Uma viagem a Berlim deve considerar uma palavra em alemão pouco conhecida da maioria dos visitantes: fahrrad. Além de danke schoen e auf wiedersehen (“muito obrigado” e “até breve”) acrescente o termo que identifica uma mania berlinense: bicicleta. Você também pode se referir à “magrela” como bike ou bicycle, em inglês, mas é bom aprender a palavra que funciona como um passaporte. Em Berlim, a bicicleta é uma mania tanto para berlinenses quanto para turistas – o veículo ideal para quem quer conhecer a cidade com liberdade, de maneira saudável e alternativa.

 

Plana e superplanejada, Berlim esbanja quilometragem de ciclovias: são cerca de 700 quilômetros de pistas. São Paulo, para comparar, dispõe de 30 quilômetros. A capital alemã é um exemplo de civilidade quando o tema é locomoção. Além do metrô e dos ônibus, que oferecem muitas linhas e pontualidade britânica, ou, melhor, germânica, as bicicletas viraram um símbolo contemporâneo. Conhecer Berlim de bicicleta é um empreendimento seguro, ecológico e divertido.

Museu de História Natural

O passeio pode começar no centro da cidade, próximo ao Reichstag, a sede do parlamento alemão, e ao Portão de Brandemburgo, o miolo da capital, onde há muitas lojas de aluguel de bicicletas. Dali, o primeiro roteiro é um passeio pelo jardim defronte ao parlamento, que chama a atenção pela imponência. Depois de ser destruído em fevereiro de 1933 por um incêndio criminoso atribuído por Adolf Hitler aos comunistas – cuja repercussão permitiu que os nazistas tomassem o poder em março daquele ano –, o edifício foi redesenhado e reinaugurado, em 1999, pelo arquiteto britânico Norman Foster. Em vez de uma massa de concreto, a cúpula virou uma estrutura de metal, vidro e espelhos totalmente transparente, com rampas circulares que permitem aos visitantes uma visão de toda a cidade.

Vale entrar para conhecê-lo e visitar os jardins lotados de artistas de rua, crianças, famílias, turistas e ciclistas. Se você resolver entrar, procure um local para trancar a bike – eles estão disponíveis por todo canto. Do alto da cúpula do Reichstag é possível ver o prédio da Chancelaria, a Coluna da Vitória, construída em 1873 para comemorar as vitórias prussianas, e parte do traçado do belo Rio Spree, que corta toda Berlim.

Vale entrar para conhecê-lo e visitar os jardins lotados de artistas de rua, crianças, famílias, turistas e ciclistas. Se você resolver entrar, procure um local para trancar a bike – eles estão disponíveis por todo canto. Do alto da cúpula do Reichstag é possível ver o prédio da Chancelaria, a Coluna da Vitória, construída em 1873 para comemorar as vitórias prussianas, e parte do traçado do belo Rio Spree, que corta toda Berlim.

A poucas pedaladas dali está o Portão de A poucas pedaladas dali está o Portão de Brandemburgo, construído em 1791, em estilo neoclássico, pelo arquiteto Carl Gotthard Langhans (1732-1808), já atravessado pelas tropas de Napoleão que invadiram a cidade em 1806. O monumento nos leva à maior marca histórica da cidade, fixada no imaginário global: aqui começou, em 1989, a queda do Muro de Berlim, transmitida ao vivo para todo o mundo pela televisão. Também conhecida como Muro da Vergonha, a parede de concreto, com 67 km de extensão, grades metálicas, 302 torres de observação e pistas para cães de guarda, foi construída em 1961, do dia para a noite, pela comunista República Democrática da Alemanha. Circundava toda a Berlim Ocidental, isolando-a e separando-a do restante da cidade e da Alemanha Oriental. Oficialmente, 80 pessoas morreram, 112 ficaram feridas e milhares foram presas tentando atravessá-lo clandestinamente afim de fugir para o Ocidente. No auge da Guerra Fria, a construção dividia o país, as vidas e as ideologias dos alemães.

 

Altar de Pergamon

Embora não exista mais muro no centro, em muitos pontos é possível seguir de bicicleta ao seu lado, por centenas de metros. Trechos da parede foram deixados em pé para preservar a memória da divisão do país. Um local interessante é o Museu Checkpoint Charlie, antigo posto de fronteira do Exército dos Estados Unidos entre os dois lados, que exibe uma impressionante coleção de artefatos, aparelhos e métodos inventados pelos berlinenses para transpor o muro.

Também é possível passear de bicicleta por linhas traçadas no chão que indicam o antigo traçado do “Berliner Mauer 1961-1989”.

