Até esta terça, Hamas havia libertado 81 reféns e Israel, 180 prisioneiros palestinos. Expectativa é de nova troca nesta quarta, enquanto Egito, Catar e EUA negociam extensão da trégua.O grupo fundamentalista islâmico Hamas libertou na terça-feira (28/11) o quinto grupo de reféns como parte do acordo de cessar-fogo temporário. Integraram o grupo dez mulheres israelenses e dois tailandeses. Em contrapartida, Israel libertou 30 prisioneiros palestinos, sendo 15 deles menores de idade. A previsão é de que uma nova troca de reféns e prisioneiros ocorra nesta quarta-feira.

Em nota, o Serviço de Prisões israelense detalhou que foram libertos 17 moradores de Jerusalém Oriental – cinco mulheres e 12 menores – e 13 de vários locais da Cisjordânia, como Belém, Hebron, Nablus e Ramallah. Como nas outras quatro trocas, os reféns do Hamas foram entregues à Cruz Vermelha Internacional, que os transportou para o Egito.

Com a intermediação de Catar, Egito e Estados Unidos, o Hamas e Israel começaram na sexta-feira uma trégua de quatro dias nos combates, que depois foi prolongada por mais dois dias, prevista para terminar na manhã desta quinta-feira. Além da troca de reféns e prisioneiros, a pausa serve para enviar ajuda humanitária a Gaza, inclusive para o norte do território, onde acontecem os combates mais intensos.

Desde sexta-feira, o Hamas libertou 61 reféns israelenses como parte do acordo, além de 18 tailandeses e dois filipinos. Dentre os libertos, vários tinham dupla-cidadania, como alemã, francesa, argentina, americana e russa. Israel, por sua vez, libertou 180 prisioneiros palestinos, todos mulheres e menores de idade.

Extensão do cessar-fogo

Catar, Egito e EUA seguem negociando para que a trégua nos combates seja prorrogada mais uma vez. No acordo inicial, uma cláusula tornava possível a extensão do cessar-fogo por até dez dias se o Hamas mantivesse a promessa de liberar reféns diariamente. O grupo radical divulgou nesta quarta-feira que estaria disposto a manter o cessar-fogo.

O Estado de Israel declarou guerra ao Hamas após um ataque do grupo fundamentalista islâmico em 7 de outubro que envolveu o disparo de mais de 4 mil foguetes e a infiltração de cerca de 3 mil combatentes que mataram cerca de 1,2 mil pessoas e sequestraram mais de 240 em comunidades próximas da Faixa de Gaza, de acordo com números do governo israelense.

Desde então, as forças aéreas, navais e terrestres israelenses atacaram o enclave palestino, onde mais de 15 mil pessoas foram mortas, segundo autoridades locais, e estima-se que cerca de 7 mil pessoas estejam desaparecidas sob escombros.

Bebê de 10 meses entre os reféns

Entre os reféns do Hamas na Faixa de Gaza estaria um bebê israelense de 10 meses, sequestrado junto com o irmão e os pais. Os familiares da criança apelaram nesta terça-feira para que ele fosse liberto, mas o bebê não estava entre os israelenses entregues à Cruz Vermelha.

Ofri Bibas, tio do bebê, queixou-se que “todas as outras crianças já foram libertas” e que o seu sobrinho, que tinha nove meses quando foi raptado, é o refém mais jovem retido pelo Hamas.

Um porta-voz do Exército israelense, Avichai Andraee, disse que a família foi sequestrada no kibutz Nir Oz. Depois, a família teria sido transferida para outro grupo armado palestino, que a mantém cativa numa área de Khan Yunis, cidade do sul da Faixa de Gaza.

“Não sabemos onde estão detidos [os membros da família]. Estão sendo mantidos no subterrâneo. Não há muita comida para bebês e, por tudo isso, estamos muito preocupados”, alegou Ofri Bibas.

Fuga para o Sul

A ONU vem alertando nos últimos dias para a situação gravíssima na Faixa de Gaza. A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) anunciou o envio de ajuda humanitária aos civis que ainda permanecem em Jabalia, no norte do território, em condições dramáticas.

Um comboio de seis caminhões com ajuda “muito necessária” chegou na segunda-feira aos abrigos da UNRWA em Jabalia.

