30/10/2017 - 8:05
O convívio e a interação entre raças é um assunto que tem despertado interesse crescente em um mundo agitado hoje pela questão migratória. Nos Estados Unidos, muitas escolas públicas trabalharam nos últimos anos de forma dúbia no que tange a uma verdadeira integração – embora aceitassem alunos de diferentes raças, a formação das classes não demonstrava essa mistura. Um amplo estudo da Universidade da Califórnia em Los Angeles, “When and How Do Students Benefit From Ethnic Diversity in Middle School?” (em tradução livre, “Quando e Como os Estudantes se Beneficiam da Diversidade Étnica nos Últimos Quatro Anos do Ensino Fundamental?”) –, publicado em junho na revista Child Development, mostra que a interação entre raças diferentes no ambiente escolar traz benefícios para estudantes de todas as etnias.
A professora de psicologia Jaana Juvonen e seus colegas avaliaram 4.302 alunos em 26 escolas do sul da Califórnia, uma das regiões mais diversas dos EUA. O grupo de estudantes era formado por 41% de latinos, 26% de brancos, 18% de asiáticos, 15% de afro-americanos e uma pequena fração de adolescentes originários de ilhas do Pacífico, Oriente Médio e outras partes do mundo. A diferença entre os estudos anteriores e este foi a análise da diversidade escolar levando-se em consideração também a formação das classes.
Por meio de diversas pesquisas, Jaana e sua equipe avaliaram os alunos do sexto ano em três domínios emocionais distintos: sentimentos de segurança na escola; bullying e exclusão social; e solidão. Eles também investigaram a percepção dos alunos em relação a tratamento justo e igualitário por parte dos professores, além de verificar quanto os estudantes queriam associar-se a um colega de raça diferente nas atividades esportivas, na mesa de almoço, no transporte escolar e assim por diante. Fatores como renda familiar e educação dos pais foram controlados no estudo.
Equilíbrio bem-vindo
No cômputo geral, os alunos que gostaram da maior diversidade em suas salas de aula ao longo do dia também obtiveram as melhores marcas em cada um dos domínios emocionais mencionados. Ou seja: à medida que as salas de aula se tornavam mais equilibradas racialmente, os estudantes se sentiam mais seguros, menos intimidados e menos solitários. Eles também tendiam a considerar os professores como justos e buscavam, em vez de evitar, interações interraciais na escola.
A sensação dos benefícios trazidos pela diversidade foi generalizada, mas alguns grupos a perceberam em níveis diferentes. Na comparação com os brancos, por exemplo, os estudantes afro-americanos e latinos se sentiram mais seguros na escola e menos solitários do que os colegas em classes menos diversas. Mas eles apresentaram tendência maior a se sentir vitimados por outros alunos (os pesquisadores não conseguiram detectar quem fazia as provocações e o bullying). Os estudantes negros e latinos também reportaram menos chances de perceber a justeza dos professores do que seus colegas brancos.
O estudo de Jaana e sua equipe mostra que a diversidade dentro da classe de aula tem um impacto mais forte sobre a justeza e as amizades interraciais do que a diversidade escolar. As escolas segregadas internamente – mesmo que a distância pareçam integradas – podem de fato registrar mais tensão interracial e sentimentos de injustiça, pois enquanto determinados grupos acabam sendo direcionados para classes de superdotados, outros recebem uma educação mais corretiva (aquela na qual a correção de erros pressupõe uma ordem anterior à desordem evidenciada pelo erro). Isso tem uma implicação prática para educadores e políticas educacionais. “Pode não ser suficiente concentrar-se na diversidade escolar”, afirmam Jaana e seus colegas no estudo. Tão importante quanto isso é garantir que as salas de aula sejam elas próprias diversas. Os frutos dessa convivência, como se vê, trazem bons dividendos para todos.