24/05/2021 - 10:04
Um novo estudo mostra que a taxa atual de declínio da biodiversidade nos ecossistemas de água doce supera aquela da extinção do fim do Cretáceo que matou os dinossauros. Os danos que agora estão sendo feitos em décadas ou séculos podem levar milhões de anos para ser desfeitos.
A atual crise da biodiversidade, muitas vezes chamada de 6ª extinção em massa, é um dos desafios críticos que enfrentamos no século 21. Numerosas espécies estão ameaçadas de extinção, principalmente como uma consequência direta ou indireta do impacto humano. Destruição de habitat, mudança climática, superexploração, poluição e espécies invasoras estão entre as principais causas do rápido declínio da biota da Terra.
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Para investigar o ritmo da extinção e prever os tempos de recuperação, uma equipe internacional de biólogos evolucionistas, paleontólogos, geólogos e modeladores liderados pela Universidade de Giessen (Justus Liebig University, em Giessen, Alemanha) comparou a crise de hoje com o quinto evento de extinção em massa anterior. Esse evento foi o resultado de um impacto de asteroide 66 milhões de anos atrás, que erradicou cerca de 76% de todas as espécies do planeta, incluindo grupos de animais inteiros, como os dinossauros. O trabalho foi publicado na revista Communications Earth & Environment.
Resultados alarmantes
Concentrando-se na biota de água doce, que está entre as mais ameaçadas do mundo, a equipe de pesquisa reuniu um grande conjunto de dados contendo 3.387 fósseis e espécies vivas de caramujos da Europa cobrindo os últimos 200 milhões de anos. Os cientistas estimaram as taxas de especiação e extinção para avaliar a velocidade com que as espécies vêm e vão e prever os tempos de recuperação.
Os resultados do estudo são alarmantes. Embora a taxa de extinção durante a 5ª extinção em massa tenha sido consideravelmente maior do que se acreditava anteriormente para a biota de água doce, ela é drasticamente ofuscada pela taxa de extinção futura prevista do 6º evento de extinção em massa atual. Em média, a taxa prevista era três ordens de magnitudes mais alta do que durante o tempo em que os dinossauros foram extintos. Já em 2120, um terço das espécies vivas de água doce pode ter desaparecido.
O ritmo com que perdemos espécies hoje não tem precedentes e nem mesmo foi alcançado durante grandes crises de extinção no passado. “A perda de espécies acarreta mudanças nas comunidades de espécies e, em longo prazo, isso afeta ecossistemas inteiros. Contamos com ambientes de água doce em funcionamento para sustentar a saúde humana, a nutrição e o abastecimento de água doce”, disse o principal autor do estudo, dr. Thomas A. Neubauer.
Efeitos prolongados
A tendência que os cientistas revelaram para o quinto evento de extinção em massa tem outra perspectiva potencialmente ainda mais terrível para o futuro. Embora a causa da extinção crescente – um impacto de asteroide na Península de Yucatán, no México – tenha sido um evento curto em escalas de tempo geológicas, a taxa de extinção permaneceu alta por aproximadamente 5 milhões de anos. Depois, seguiu-se um período de recuperação ainda mais longo. Levou quase 12 milhões de anos até que o equilíbrio entre as espécies originadas e extintas fosse restaurado.
“Mesmo que nosso impacto sobre a biota mundial pare hoje, a taxa de extinção provavelmente permanecerá alta por um longo período de tempo. Considerando que a atual crise da biodiversidade avança muito mais rapidamente do que a extinção em massa há 66 milhões de anos, o período de recuperação pode ser ainda maior”, disse Neubauer. “Apesar de nossa curta existência na Terra, garantimos que os efeitos de nossas ações vão durar milhões de anos.”