23/10/2019 - 7:45
As barreiras de contenção instaladas em parte do litoral do Nordeste brasileiro para tentar conter o avanço da mancha de óleo de origem desconhecida que atingiu várias localidades dos nove estados da região não são eficazes para este fim. Segundo o presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Eduardo Fortunato Bim, e a consultora ambiental da Petrobras Margareth Bilhalva, as boias cedidas pela empresa não são adequadas para evitar que o produto continue se espalhando e poluindo a região costeira.
“Importante frisar que esse óleo [que atingiu o Nordeste] é muito diferente do que é produzido no país. As nossas barreiras existem para proteção em caso de acidente com óleo nacional, que tem característica muito diversa [das propriedades] deste que está sendo encontrado, que é muito pesado e não [se espalha] sobre a superfície, mas sim sob a superfície”, afirmou Margareth durante audiência pública realizada na terça-feira (22 de outubro) pela Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados.
“O fato é que, muitas vezes, esse óleo [de origem desconhecida] pode passar por baixo das barreiras”, acrescentou Margareth, reforçando que as barreiras de contenção pertencentes à Petrobras foram adquiridas para uso em eventuais derramamentos de óleo da própria empresa.
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Também presente à audiência pública, o presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim, corroborou as declarações da representante da Petrobras. “Sei que há uma certa ansiedade para uma estratégia, mas não dá para barrar essa expansão do óleo. Tecnicamente, as barreiras [da Petrobras] não são as recomendáveis para uso com esse tipo de óleo. Estamos usando barreiras? Usamos, mas não existe uma solução de embarreiramento massiva. Tecnicamente, essa solução não se sustenta”, afirmou Bim.
Monitoramento e coleta
Ele defendeu o monitoramento e a coleta do material já no litoral como o método mais efetivo para recolher toda a substância poluente. “Com o passar do tempo, ficou claro que a melhor maneira de lidar com uma mancha errática, não rastreável, e cujo comportamento é totalmente aleatório, é o monitoramento contínuo e tomar as medidas de prevenção que podemos adotar”, acrescentou o presidente do Ibama.
Segundo Bim, até o dia 21 de outubro, mais de 900 toneladas de material contaminado já haviam sido recolhidas ao longo do litoral de Alagoas, da Bahia, do Ceará, do Maranhão, da Paraíba, de Pernambuco, do Piauí, do Rio Grande do Norte e de Sergipe. Para ele, seria precipitado afirmar que o problema está controlado ou mesmo que o material contaminante está perto do fim.
“Não tenho nenhuma informação de que o aparecimento do óleo está declinando [diminuindo]”, disse Bim. “Não sabemos se o aparecimento das manchas de óleo está em uma ascendente ou em uma descendente. Logo, manifestações do tipo ‘ah, está acabando’, ou ‘está começando’ não são fundadas em nenhuma base técnica”, frisou o presidente do Ibama, antes de destacar a importância de as autoridades públicas identificarem a origem do óleo.
As autoridades trabalham com três hipóteses para explicar como a mancha de petróleo cru chegou ao litoral brasileiro: o produto vazou quando era transferido de uma embarcação para outra, por algum motivo desconhecido; ou um navio que transportava o óleo naufragou sem deixar registros (o que levanta a possibilidade de se tratar de um “navio fantasma”, ou seja, um navio irregular, não registrado, e que navega com o sinalizador desligado para não ser identificado); ou um derramamento de óleo.
Além disso, análises sugerem que o material começou a se espalhar pelo litoral brasileiro a partir de águas internacionais.