“Quero que tudo isto acabe. Peço às pessoas que estão destruindo coisas que parem”, disse avó, após morte de seu neto pela polícia desencadear uma onda de protestos violentos na França.A avó do adolescente que foi morto por um policial em um subúrbio de Paris durante uma blitz fez um apelo neste domingo (02/07) pelo fim dos violentos protestos nacionais que foram desencadeados pelo episódio. “Estou dizendo a eles [os manifestantes] para pararem”, disse a avó, identificada como Nadia pela mídia francesa, à emissora BFM TV. “Quero que tudo isto acabe. Peço às pessoas que estão destruindo coisas que parem. Não destruam as escolas”, disse, após cinco noite de protestos violentos que geraram tensão na França.

Ela disse que os manifestantes estão usando a morte de Nahel, que ocorreu em Nanterre na última terça-feira, como pretexto para semear mais violência e que a família deseja que a situação se acalme. “Confio na Justiça”, acrescentou ainda a avó do jovem morto, de 17 anos e descendente de árabes.

Por outro lado, a avó condenou as manifestações de apoio ao polícia que disparou contra o jovem. O colunista Jean Messiha, que apoiou a candidatura presidencial de extrema-direita de Éric Zemmour, em 2022, iniciou uma “vaquinha” para a família do policial, argumentando que este se limitou a fazer o seu trabalho e que “está pagando um preço alto” pela sua ação. Sobre essa campanha, que já teria arrecado 700 mil euros, Nadia disse: “Meu coração dói”.

Após as declarações da avó, o prefeito de Nanterre, Patrick Jarry, pediu à população que siga o apelo da família de Nahel Merzouk pelo fim dos protestos.

“Sei a angústia que é partilhada por um grande número de habitantes da nossa cidade, desde essas últimas noites, face aos acontecimentos. No sábado, uma imensa emoção percorreu Nanterre, no momento do funeral de Nahel no cemitério do Mont-Valérien. A família pediu-nos para não assistir e evidentemente respeitámos esse pedido”, indicou Jarry, em comunicado.

Na mesma nota, o prefeito agradeceu ainda à família e amigos que organizaram a cerimónia fúnebre “apesar da sua imensa dor, com grande dignidade”, e ainda à mesquita Ibn Badis e seus membros “que contribuíram com muita eficácia ao bom desenrolar da cerimónia fúnebre na qual participou uma considerável assistência”. “Após esta cerimónia, a família apela ao fim da violência. Peço a toda a população de Nanterre que apoie esta mensagem e que atue para que seja respeitada”, concluiu o prefeito.

Os últimos protestos, após o funeral de Nahel, no sábado, foram menos intensos do que na noite anterior, disse o governo. O ministro do Interior, Gerald Darmanin, disse que 45.000 policiais seriam novamente mobilizados na noite de domingo. Segundo o ministro, os 2.000 manifestantes que foram presos nos últimos são, em boa parte, menores de idade. A média de idade do grupo é de 17 anos.

Desde que Nahel foi baleado, manifestantes incendiaram carros e saquearam lojas, mas também visaram instituições do Estado – prefeituras e delegacias de polícia. A casa do prefeito de L'Hay-les-Roses, perto de Paris, foi atacada enquanto sua esposa e filhos dormiam lá dentro. Uma das crianças precisou receber atendimento médico por lesões, assim como a mãe, com uma perna quebrada.

Esse episódio provocou forte indignação social e o retumbante repúdio da classe política francesa. “Não vamos deixar passar nada. Estaremos ao lado dos prefeitos”, destacou hoje a primeira-ministra Élisabeth Borne, em visita a L'Haÿ-les-Roses.

O presidente Emmanuel Macron adiou uma visita de Estado à Alemanha que deveria ter começado neste domingo para lidar com a pior crise em seu mandato desde que os protestos dos “coletes amarelos” paralisaram grande parte da França no final de 2018.

Durante a noite de ontem, pelo menos 719 pessoas foram detidas, 45 policiais ficaram feridos, foram registrados 871 incêndios na via pública e danos em 74 edifícios, segundo o último balanço oficial disponível.

jps (AFP, EFE, Lusa)