03/07/2019 - 15:46
Se você tem fobia de barata, talvez seja melhor nem ler este texto. Um estudo da Universidade Purdue (EUA) encontrou evidências de que baratas da espécie Blattella germanica L., comuns no mundo todo, estão se tornando mais difíceis de eliminar à medida que desenvolvem resistência cruzada aos melhores inseticidas.
O problema é especialmente prevalente em áreas urbanas e em moradias de baixa renda, onde os recursos para combater efetivamente as pragas não estão disponíveis.
As baratas são graves ameaças à saúde humana. Elas carregam dezenas de tipos de bactérias, como a E. coli e a salmonela, que podem causar doenças nos seres humanos.
Sua saliva, fezes e partes do corpo que elas deixam para trás podem não apenas desencadear alergias e asma, mas inclusive causar essas condições em algumas crianças.
O estudo, liderado por Michael Scharf, professor do departamento de entomologia da Purdue, foi publicado na revista Scientific Reports.
“Baratas que desenvolvem resistência a múltiplas classes de inseticidas de uma só vez tornarão o controle dessas pragas quase impossível apenas com produtos químicos”, diz Scharf.
Cada classe de inseticida funciona de maneira diferente para matar baratas. Geralmente as empresas de dedetização usam uma mistura de múltiplas classes ou mudam de classes de tratamento para tratamento. A esperança é que, mesmo que uma pequena porcentagem de baratas seja resistente a uma classe, os inseticidas de outras classes as eliminarão.
Scharf e os co-autores do estudo decidiram testar esses métodos em edifícios de várias unidades em Indiana e Illinois (EUA) ao longo de seis meses. Em um dos tratamentos, três inseticidas de diferentes classes foram rotacionados para uso a cada mês durante três meses e depois repetidos.
No segundo mês, eles usaram uma mistura de dois inseticidas de diferentes classes durante seis meses. No terceiro, eles escolheram um inseticida para o qual as baratas tinham baixa resistência inicial e usaram o tempo todo.
Em cada local, as baratas foram capturadas antes do estudo e testadas em laboratório para determinar os inseticidas mais eficazes para cada tratamento, para estabelecer quais seriam os melhores resultados possíveis.
“Se você tem a possibilidade de testar as baratas primeiro e escolher um inseticida que tenha baixa resistência, isso aumenta as chances”, disse Scharf. “Mas, mesmo assim, tivemos problemas para controlar as populações”, afirmou.
Rotacionando três inseticidas, os pesquisadores conseguiram manter as populações de baratas por um período de seis meses, mas não conseguiram reduzi-las. A mistura de dois inseticidas não funcionou e as populações de baratas floresceram.
Em um dos experimentos com um único inseticida, Scharf e seus colegas descobriram que havia pouca resistência inicial ao inseticida escolhido, e conseguiram praticamente eliminar a população de baratas. No outro, havia cerca de 10% de resistência inicial. Nesse experimento, as populações cresceram.
Em testes de laboratório posteriores das baratas restantes, Scharf e a equipe descobriram que a resistência cruzada provavelmente desempenhou um papel significativo. Uma certa porcentagem de baratas seria resistente a uma determinada classe de pesticidas.
Aqueles que sobreviveram a um tratamento e seus descendentes seriam essencialmente imunes a esse inseticida daqui para frente. Mas eles também ganharam resistência a outras classes de inseticidas, mesmo que não tivessem sido expostos a eles e não tivessem resistência anterior.
“Veríamos a resistência aumentar quatro ou seis vezes em apenas uma geração”, disse Scharf. “Não tínhamos a menor ideia de que algo assim poderia acontecer tão rápido”.
As baratas do sexo feminino têm um ciclo reprodutivo de três meses, durante o qual podem ter até 50 descendentes. Se até mesmo uma pequena porcentagem de baratas é resistente a um inseticida, e essas baratas ganham resistência cruzada, uma população abatida por um único tratamento pode explodir novamente dentro de alguns meses.
É por isso que uma abordagem integrada de manejo de pragas é fundamental, disse Scharf. Ele recomenda combinar tratamentos químicos com armadilhas, saneamento melhorado e aspiradores que possam remover baratas.
“Alguns desses métodos são mais caros do que usar apenas inseticidas, mas se esses inseticidas não controlam ou eliminam uma população, você está apenas jogando dinheiro fora”, disse Scharf. “Combinar vários métodos será a maneira mais eficaz de eliminar baratas”.