23/11/2025 - 15:15
Em audiência de custódia, ex-presidente afirmou que combinação de remédios o levou a acreditar que a tornozeleira tinha uma escuta. Antes, havia alegado que o dano ocorreu ao bater em uma escada.O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou neste domingo (23/11) que tentou queimar sua tornozeleira eletrônica durante a noite de sexta-feira após ter uma “certa paranoia” de que o equipamento continha uma escuta. Ele alegou ainda que uma combinação inadequada de medicamentos teria causado o “surto” que o fez aplicar um ferro de solda ao dispositivo.
O depoimento foi dado à juíza Luciana Yuki Fugishita Sorrentino, auxiliar do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), durante audiência de custódia. O procedimento é obrigatório a todas as pessoas que são presas e serve para verificar se houve irregularidades no momento da prisão e checar a integridade física e psicológica da pessoa detida. Após a sessão, a prisão foi mantida.
A violação da tornozeleira foi inicialmente identificada pela Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape) durante a madrugada do último sábado, e citada como justificativa por Moraes para decretar a prisão preventiva de Bolsonaro.
Em sua audiência de custódia, Bolsonaro foi indagado sobre o motivo de ter tentado queimar o dispositivo. “O depoente respondeu que teve uma “certa paranoia” de sexta para sábado em razão de medicamentos que tem tomado receitados por médicos diferentes e que interagiram de forma inadequada (Pregabalina e Sertralina)”, diz o termo lavrado pela Justiça.
Na ocasião, o ex-presidente também alegou que estava com “alucinação de que havia uma escuta na tornozeleira”, tentando então abrir a tampa do dispositivo.
Segundo ele, os remédios que teriam causado tal confusão mental começaram a ser tomados cerca de quatro dias antes da prisão. O cloridrato de sertralina é utilizado como princípio ativo em alguns antidepressivos e a pregabalina é comumente prescrita para tratamento de ansiedade.
“Afirmou o depoente que, por volta de meia-noite, mexeu na tornozeleira, depois ‘caindo na razão’ e cessando o uso da solda”, continua a ata. Bolsonaro teria afirmado que ninguém em sua casa (sua filha, seu irmão mais velho e um assessor) percebeu a movimentação.
O ex-presidente ainda justificou que tem o sono “picado” e possui curso para operar a solda. Ele negou que havia intenção de fuga.
Em vídeo divulgado pelo STF no sábado, porém, Bolsonaro apresenta outra justificativa a agentes de custódia que foram averiguar a tornozeleira eletrônica durante a madrugada, após serem alertados de uma suposta violação.
Segundo um documento produzido pela Seape, primeiro o ex-presidente afirmou que bateu o equipamento em uma escada, e por isso ele havia sido danificado. Após uma agente identificar que a avaria se tratava da aplicação de uma fonte de calor, Bolsonaro afirmou que “meteu ferro quente” por “curiosidade”.
Bolsonaro diz que vigília não facilitaria fuga
Na audiência de custódia, Bolsonaro também se manifestou sobre a justificativa apresentada para seu pedido de prisão. Além da avaria identificada na tornozeleira, Moraes cita a convocação de uma vigília pelo senador Flávio Bolsonaro próxima ao condomínio onde mora o ex-presidente. O magistrado entendeu que havia risco de fuga, ameaça à ordem pública e eventual possibilidade de atrapalhar ação da Polícia Federal.
Em resposta, Bolsonaro disse que o local da vigília fica a 700 metros da sua casa, “não havendo possibilidade de criar qualquer tumulto que pudesse facilitar hipotética fuga”.
A juíza auxiliar manteve a prisão preventiva, após ser relatado que não houve abuso ou irregularidades por parte dos policiais. Em sua liminar, Moraes pediu que a prisão ocorresse “com todo respeito à dignidade” de Bolsonaro e sem o uso de algemas.
Na segunda-feira, a Primeira Turma avaliará se mantém a decisão de Moraes. A defesa de Bolsonaro afirma que sua detenção na sede da PF acarretaria riscos à sua vida, devido a problemas de saúde. Os advogados podem entrar com recurso contra a decisão.
gq (OTS)