“A zona estava sem assistência há quase 50 dias”, declarou o diretor da UNRWA em Gaza, Thomas White, que afirmou que o impacto dos ataques aéreos “complica a distribuição da ajuda”.

“Uma confusão de escombros, metal retorcido e chapas de ferro espalhadas por todo o lado. Quando passamos de carro pela cidade de Gaza, parecia uma cidade-fantasma, todas as ruas estavam desertas. As estradas estão cheias de crateras”, disse Thomas White em comunicado.

Segundo ele, mais de 70% da população de Gaza foi deslocada pela guerra e mais de um milhão de pessoas estão atualmente em abrigos da UNRWA, sendo 100 mil delas em abrigos no norte.

O cessar-fogo também é uma oportunidade de pessoas do norte do enclave palestino para se deslocarem para sul, no meio de condições meteorológicas difíceis.

“Devido às fortes chuvas, vimos pessoas cobertas de lama, carregando o que podiam. Uma jovem mãe caminhava ao longo da sarjeta com as suas duas filhas pequenas, ambas chorando. Uma das meninas segurava um dos seus sapatos enlameados. Vimos homens jovens, mulheres, crianças, idosos. Algumas pessoas empurradas em cadeiras de rodas”, disse White.

Fila de três horas para ir ao banheiro

O porta-voz da Unicef, James Elder, disse que há filas de até três horas para usar um banheiro ou conseguir gás para cozinhar no sul da Faixa de Gaza, para onde se deslocou quase toda a população do enclave palestino.

“Vi filas de mais de um quilômetro de pessoas na chuva esperando para conseguir gás de cozinha e metade delas teve que voltar para casa de mãos vazias”, declarou Elder.

Em seu depoimento, ele destacou que a situação é “muito pior do que se imaginava”, especialmente no sul, onde há mais de 1,8 milhão de pessoas deslocadas que quase não receberam ajuda em mais de seis semanas de hostilidades.

“É possível ver a devastação, o trauma e o estresse nos rostos atordoados das pessoas, especialmente das crianças”, relatou.

Elder argumentou que um cessar-fogo permanente é “fundamental para o futuro das crianças da Faixa de Gaza que sobreviverão a essa guerra e que ficaram órfãs, traumatizadas e têm condições de vida atuais que não são adequadas para sua recuperação”.

“Conversei com um menino de sete anos que havia perdido o pai, a mãe e o irmão gêmeo e perguntei à tia dele ‘por que ele fecha os olhos quando fala?' e ela disse: ‘Ele tem tanto medo de esquecer como eram seus pais e seu irmão que fecha os olhos para não perdê-los em sua mente, como aconteceu na vida real'”, contou.

Mortes na Cisjordânia

Durante a trégua em Gaza, dois adolescentes palestinos foram mortos na terça-feira durante confrontos com o exército israelense na Cisjordânia, indicou o Ministério da Saúde da Autoridade Nacional Palestina (ANP).

Um adolescente de 14 anos foi morto em Tubas, norte da Cisjordânia, e um segundo, de 17 anos, perto de Ramallah, onde se situa a sede da ANP.

Testemunhas citadas pela agência de notícias AFP indicaram que em Tubas diversos jovens lançaram pedras em direção aos veículos militares israelenses, e os soldados responderam com armas de fogo. O exército israelense disse que a incursão se destinava a “prender dois suspeitos procurados”.

“Homens armados dispararam contra as forças de segurança, que responderam com balas reais”, segundo a versão dos militares, citada pelas agências internacionais.

Perto de Ramallah, o exército israelense entrou numa localidade para proceder a buscas, originando protestos da população local, com testemunhas afirmando que o adolescente de 17 anos foi atingido por quatro balas.

Na noite de segunda para terça-feira, outro jovem palestino já tinha sido morto em Beitunia, onde desde sexta-feira centenas de pessoas se concentram todas as noites para receber os prisioneiros palestinos libertos.

Também diariamente, e na mesma zona, o exército israelense tem disparado granadas de gás lacrimogêneo e utilizado armas de fogo para dispersar as pessoas.

Desde 7 de outubro, quando teve início o atual conflito, mais de 230 palestinos já foram mortos na Cisjordânia por colonos e soldados israelenses, segundo o Ministério da Saúde da Autoridade Palestina.

le/bl (Lusa, EFE, ots)