista. A datação por carbono sugere que o Maryborough caiu na Terra entre 100 e 1.000 anos atrás, possivelmente coincidindo com avistamentos de bólidos registrados entre 1889 e 1951.
“Este meteorito provavelmente veio do cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter, sendo empurrado por colisões até se chocar contra a Terra.”
Dermot Henry, geólogo do Museu de Melbourne
Valor científico e origens
Embora Hole tenha tentado acessar o interior da rocha por força bruta, apenas uma serra diamantada foi capaz de revelar sua estrutura interna. Além de ferro e minerais, alguns meteoritos similares contêm poeira estelar mais antiga que o sol e moléculas orgânicas, como aminoácidos, fundamentais para a vida.
O estudo sobre o exemplar foi publicado nos Anais da Sociedade Real de Vitória. Em um cenário onde pesquisas recentes, divulgadas em 2024, já conseguem rastrear a origem de 90% dos meteoritos conhecidos, o Maryborough reforça a importância de observar rochas atípicas no quintal. Casos de meteoritos usados por décadas como pesos de porta, antes de serem identificados, mostram que tesouros espaciais podem estar escondidos sob uma aparência comum.
