21/02/2019 - 14:30
Nesses 47 dias de novo governo federal, 54 novos agrotóxicos já foram autorizados, denuncia em seu blog o jornalista ambiental André Trigueiro. Reforçando assim, o caminho percorrido pelo Brasil – na contramão dos países desenvolvidos – para se tornar um paraíso do setor químico com 2.123 agrotóxicos licenciados até o momento.
Esse processo foi facilitado após a aprovação do PL 6299/2002 – conhecido como “Pacote do Veneno” – em uma comissão especial do Congresso no ano passado. O que, na prática, reduziu drasticamente as atribuições do Ibama (meio ambiente) e da Anvisa (saúde) no processo de licenciamento desses produtos.
Segundo Trigueiro, o Ministério da Agricultura alega que todos os ingredientes já eram comercializados no Brasil, e que a novidade seria “a aplicação desses produtos em novas culturas, o sinal verde para que novos fabricantes possam comercializá-los, e que novas combinações químicas entre eles sejam permitidas.”
Parece pouco, mas isso dá ainda mais espaço para os vendedores desses produtos que, embora não tenham conhecimento técnico necessário para diagnóstico de problemas nas lavouras, prescrição de produtos a serem usados nem para dosagem dos mesmos, costumam definir tudo isso – e ainda receber comissão pelas vendas -, de acordo com uma fonte da Embrapa.
O resultado disso fica claro nas análises regulares feitas pela Fundação Oswaldo Cruz, ligado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 30 alimentos. “Em algumas amostras é possível encontrar até 15 princípios ativos de diferentes agrotóxicos, o que indica uma brutal desinformação do agricultor que está usando ‘bala de canhão para matar uma mosca’ “, aponta a coluna.
Outra prova clara de que esses químicos que vão parar na mesa de toda a população estão sendo mal utilizados está na pulverização de venenos por aviões. Protocolos básicos de segurança, como evitar a dispersão dos agrotóxicos em sobrevoos muito altos ou quando haja vento forte, não costumam ser respeitados. E as populações vizinhas a plantações acabam recebendo chuvas diretas dos produtos.
O jornalista ainda destaca que o uso exacerbado de veneno afeta também a vida das abelhas e de outros insetos responsáveis pela polinização de mais de 50 milhões de toneladas de produtos agrícolas. “Estima-se que o trabalho realizado de graça pelas abelhas tenha um valor econômico equivalente a 10% da produção agrícola mundial. Alguns cálculos dão conta de que a morte contínua das abelhas pode significar quase 50 bilhões de reais de prejuízos para a agricultura brasileira.”