 

Se o ciclista sair do Portão de Brandemburgo em direção à Avenida Unten den Linden, uma das principais do centro, em poucas pedaladas estará diante da Catedral de Berlim, construída entre 1895 e 1905, e dos museus da Ilha dos Museus, no Rio Spree: o Pergamon, que hospeda o impressionante Altar de Pergamon, do século 2 a.C., extraído pedra por pedra da Grécia; o Museu Bode, com relíquias bizantinas; o Altes Museum (Museu Antigo), rico de obras gregas, romanas e etruscas; e a Altes Nationalgalerie (Antiga Galeria Nacional), com exposições de artes plásticas e esculturas – além de outros menores.

 

Memorial do Holocausto

Mais à frente, chega-se a uma concentração de contrastes arquitetônicos. Fundada no século 13, Berlim guarda traços das culturas romana, medieval, renascentista, moderna e socialista. Um exemplo da mistura pode ser visto próximo à Alexanderplatz, onde está a famosa Fernsehturm (Torre de Tevê), um gigante de 365 metros de altura, construído em 1969. Com desenho futurista, ela é visível de qualquer parte da cidade e impõe-se ao lado de edifícios seculares, como a Igreja de Santa Maria (de 1280) e a maciça Rotes Rathaus, antiga prefeitura da cidade, com tijolos vermelhos aparentes, construída entre 1861 e 1869.

Arquitetura moderna

Se a bike levar para o lado oposto da Avenida Unten den Linden, outra viagem arquitetônica aguarda o ciclista. Em algumas quadras surge um vasto espaço coberto por 2.700 blocos sóbrios e irregulares de granito escuro, sugerindo lápides. Trata-se do Memorial às Vítimas do Holocausto, construído em 2005 e projetado pelo arquiteto Peter Eisemann para lembrar os milhões de vítimas do nazismo. Local para encostar a bicicleta e refletir.

Mais adiante há outra atração, a Neue Nationalgalerie (Nova Galeria Nacional), projetada pelo arquiteto Mies Van der Rohe com as linhas modernistas da Bauhaus, a escola arquitetônica que influenciou o mundo todo. A galeria abriga uma coleção de arte com obras de Pablo Picasso, Salvador Dalí e Max Ernst. Seu traçado arrojado se destaca na paisagem urbana e contrasta com a vizinha Igreja de São Mateus, construída no século 19 e inspirada nos templos da Itália romanesca.

 

Mais adiante há outra atração, a Neue Nationalgalerie (Nova Galeria Nacional), projetada pelo arquiteto Mies Van der Rohe com as linhas modernistas da Bauhaus, a escola arquitetônica que influenciou o mundo todo. A galeria abriga uma coleção de arte com obras de Pablo Picasso, Salvador Dalí e Max Ernst. Seu traçado arrojado se destaca na paisagem urbana e contrasta com a vizinha Igreja de São Mateus, construída no século 19 e inspirada nos templos da Itália romanesca.

O prédio mostra os preceitos estéticos da escola, as formas geométricas criativas e os espaços internos funcionais. É uma das mais belas e representativas obras do movimento. O projeto original, de 1964, foi erguido em 1971, quando o arquivo foi transferido para Berlim, após a morte de Gropius. O edifício foi readaptado pelo arquiteto norte-americano Alexander Cvijanovic para ocupar uma área nobre do bairro de Tiergarten.

 

Mais uma esticada e chega-se a outro marco arquitetônico e histórico, a Igreja Kaiser-Wilhelm- Gedächtnis, famosa por sua reconstrução nada convencional. Após ter sido bombardeada em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, suas ruínas foram removidas, mas uma das torres foi deixada em pé, parcialmente destruída, como símbolo da guerra. No interior, foram mantidas rachaduras em mosaicos e buracos de balas nas paredes. É como se a cidade deixasse uma parte de suas feridas aberta. Um templo anexo em formato octagonal, exibe um belo altar circundado por vitrais azuis.

Estamos bem perto do Tiergarten, o mais antigo parque de Berlim, do século 16, que abriga o imperdível Zoológico de Berlim, com sua impressionante coleção de animais. Visite a ala da fauna subterrânea e prepare-se para surpresas. A grande área verde do Tiergarten pode ser o final da jornada, em meio às ár vores e à natureza que os berlinenses tanto apreciam. O parque possui pontes seculares, trilhas e caminhos margeando riachos. Da manhã à tarde, é frequentado por visitantes e berlinenses, em busca de esportes. Se o ciclista quiser, pode começar seu passeio por aqui. A bicicleta, símbolo de liberdade, nos leva aonde quisermos.