Chefia do Parlamento decide suspender hasteamento da bandeira na sede do Legislativo durante o Dia do Orgulho. Chanceler federal alemão apoia decisão e afirma que sede do Legislativo “não é tenda de circo”.Prestes a entrar no recesso de verão, o Parlamento da Alemanha (Bundestag) tem sido palco de um debate acalorado envolvendo a exibição da bandeira do arco-íris, símbolo do movimento LGBT+.

O embate foi iniciado após uma decisão da presidente do Bundestag , a conservadora Julia Klöckner, de suspender o hasteamento dessa bandeira na fachada da sede do Parlamento durante o Dia do Orgulho. Nesta semana, foi a vez de o chanceler federal alemão, Friedrich Merz, turbinar a polêmica, ao concordar publicamente com a decisão de Klöckner e afirmar que a sede do Bundestag “não é uma tenda de circo”, atraindo críticas de aliados, opositores e grupos LGBT+.

Mudança de curso

No cargo há três meses, Klöckner anunciou semanas atrás que pretendia interromper uma medida iniciada por sua antecessora no cargo, que havia determinado o hasteamento da bandeira do arco-íris durante o Christopher Street Day (CSD), ou Dia do Orgulho, que será celebrado neste ano na Alemanha em 26 de julho.

O hasteamento na fachada do Reichstag, o nome do prédio que abriga o Parlamento, acontecia nesta data desde 2022 e à época foi anunciado como forma de validar o reconhecimento institucional da população LGBT+ no país durante a Parada do Orgulho de Berlim.

“Somos o Parlamento da Alemanha e aqui tremula apenas uma bandeira: a preta, vermelha e dourada”, disse Klöckner ao portal t-online no fim de junho, fazendo uma referência às cores da bandeira alemã.

“Ela representa tudo o que a nossa Constituição garante: liberdade, dignidade humana, e também o direito à autodeterminação sexual. Nenhuma outra bandeira está acima dela”, completou a parlamentar do partido conservador União Democrata Cristã (CDU), o mesmo do chanceler federal Merz.

Segundo ela, outros grupos também sofrem discriminação e querem visibilidade. “Os cristãos, por exemplo, são o grupo religioso mais perseguido do mundo. Então, nesse caso, eu também teria que hastear a bandeira do Vaticano em algum dia do ano”, afirmou.

Mesmo com a decisão, a bandeira LGBT+ ainda poderá ser hasteada um dia por ano no Reichstag: em 17 de maio, quando se comemora o Dia Internacional contra a Homofobia.

Merz apoia decisão

A decisão provocou protestos de ativistas dos direitos LGBT+, bem como de políticos da oposição e mesmo parlamentares da coalizão governista, da qual Klöckner faz parte.

Na quarta-feira (02/07), Friedrich Merz, também da CDU, disse que a descontinuação do hasteamento é correta porque o Bundestag “não é uma tenda de circo onde qualquer bandeira pode ser hasteada”.

Em uma entrevista à emissora ARD, Merz afirmou que a bandeira do arco-íris só poderá continuar a ser hasteada no Bundestag em 17 de maio. “Em todos os outros dias, a bandeira alemã e a bandeira europeia são hasteadas e nenhuma outra bandeira. E essa decisão é correta”, argumentou.

Associações e partidos criticam Merz

A fala de Merz foi rechaçada pelo partido Partido Social-Democrata(SPD), parceiro de coalizão de Merz, além de siglas oposicionistas como os Verdes, A Esquerda e associações LGBT+.

A LSVD, uma importante organização alemã de direitos humanos, acusou Merz de insultar a comunidade LGBT+. “A bandeira do arco-íris não é um item de circo, mas um símbolo universal de diversidade e direitos humanos”, disse o membro da diretoria Andre Lehmann à emissora ZDF.

“Gostaria de lembrar ao chanceler que ele está falando de um grupo que foi perseguido pelos nazistas”, completou.

Sophie Koch, comissária do governo para assuntos LGBT+, disse que hastear a bandeira durante a marcha do orgulho de Berlim teria representado “um poderoso compromisso do Estado” com a proteção dos direitos LGBT+.
“Uma compreensão disso seria apropriada para um chanceler federal”, disse ela, que é filiada ao SPD. “Se a bandeira do arco-íris é a bandeira de uma tenda de circo, o que são as pessoas LGBTQIA+?”, questionou em entrevista ao portal de notícias heute.de.

O líder da bancada do SPD, Matthias Miersch, disse acreditar que os ministérios comandados pelo partido continuarão apoiando as pautas defendidas pelo Christopher Street Day.

Debate latente na Alemanha

A bandeira do arco-íris foi adotada nos anos 1970 como símbolo do movimento LGBT+. Hoje, ela representa a luta por direitos de várias minorias sexuais, inclusive com novas versões contendo mais cores. Na última quinta-feira, parlamentares dos partidos Verde e A Esquerda foram ao plenário vestidos com roupas nas cores do arco-íris, em apoio à Parada do Orgulho e em meio a um debate sobre crimes de ódio contra pessoas LGBT+.

Como a DW mostrou, grupos LGBT+ pressionam o governo para incluir na Constituição a proibição de discriminar alguém por sua orientação sexual, algo que não está explícito na Lei Fundamental alemã.

A polêmica acontece sob um posicionamento mais amplo da gestão de gestão de Klöckner para vetar a vinculação oficial da causa LGBT+ no parlamento.

Ela também proibiu, por exemplo, funcionários do Bundestag de participarem da Parada LGBT+ como representantes oficiais do Legislativo.”Cada pessoa tem liberdade de participar, individualmente, de manifestações por causas políticas, desde que respeitem a Constituição. Mas não em nome de todo o Bundestag”, defendeu.

gq (ART, DPA, NKA)